segunda-feira, 27 de junho de 2016

Capítulo 60 - Pesadelos.

    
     
    Margo está atrás de nós no carro de Jocelyn, o carro de Noan ficou meio apertado devido a quantidade de sacolas, quando chegamos peço a Joana que mantenha Ashe ocupada enquanto Margo, Jocelyn e eu arrumamos o quarto dela. E falo da exsurgir, das mortes, de Thalia,  de Ágata e de Nina e Tina.

- Então sua tia vai adotar a menininha. - Diz Jocelyn colocando as almofadas dentro das fronhas coloridas. 

- Isso.

- Quando ela chega ? 

- Não sei Jocelyn, acho que assim que tiver alta da UTI.

- Como foi ficar no meio de um tiroteio e conseguir dormir a noite ? - Pergunta Jocelyn sentando na cama recém arrumada.

- Não é qualquer tiroteio Jocelyn, estávamos salvando pessoas eu salvei uma pessoa. - Até parecia um devaneio mas era real, havia salvo uma pessoa, parece que a ficha não conseguia cair.

- Não assombra você Aurora ? - Pergunta Jocelyn me encarando, encaro a almofada em formato de lua em minhas mãos, depois de tudo que vi nesses últimos meses, depois de tudo que havia passado estar em meio a tiroteio não me assustava, o que assustava eram as pessoas que morriam durante os confrontos. 

- Não. - Digo por fim jogando a  almofada no tapete rosa. 

- As vezes chego a pensar em como seria ser um agente do GOECTI, os riscos que correm os sofrimentos que estão sujeitos...

- As pessoas que salvam. - Digo cortando Jocelyn que encara o almofada vestida em suas mãos parecendo melancólica.  - Toda carreira tem suas pedras Jocelyn.

- A sua no caso são balas. - Comenta Margo sentando no tapete rosa que tomava conta do quarto, parecia um enorme chiclete grudado no chão. 

- Nem tudo e perfeito. - Digo por fim dando de ombros. 

- Talvez não seja mas poderíamos tornar perfeito. - Diz Jocelyn sentando na cama, Margo e eu a encaramos, nada no mundo é perfeito  - É a forma como olhamos as coisas que as deixam imperfeitas. - Completa Jocelyn nos encarando, Margo ergue a sobrancelha  e encara Jocelyn mas antes que qualquer uma possa dizer algo ouvimos batidas nas porta que acaba finalizando a conversa.   

- Rora posso entrar ? - Pergunta Ashe do outro lado da porta. 

- Só mais um minuto!  - Peço e organizo as almofadas em formatos de estrelas e luas no tapete,  Jocelyn levanta da cama e desprende a cortina, Margo arrumara as fotos do irmão de Ashe na cômoda e colocamos os quadros e adesivos nas paredes, Margo achou que deveríamos pintar uma parede de rosa e Jocelyn me obrigou a aceitar a deia, para não ficar tudo estupidamente rosa, usamos o edredom lilás e colocamos os ursos no chão e as bonecas sentadas em cima da cama.

- Se eu tivesse sete anos, com certeza iria adorar. - Cometa Jocelyn olhando para o quarto que exalava o cheiro forte da tinta.

- Eu iria pintar de preto usando minhas canetinhas. - Comenta Margo sorrindo, faziam três horas desde que Ashe estivera do outro lado da porta caminho lentamente até  aporta branca e a chamo.

- Ashe você ainda ta ai ?

- Eu tô! - Avisa parecendo animada, peço para que ela feche os olhos enquanto saio do quarto, e quando abro a porta a encontro sorrindo enquanto apertava os olhos me coloco por trás dela e coloco minhas mãos sobre seus olhos, a guio para dentro e peço para Jocelyn abrir a porta, levo Ashe até próximo ao tapete rosa felpudo, retiro minhas mãos e me afasto, Ashe encara o ambiente calada, não emite nem um som enquanto seus olhos varrem o cômodo. 

