sábado, 9 de julho de 2016

Capítulo 63- Só Mais Um Pouco.


   

      Duas horas dentro do avião e a única informação que me deram era que a cor da minha equipe é vermelha. Pelo canto do olho observo a agente Meson que analisa a planta do prédio que eles estão, a mesma  que Tia Sara expôs hoje mais cedo antes de sairmos, não deixo de perceber dois pontos coloridos dentro da planta um ponto em azul e outro em vermelho, ambos os estavam parados na parte inferior do desenho em 3D, nas minas.  

- Quais são as coordenadas do agente Persen ? - Pergunto baixinho e a agente Meson faz o desenho girar na tela do tablet.  

- Segundo o agente Becker ele está nas minas. - Responde Meson sem me encarar. 

- E o agente Brown ? - Pergunto sem rodeios.

- Fazendo companhia ao agente Persen. - Diz Meson me encarando, uma voz robótica soa nos auto-falantes do jato ao fundo. 

- Pousaremos em quatro minutos. - Avisa o piloto, fazendo os agentes desligarem os eletrônicos e arrumarem o cinto de segurança, quatro minutos para descermos e ainda não sei minha posição.

- Agente Meson ainda desconheço minha posição. - Digo por fim, já que ela é minha mentora provavelmente saberia de algo. 

- Jower tudo pronto ? - Pergunta a agente Roberts a alguém no telefone e tento ignorá-la, a agente Meson a encara e em seguida a mim.   

- Quando pousarmos setenta e sete pessoas incluindo você irão acompanhar a agente Roberts. - Diz Meson me encarando. 

- Para ? 

- Revisar as posições de cada agente durante o estouro do cativeiro. 

- Estamos pousando. - Avisa o piloto nos auto-falantes fazendo a agente Meson se arrumar na poltrona. 

- Aperte o cinto Richards, vamos pousar.  - Faço o que Meson sugere e me aquieto, assim que o jato começa a descer meus nervosos começam a aflorar, estou chegando senhor Brown. 

     Como da última vez um acampamento com grandes tendas de lona verde escura foram montadas, pareciam  grandes casas de lona, falta pouco para o anoitecer, as primeiras estrelas já estão a vista assim como os agentes armados circulando pelo acampamento. 

     Thalia me empurra para que eu saia da frente das escadas e dou espaço para ela passar, vejo-a seguindo os agentes Becker e Rian para uma tenda ao norte, a agente Meson se dirige para uma das as barracas centrais onde uma maca está sendo introduzida por dois enfermeiros, uma moça de cabelos curtos lhe trouxe o jaleco branco que ela coloca no mesmo instante. 

     Subo as escadas de volta e fico próximo a entrada do jatinho, onde é mais alto,  procuro o coque louro bem feito da agente Roberts pelo acampamento e a encontro indo em direção a tenda negra no lado oeste do acampamento,  a sigo com o olhar e a vejo entrando na tenda negra com o simbolo do GOECTI numa placa branca oval no centro da estrutura, deso as escadas apressada e corro pelas tendas até o destino de Roberts, tento controlar minha respiração quando finalmente chego.

    Com o braço afasto a lona que serve como porta e me deparo com uma grande mesa de ferro no final da tenda com uma única cadeira no centro e onde Roberts está sentada, em cima da mesa uma pequena luz amarela está estendida iluminando o local, dos dois lados do ambiente cadeiras dobráveis estão encostadas, o ambiente lembra um salão de festas vazio, entro na tenda e me aproximo da mesa principal. 


- Achei que tivesse se perdido pelo acampamento. - Diz a agente sem me encarar e observando atenta o que quer que esteja no notebook, a encaro e respiro fundo uma segunda vez. 

- Não me perdi. - Digo por fim.

- Pegue uma cadeira e sente-se, a reunião começará em três minutos. - Olho em volta, pego uma cadeira branca que estava encostada com as outras no lado esquerdo da tenda a armo de frente para a agente Roberts que não ergue a cabeça do notebook e espero os outros chegarem. 

     O que não demora muito. Aos poucos as cadeiras brancas vão sendo armadas em fileira de frente para a mesa da agente Roberts  que parece os ignorar, cinco minutos mais tarde a tenda está completamente cheia, pessoas em pé e umas poucas sentadas, por um breve instante me sinto feliz por ter chegado primeiro e conseguido pegar uma cadeira a tempo.