- E ai Ashe, gostou ? - Pergunta Margo se apoiando na cômoda branca.  

- O que achou ? - Pergunto me aproximando e parando ao seu lado, Ashe olha para a parede rosa e vai até a cama, toca no edredom e pega a boneca de saia azul que estava sentada, ela encara  a boneca e a coloca no mesmo lugar, seus olhos seguem para as almofadas no tapete rosa e se prendem na mesinha de chá com xícaras e o bule de plástico e alguns ursinhos sentados nas cadeirinhas 

- Rora ?

- Sim ?

- Eu to sonhando Rora ? 

- Não Ashe é real e é o seu quarto. - A passos lentos ela se distancia da cama e dos brinquedos no tapete, ela chega perto e passa seus braços em volta da minha cintura e ouço um 'obrigado" abafado. - Ei - digo me soltando de seu abraço forçando seu rosto molhado me encarar - Quando eu trouxer o Charlie de volta, você vai levar tudo isso para a sua nova casa ta bom ? É tudo seu.

- Tudo meu ? - Me agacho e fico de frente para ela, limpo uma lágrima fugitiva que escorria pelo seu rosto e confirmo.

- Tudo seu. - Digo a fazendo me abraçar, Ashe passa os braços fininhos por meu pescoço e encosta a cabeça em minha bochecha, sinto meu coração apertar e um nó se prender em minha garganta se eles não tivessem me levado para aquele inferno nunca teria ajudado Ashe e as outras a fugirem a essa hora ela poderia estar sofrendo com alguém ruim mas ela está aqui comigo e ver esse ser tão pequeno chorando de felicidade faz tudo ter valido ainda mais a pena.   

  Sinto as lágrimas de Ashe queimarem em meu pescoço, talvez para alguém como Lauren isso não fosse nada mas para uma criança que perdeu tudo e passava os dias tentando esconder uma bolinha de jornal amassado que tinha o rosto da única pessoa que não conseguia esquecer era tudo. Passo meus braços sobre o corpo pequeno e franzino e a aperto.

 - Eu só quero que seja feliz Ashe. - Digo baixinho, porque é tudo que eu desejo a ela, a felicidade. 

- Obrigada por ser boa comigo e me comprar coisas e me fazer feliz Rora.

- Não, não agradeça somos irmãs né ? Irmãs fazem coisas como essas umas para as outras. 

- Somos sim -  Ela diz com a voz abafada, ela se afasta e me encara e sorri - E vamos proteger a outra pra sempre. 

- Com todas as nossas forças - Digo devolvendo seu sorriso, olho de relance para Margo e Jocelyn, ambas em pé ao lado da cômoda branca, vejo Jocelyn limpando o rosto enquanto nos olha e Margo olha para cima e suspira tentando não chorar, Margo me flagra a observando e vai até um ursinho sentado na cadeirinha da mesinha de chá cor de rosa e toma o lugar dele.

- Tá na hora do chá senhoritas. - Ela avisa sentada na pequena cadeira de madeira, que é pequena de mais para o quadril dela, a mesa também desproporcional dão a impressão de que ela é uma gigante tentando de adaptar a uma casa comum, Jocelyn pega outro ursinho, o retira do lugar e senta na cadeira ao lado de Margo, limpo o rosto de Ashe e a puxo para a mesa de chá, encaro os copos e as xícaras de plástico vazias e como se elas lessem meus pensamos nos levantamos e voltamos para a cozinha, pegamos um bolo de chocolate, refrigerantes, salgados, sucos e um pouco de chá, voltamos para o quarto e fazemos do chá a festa de inauguração do quarto de Ashe. 


 - Ele nos disse que passaria três semanas no sul. - Diz Jocelyn sem tocar no jantar, Margo e Ashe estão comendo sobremesa  na sala enquanto veem algo na TV, Jocelyn pediu educadamente para que eu a esperasse e o fiz, agora estamos aqui. - Mas mamãe está preocupada, ele nos disse certa vez que as unidades de polícia de lá estão corrompidas e pediu para que papai estudasse um projeto de lei que punisse esses falsos representantes do estado, agora diz que vai precisar ficar três semanas por lá e sem comunicação, três semanas, estamos desconfiados de que ele possa estar em missão mas ele não disse nada, você ficou com ele mais tempo que nós Aurora, sabe me dizer se... - Ela não termina a frase mas a pergunta está explícita.  

- Talvez ele não quisesse dizer para não preocupar vocês. - Comento, não posso dar esse tipo de informação a ela por mais que a ame é sigilo. 

- Mas conseguiu, minha mãe está numa tempestade de nervos e meu pai está tentando estabelecer comunicações com o chefe dele mas ninguém atende. - Jocelyn encara o corredor atrás de nós para ter certeza de que ninguém se aproximava e volta a me encarar mas dessa vez abaixa o tom da voz. - Você sabe de alguma coisa Aurora ? - A encaro, é obvio que ela também está preocupada com irmão, com o fato de ele ser morto numa cidade sem segurança ou a quem recorrer por socorro, me coloco em seu lugar e penso em tia Sara arriscando a vida pelo trabalho e por outras pessoas, o desespero que se estabelece quando as informações sobre o paradeiro de alguém que você conhece são negadas...  Mas o pai de Otto se envolvendo ? Procurando pelo filho exatamente onde ele não deveria ser procurado, isso pode chamar atenção para Otto mais do que deveria, descrição era o que o manteria vivo mas isso não aconteceria se o embaixador de Lori resolvesse compartilhar o drama do filho fugitivo com o país, todos sabem que ele faz parte do GOECTI quem quer que tivesse pego Otto poderia desconfiar, poderia  juntar as peças e... Pelos Deuses, talvez eu me amaldiçoe pelo que vou dizer, é segredo é uma missão mas Jocelyn é minha amiga e a vida do meu homem que está em jogo.

- Jocelyn - A chamo baixinho antes de conferir se o corredor atrás de nós está vazio. - Preciso que mantenha segredo, se minha tia descobre que disse algo a você vai me esfolar viva, entende ?

- Sim. 
  
 - Hoje mais cedo falei pra você que fomos atrás das pessoas que pegaram a mim, Ashe e Miranda, lembra ?

- Sim. - Confirma baixando a voz tanto quanto a minha.

- Essa quadrilha  é maior do que pensávamos e estão no sul, Otto foi sim atrás deles mas não está sozinho, Persen e o todo o GOECTI estão com eles, vão ficar bem mas se seu pai resolver ir procurar ele por lá pode colocar seu irmão em perigo.

- E Otto o mataria, quer dizer, ele já tem vinte e três anos é um homem feito, ser procurado pelo pai numa cidade não iri pegar bem.

- Isso não pega bem - Minto, é claro que pega bem independente da idade do filho um pai tem o direito de procurá-lo mas nesse momento o embaixador só iria atrapalhar. - Peça aos seus pais que não se preocupem. - Soou mais como uma ordem do que um pedido mas era a segurança dele que estava em jogo, e os pais dele tinham que ser controlados por enquanto.

- Você vai também não é ? Para o sul prender essas pessoas.

- O irmão de Ashe está lá, fiz uma promessa a ela e preciso cumprir, quero fazê-la feliz Jocelyn você viu o sorriso que ela deu hoje mais cedo quando viu o quarto. Quero que aquele sorriso apareça sempre.

- Eu entendo, quando encontrar Otto pode dar um tapa no ombro dele por mim ? Ele ta me devendo isso por ir embora sem se despedir. 

-Claro. 

-  Traga nossos irmãos de volta em segurança agente Richards.

- Farei tudo que estiver ao meu alcance para fazer isso senhorita Brown. - Aquelas palavras me fazeram estremecer, não quero pensar na possibilidade de que Otto ou Charlie podem ter seguido o mesmo caminho que Nina.