- Acho que já deu tempo para  todos os convidados chegarem a nossa última reunião antes da grande festa. - Diz a agente com um sorriso felino no rosto e encarando os agentes, um frio me sobe a espinha quando os olhos castanhos dela pousam em mim - Como lhes foi repassado - Diz sem se levantar - Esta é a última vez que discutiremos as posições de cada agente envolvido, primeiramente seguindo as ordens da comodante nem um agente sairá da base sem a máscara de proteção. - Ela aperta um botão no notebook que faz a área de trabalho do notebook dela refletir na lona negra a suas costas, a área de trabalho logo é substituída pela mesma planta que Meson estava analisando antes de pousarmos.  - Esta é a planta do prédio que visitaremos hoje - Ela se levanta e senta na mesa de ferro, do bolso traseiro retira uma caneta com laser verde fluorescente que ela aponta para a projeção na lona. - Os agentes infiltrados aguardarão  aqui - Com o laser verde da caneta dela aponta para os túneis subterrâneos, ah Otto...-  De acordo com as informações que nos passaram os jovens sairão de lá as oito e meia por isso entraremos as oito, fazer o ataque no momento de trabalho chamará menos atenção de quem está aqui. - Diz apontando o laser para a ala superior aos dormitório o escritório deles. - Os alvos estarão aqui quando entrarmos por isso começaremos pelas plantações, em duas horas agentes estarão camuflados nas plantações de trigo usando armas com silenciadores para calar os vigias e vocês suportes irão conter qualquer ato de alegria que esses jovens venham a produzir, será a nossa entrada até aqui. - Ela ponta para o túnel próximo a porta. - Nos levará até as minas e onde os outros estão. - Encaro o corredor que leva até a mina que Otto deve estar, parece ser longo e sem dúvidas estreito também. - Estará escuro e lanternas não serão usadas, os atiradores irão como escudo a frente de vocês usando óculos de visão notura,  nem um barulho será ouvido durante a entrada nas minas, são quinze túneis o que significa que se um chamar atenção um tsunami de sangue vai surgir e vai molhar a todos nós, os atiradores gostam de receber os créditos pelas missões mas sem os suportes silenciando e tirando as pessoas do prédio em silêncio só teríamos sangue e tiros, façam os trabalhos de vocês e mantenham aqueles moleques com a boca fechada até chegarem aqui. - A agente Roberts se levanta da mesa e caminha vagarosamente para a frente do móvel onde cruza os braços e encara as pessoas atrás de mim. - Temos dois agentes infiltrados, passaram três semanas com um alvo na cabeça e até agora não foram percebidos, não estraguem o esforço deles. 

- E quanto a distribuição de cores agente Roberts ? - Pergunta uma voz masculina ao meu lado, quando olho na direção de onde ela vinha vejo o agente Rian de pernas cruzadas enquanto encara sério a agente Roberts que lhe devolve o olhar. 

 - Os atiradores serão os primeiros a entrar, cada equipe contem três atiradores e cinco membros da inteligencia preparados para o trabalho, o resto se divide entre os suportes e agentes de operações especiais, quando estivermos no salão principal os agentes de cores frias seguirão pelo corredor e até as minas, as cores quentes se espalharão por entre os aposentos fazendo a retirada dos jovens que estiverem se apossando dos aposentos quando retirarem todos os agentes os usarão como base para evitar que qualquer um que esteja aqui - Ela aponta uma segunda vez para o escritório deles acima dos cativeiros. - Qualquer um que ousar abrir essa porta irá se deparar com agentes do GOECTI prontos para atirar, mas é claro que eles mortos não me valem de nada, espero que lembrem disso. - Diz desviando o olhar do agente Rian e encarando o grupo a sua frente.

- E como faremos para que um grupo tão grande não seja percebido enquanto se aproxima do cativeiro agente Roberts? - Pergunta o agente Becker que está em pé próximo a lona negra da cabana, por que os membros do conselho estão fazendo perguntas ? 


 - Formamos um cerco de dois quilômetros com veículos e agentes, cercamos a construção e as plantações agente, ninguém sai ou entra sem que percebamos, imobilizaremos qualquer criatura que tente fugir ou se aproxime do primeiro agente que estiver condido nos trigos, assim que as equipes quentes entraram no prédio e vasculharem o andar superior  levando para fora todos os jovens que encontrarem irão fazer os reforços para equipes frias nas minas abaixo. Certamente lá devem haver passagens secretas como no último cativeiro e eles nos levarão por essas passagens, bloquearemos qualquer acesso que dê para fora do prédio. 