- Rora! - Chama Ashe correndo pelo corredor até nós me afasto de Jocelyn e a encaro. - Eu posso comer mais bolo ? - Ela entra na sala de jantar com o prato e o garfo nas mãos e aboca lambuzada com os restos do antigo pedaço de bolo de chocolate e para diante de mim. 

- Eu também quero. - Diz Margo sorrindo aparecendo atrás de Ashe.

     Repetimos a sobremesa, Jocelyn e Margo vão embora pouco antes das oito e eu e Ashe ficamos vendo TV, as nove horas ouvimos o barulho do carro de Tia Sara estacionando na frente da casa, Ashe corre para a porta da frente para recebê-la e eu vou junto, Tia Sara entra trazendo consigo Tina que segurava  sua mão, o sorriso de Ashe se desmancha quando vê a menina parada na frente da porta os pequenos olhos negros se prendem em mim e ela me  encara assustada.


    Tia Sara também percebe a reação de Tina e a trás para perto de Ashe, Tina desviar seu olhar para Ashe para diante de si elas ficam de frente para outra, sabia que aquilo era tentativa de Tia Sraa fazer Ashe dar boas vindas a Tina mas Ashe recua se afastando da garota ela se coloca ao meu lado e segura com força a barra do meu shorts.

- Ashe essa é a Tina ela vai morar com a gente agora - Diz Tia Sara sorridente. -  Tina essa é a Ashe a que eu falei pra você - Tina não olha para Ashe abaixa a cabeça e se concentra nos pés com as sapatilhas negras do GOECTI, Ashe encara Tia Sara como estivesse sendo traída, substituída por uma versão mais moderna e bonita que ela. - Ashe não quer dizer um oi pra Tina ? - Pergunta Tia Sara e Ashe balança a cabeça negativamente, Tia Sara me encara e ergue a sobrancelha - Não falou pra ela ?

- Não achei que Tina chegaria hoje. - Digo a encarando.

- Me falou o que Rora ? 

- Aurora leve a Tina para a cozinha e peça para Joana prepare algo para ela comer, eu e você precisamos conversar Ashe. - Tia Sara solta a mão de Tina que se encolhe e recua para perto da parede,  ela estende a mão para Ashe que a encara e depois a ignora 


- Precisamos conversar querida. 

- Não quero. 

-Por favor. - Pede tia Sara e Ashe segura sua mão, ela a  leva para a varanda e fico a sós com Tina encolhida perto da parede.

- Você lembra de mim Tina ? - Pergunto a fazendo erguer o rosto lentamente e me encarar. Tento dar meu melhor e coloco um sorriso no rosto. 

-Você disse que a traria de volta pra mim mas ela ta morta! - Afirma parecendo magoada, meu sorriso derrete feito manteiga em alta temperatura diante daquelas palavras, não ouso baixar a cabeça, é algo que deve ser dito olhando nos olhos.

-Eu sinto muito Tina, mas não sabia... Não tive como... Como ajudar. - Digo por fim lembrando  do que Margo disse sobre a garota ao lado dela dentro do carro com aqueles cretinos, dos gritos e do tiro, lembro dela ter dito sobre meu estado de inconsciência dentro de um porta malas, estava longe de mais das minhas mãos para que eu pudesse fazer algo mas mesmo assim é minha culpa, ela morreu por minha causa, Nina tomou o meu lugar no vagão dos mortos. 

- Não foi sua culpa. - Diz Tina baixinho encerrando meus pensamentos, queria gritar dizer que foi sim minha culpa,  ela me odiará quando descobrir, nunca mais olhará para mim e me culpará por toda sua vida e estaria certa, era minha culpa, e aquilo sempre iria  me perseguir  mas esta noite essa menina não precisa de mais um motivo para chorar e amaldiçoar a vida, seguro minha língua e me desculpo uma segunda vez.

-Sinto muito Tina, de verdade. - Porque é sincero, é verdade e eu sinto muito mesmo. 

- Por que ela me trouxe pra cá ? - Pergunta baixinho, como se Tia Sara estivesse escutando no corredor.

- Lembra da noite que eu te encontrei ?  Eu disse que a levaria para um lugar seguro esse é um  lugar seguro, não quer ficar aqui ?

- Eu não sei. - Tina aperta as mãos, e percebo que ela tinha uma folha amassada entre suas mãos, percebo o sol e as nuvens que desenhei para ela antes de sair do polo, ela trouxe o desenho com ela, talvez por alguns momentos ela possa esquecer do medo e da tristeza. 

- Está com fome Tina ?  - Pergunto, tentando mudar a direção da conversa, tentando fazê-la se abrir e parar de amassar o desenho com as mãos.

- Eu só queria ficar sozinha no mundo.

- Eu também perdi pessoas que eu amava Tina, eu já senti exatamente o que você ta sentindo mas você acabou de sair da emergência e não pode ficar fraca ou...

-Vô morrer se eu não comer ? - Pergunta me cortando.

- Eu não iria dizer isso mas você vai ficar bem doente, se não quiser comer tudo nós vamos entender mas precisa comer mesmo que seja  somente um pouco, Joana fez um jantar delicioso, confie em mim você vai gostar. - Tina me encara e estendo minha mão da mesma maneira que Tia Sara fez a alguns instantes, Tina a analisa como pensasse cuidadosamente se a segurava ou não, por fim, ela acabou segurando, a levei para a cozinha e Joana esquentou o jantar, ela não falou mais nada depois que a comida foi servida. 

      Tia Sara e Ashe retornaram quando estávamos na sala, não sabia em que programa colocar para uma garota de sete anos em luto então deixei a TV desligada, permanecemos sentadas encarando o aparelho desligado até elas retornarem. 

    Ashe apareceu trazendo a boneca de cabelos castanhos de saia azul e tia Sara apareceu em seguida atrás dela, parecendo orgulhosa.

- Como está se sentindo querida ? - Pergunta Tia Sara mas Tina não responde, ela olha para Ashe, para a boneca nas mãos dela e depois para mim.

- Pra você Tina - Diz Ashe animada estendendo a boneca para Tina, ela encara a boneca mas não a toca, depois olha apara Ashe com uma expressão vazia - Você num quer ? - Tina encara Tia Sara e depois a aboneca estendida em sua direção, em seguida se encolhe no sofá ignorando a oferta.  

- Quer ver onde vai dormir hoje Tina ? - Tia Sara estende a mão e Tina a encara como fez com a boneca e a ignora.

    Ashe senta ao meu lado com a boneca nas mãos parecendo sem graça e olha para Tia Sara, Tina se levanta do sofá e se coloca de pé ao lado de Tia Sara, ela prende os dedinhos na calça da farda do GOECTI de Tia Sara e com uma voz rouca e baixinha pede para dormir, Tia Sara a leva para o quarto. 

- Ela num quis - Diz Ashe fungando enquanto elas desaparecem no corredor atrás de nós, pego Ashe no colo e a abraço.

- É porque ela ta triste.

- Tia Sara disse que ela foi machucada e a irmãzinha dela foi morta e que ela precisava da gente.

- E ela precisa.

- Ela pediu pra eu ser boazinha com a Tina Triste.

- Não ashe, com a Tina que está triste, se a chamar disso ela vai ficar mais triste.

- Desculpa Rora.

-Ta tudo bem só não fale isso na frente dela. Por que trouxe sua boneca para a Tina, Ashe ?

- Eu fiquei feliz quando você disse que eu podia comprar uma boneca com cabelo, eu trouxe pra ela ficar feliz também mas ela num quis.

- Você pode tentar novamente amanhã.

- E se ela num quiser ?

-Então tentamos de novo, mas não podemos parar de tentar, certo ?