- E as posições dos agentes dentro das equipes ? - Pergunta Thalia dessa vez, a vejo em pé ao lado do agente Becker. 

- As posições de cada agente já foram alocadas dentro dos grupos agente Farzone seguindo o mesmo padrão e funções de sempre, os suportes acalmarão e levarão para os caminhões, os  atiradores protegerão as equipes  e imobilizarão os suspeitos, os estrategistas da inteligencia guiarão o grupo dentro do prédio enquanto os agentes da segurança protegerão os suportes e as vítimas até os caminhões onde os motoristas estarão com os motores ligados para saírem assim a traseira estiver com dez pessoas, e eles não perderão tempo para tirá-los de lá. Cada grupo elegeu um representante, obedeçam as ordens de seu representante agentes, a noite será longa. Dispensados. - Os agentes fazem continência para a agente Roberts e se retiram, sigo-os para fora da tenda e sinto a brisa gelada contra meu rosto e tento me acalmar, vejo o rabo de cavalo de Thalia indo em direção as tendas do centro e a sigo, ela deve ser a eleita para dar as ordens no grupo vermelho sangue, caminho vagarosamente pelo escuro atá a tenda que Thalia entrou e tento não pensar no frio que se instalou na minha barriga. Falta pouco Otto. 

       Quando entro na tenda me deparo com outra sala de estar, um sofá espaçoso de couro marrom está de frente para a porta, um tapete caro foi estendido por todo ambiente e uma mesa grande está na lateral contendo garrafas de café, frutas e comida, um lustre potencialmente grande iluminava o ambiente .  

- Temos duas horas até o nosso caminhão sair, é melhor tirar um cochilo. 

- Não estou com sono. - Digo, se eu dormir ela me deixará.

- Isso é com você . -Thalia se senta no tapete caro em frente para a mesa de centro de madeira não muito grande onde alguns biscoitos estão e adentro na barraca, sento no sofá marrom atrás dela que abre o documento do word e começa a digitar. Duas horas. 


~---~---~---~---~---~---~---~---~---~---~---~---~---~---~---~---

- Então será hoje ? - Pergunta Charlie erguendo a picareta, os braços magros e cabelo grande que lhe cobre os olhos lhe dão um aspecto doente, o que ele certamente deve estar depois de anos confinado no escuro e na umidade. 

-Provavelmente.- Respondo. 

-E qual será o sinal ? 

-Não há sinal, esperamos eles chegarem.

-E como saberemos que chegaram ? 

- Eu não sei mas saberemos - Devagar me abaixo para pegar as pedras de carvão que Charlie acabou de arrancar da parede, são cinquenta pessoas trabalhando aqui e apenas uma passagem para saída onde um deles está, ao lado da saída mais dois estão armados observando os trabalhadores cansados e famintos de mais para estarem aqui, o estalar do chicote seguido pela ardência repentina me roubam os pensamentos, o encontro com o chão lamacento é inevitável. 

- Melhor agilizar verme ou será jogado para os urubus. - Grita o homem as minhas costas, forço-me a me erguer e voltar para próximo a Charlie que não ousa encará-lo e continua dando golpes contra a parede arrancado mais pedras de carvão, cada golpe que dava exigia cada vez mais as forças que ele já não tinha, sinto as pernas tremerem quando finalmente me ergo e pego o balde com pedras para dispensá-lo dentro do carro contêiner de rodas. 

     O escuro do túnel não me permite ver os rostos dos capatazes nem estipular a quantidade deles mas sei que estão espalhados pelo túnel e que os que os caras que chegaram antes de mim já os viram, não conseguirão se infiltrar entre eles quando o GOECTI chegar. 

     Coloco o velho balde de ferro novamente no chão e pego as pedras que Charlie acabou de retirar da parde, ele larga a picareta e me ajuda com as pedras. 

- Você disse que ela está morando com a filha de Heloise Richards - Charlie se cala e espera o barulho dos paços dele, o chicote é estalado uma segunda vez e a mesma voz que estava aqui se forma ao longe brigando com um garoto de doze anos, Charlie e eu somos os mais velhos do túnel. 

-Ela está. - Confirmo.

- Você disse que Ashley perdeu a memória. 

- Mas lembra de você e é por causa dela que vamos tirar vocês daqui. - Charlie volta a pegar a picareta e acertar a parede com mais força, fazendo cada vez mais pedras saírem, sento-me na lama e volto a encher o balde. 