- Certo. - Concorda Ashe sorrindo, a levo para seu novo quarto cor de rosa e a ajudo a vestir uma camisola branca com lacinhos, conto-lhe uma história de um dos livrinhos que havíamos comprado hoje mais cedo e como sempre a deixo dormindo mas dessa vez com o abajur aceso.

  Volto para o meu quarto e meus pensamentos se concentram Otto, se está com fome ou machucado ou com medo. O sorriso dele foi a última coisa que pensei antes de me deixar ser lavada para aquele oceano conhecido, escuro e tranquilizante o oceano de acesso a ilha dos sonhos. 

   Sinto algo gelado em meu rosto seguido por uma voz fina que me chamava.

- Rora! Se acorda! - Ashe pedia me encarando com a mão fria em minha bochecha - A Tina ta gritando. - Ela diz antes que organize meus pensamentos,  Ashe pula da cama e corre para fora do quarto, obrigo meu corpo a se erguer e a sigo, ela para em frente a porta do quarto de Tina e apoia a orelha na porta esperando, me aproximo pronta para mandá-la de volta para a cama e lhe dar uma bronca  quando ouço os gritos do outro lado da porta, como se alguém estivesse  lá dentro com ela a machucando.  

     Abro a porta com força e ascendo a luz, Ashe vem atrás de mim e sigo até a cama onde ela estava, os cobertores haviam caído no chão e  Tina se mexia na cama, estava suando enquanto gritava, os dedos pequenos estavam cravados na roupa de cama que não havia caído minhas pernas paralisam no mesmo lugar.

    Ela solta outro grito agudo e me meu corpo desperta, me aproximo dela e vejo o brilho do suor  que escoria pelo rosto, a intensidade dos gritos faziam calafrios subirem em minha espinha, com cuidado toco em seu rosto para que ela acorde mas ela continua gemendo, chamo seu nome e a balanço de leve para que acorde, o movimento a faz abrir os olhos e   antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa as lágrimas brotam, Tina se derrama em lágrimas e a puxo para meus braços e a abraço.

    Tina soluçava em meu peito, e Ashe a encarava parecendo aturdida ela sobe na cama e abraça as costas de Tina, vejo Ashe repetir no ouvido de Tina  o mesmo que eu dissera a ela quando ela estava com medo, quando estava com dor.

 - Vai ficar tudo bem Tina. 

     Ashe e eu passamos a noite com Tina, prontas para acordá-la caso outro sonho ruim decidisse voltar e eles fizeram. 

     Na manhã seguinte relatei a tia Sara sobre a madrugada e sobre os pesadelos de Ashe e os de Tina, ela marcou uma psicologa infantil e pediu para que eu levasse Ashe e Tina, quando saíssemos da escola, ela teria de fazer no GOECTI e não poderia nos acompanhar.

    Noan deixou Ashe e a mim no consultório da Dra. Zoe, psicóloga Infantil, onde encontramos Joana e Tina sentadas na  sala de espera, Ashe sentou ao lado da companheira que vestia um de seus vestidos cor de rosa, o mesmo que Jocelyn havia lhe dado mas o fato da garota estar vestindo algo seu não a incomodou, Ashe segurou a mão de Tina e ficou calada enquanto esperávamos para entrar, Tina que evitou olhar para ela o tempo todo. 

    Conforme as semanas passavam  Tia Sara me dava cada vez menos notícias sobre Otto ou sobre a operação, me deixando no escuro durante duas semanas e meia, Jason também retornou, os treinos agora eram voltados para as armas, com a permissão de Tia Sara ele me levou a um estande de para praticar meus tiros, conseguimos uma licença para atirar na semana posterior.

      As coisas na Laurents Franz estavam estranhas, como era  o último baile as meninas estavam ainda mais nervosas que de costume, o garoto que Jocelyn havia chamado para ir ao baile a convidou para tomarem sorvete e Margo me forçou a ir com ela procurar sapatos, conforme os dias passavam Jocelyn parecia se tornar cada vez mais íntima de Matthew que não demorou muito para ser chamado de Matt, era legal ver Jocelyn se dando bem com Matthew, ela parecia feliz, sempre que os via juntos, pensava em Otto,  cercado por pessoas que podiam matá-lo a qualquer instante e torturá-lo caso descobrissem quem era, caso descobrissem que era Otto Brown.