Antes.



   No dia que cheguei além de uma surra avisaram que revesaria o trabalho nas minas com um cara cujo o parceiro havia morrido a poucos dias de infecção, na madrugada seguinte me trouxeram para as minas para trabalhar com ele mas Charlie se devotou a seu trabalho silencioso, graças ao egoísmo dele com a picareta ganhei mais duas surras, o silencio foi quebrado quando mencionei o nome dela. 

- Se não vai me dizer a quanto tempo está preso aqui diga ao menos se já ouviu falar de um tal de Charlie, Charlie Cole Luke.

-O que quer com ele ? 

-Saber se ainda está vivo. 

-Não, ele não está vivo. 

-E como sabe disso ? 

-Porque eles o mataram

-Por que estão parados seus preguiçosos ? - Perguntou o olheiro sacudindo o chicote no chão fazendo-o abaixar a cabeça e pegar as pedras na poça d'água e as colocar dentro do balde, o ar abafado do túnel me deixa tonto e o odor de lixo parece aumentar  a cada dia, me abaixo ao lado dele e começo a encher o baldo com lama. 

- Onde jogam os mortos ? 

- Por que está tão interessado ? Não vamos sair daqui cara. 

-E como tem certeza ? 

-Por que ele morreu tentando fugir. 

-E eu preciso recuperar o corpo.

-O que tanto quer com ele ? 

- A quanto tempo está aqui ? 

-A tento suficiente para não conversar enquanto eles estiverem por perto. - Diz levando os baldes de alumínio até o  contêiner com rodas, pego a picareta e me calo espero até chegarmos na cela que divido com ele. 

     Mas é uma eternidade até lá, quando a porta é finalmente fechada vejo-o se encolher no final do cubículo e me sento ao lado dele.

- Por que quer tanto saber onde está o corpo dele ? 

- Ele tinha uma irmã, Ashley, ela tem sete anos agora ela foi parar num cativeiro parecido com este, seria vendida como um pedaço de carne para o que pervertido que pagasse mais mas alguém apareceu dias antes disso acontecer e elas conseguiram fugir, é por esse alguém que salvou a irmã do Charlie que estou aqui, eu não vou ficar aqui cara e se quiser ir junto precisa me ajudar a encontrar o corpo dele.- Aquela noite não demorou muito para ele revelar quem realmente era, se dei sorte de estar na mesma cela que Charlie não sei mas não terei sorte se ele abrir a boca. 

 Agora

As luzes no teto ainda piscam, Charlie me dissera tudo que sabia sobre eles e repassei tudo para a agente Roberts mas não sei quando agirão, a água suja entrando nos meus sapatos e suor descendo pelo meu corpo me deixam tontos, hoje fazem três semanas, a verei hoje. Minha Aurora.

- Você ta bem cara ? 

- É, eu tô  -Digo pegando os baldes e os levando até contêiner, só mais um pouco, quando retorno é a minha vez de pegar a picareta, acerto a rocha dura a minha frente com força fazendo as pedras menores voarem para as poças de lama. 
~---~---~---~---~---~---~---~--~---~---~---~---~---~---~---~---~--~


- Agente Farzone. - Chama um homem com uma pulseira vermelha brilhando no pulso esquerdo e fazendo Thalia erguer a cabeça e o encará-lo. - Está na hora. - Diz se retirando da tenda, Thalia fecha o notebook e pega a arma jogada ao lado dela no tapete, seguro minha mochila e a sigo para fora da tenda, nos dirigimos para fora do acampamento onde vários agentes armados nos acompanham, caminhões estão com as traseiras abertas enquanto as equipes sobem nas traseiras dos caminhões, Thalia caminha em direção a um caminhão da direita onde os agentes já estão com as máscaras, um dos agentes a ajuda a subir no veículo e em seguida estende a mão para mim, que sou a última. 

  O agente da porta fecha a traseira do caminhão e as pulseiras vermelhas ganham vida no escuro, abro a mochila com cuidado e retiro a máscara preta que a agente Warison me deu a um tempo, só mais um pouco querido. 



Um comentário:

Leia o Primeiro Capítulo.

Capítulo 1. Uma Face Conhecida.

        Há alguns anos o país de Lori conheceu a história de uma amizade verdadeira. Graças a coragem de uma garota de dezesseis anos, outr...