- Eu não sei pareceu  forçado - Dizia Margo enquanto nos dirigíamos para o estacionamento, Jocelyn pediu para que nós acompanhássemos ela e Matthew no cinema para que não parecesse um encontro, mas era um encontro ela só se recusava a aceitar, Margo e eu a vimos aos beijos com Matthew na sala do cinema  ao invés de prestarem a atenção no filme, ela só não queria sair a sós com ele para manter as aparências.

- Achei um ótimo filme - Diz Jocelyn sorridente e animada, como se tivesse visto o filme completo. 

- Eu concordo aquela cena na floresta foi de tirar o fôlego - Diz Matthew no mesmo tom, como se tivesse visto alguma coisa tento me segurar para não revirar os olhos da mesma maneira que Margo estava fazendo ao meu lado, a quem eles estavam tentando enganar ?.

- Com certeza vocês devem ter ficado sem fôlego - Comenta Margo baixinho ao meu lado, sufoco minha risada e ela olha entediada para os próprios pés. 

- E então Margo, ansiosa para o grande dia ? - Pergunta Matthew tentando desvencilhar o assunto.

- Muito. - Diz Margo sem muito ânimo.

-  Deveria se animar mais, só faltam duas semanas para sua tão aguardada coroa ser colocada na sua cabeça as meninas estão todas eufóricas, Lauren está bastante,  a ouvi ela hoje no refeitório.

- Não sei se vou ganhar Matthew, Lauren está mais a frente nos votos e, você sabe, ela tem os times de basquete e beisebol como apoio - Comenta Margo parecendo meio triste, talvez seja por isso que ela estava quieta hoje.

- Eu não sei onde ouviu isso mas pelo menos eu e todo o time de basquete vamos votar em você, estamos vendendo biscoitos com seu nome também pra ajudar.

- E por que estão fazendo isso mim ? - Ela pergunta desconfiada. 

-Porque você é amiga da Jocelyn e eu quero ajudar.- Diz Matthew com um dar de ombros. Margo encara o garoto parecendo meio chocada a chuto na perna e ela desperta.

- Obrigada - Diz Margo sem jeito em seguida me lança o um olhar assassino.

- Os biscoitos foram minha ideia - Diz Jocelyn sorrindo, o elevador fica assombrosamente quito e ele volta a se manifestar.

- Eu tenho um amigo, Aurora, que queria saber se você já tem um par  para o baile.

- Acho que vou com meu namorado.

-E você, Margo ? 

- Estou bem Matthew  não preciso dos seus amigos com todo respeito, aquele é o Noan ? - Pergunta Margo assim que o elevador abre as portas e saímos para o estacionamento embaixo do  shopping.

- É sim, então, até mais - Digo saindo na frente com Margo e os deixando para trás. 

-Até amanhã!  - Grita Jocelyn alto, nos viramos e damos um aceno rápido antes de entrar no carro, ela pediu para o motorista vir buscá-la as nove para ficar quinze minutos com Matthew e Margo vai o caminho todo reclamando dele.

   "Como se estivéssemos desesperadas para conseguir um par" era o que ela dizia o tempo todo mas mesmo que negasse, ela queria um par, mas não um garoto qualquer,  queria que Brian a levasse para o baile mas negaria o fato até a morte, ele ao que parece ele estava saindo uma garota do segundo ano e abrindo uma ferida cada vez maior no peito de Margo.

     As nove e quinze Noan parou o caro em frente a casa de Tia Sara, passo pelo quarto de Ashe e a vejo brincando de chá com Tina, estão se dando bem de alguns dias para cá, desde que começamos a frequentar a psiquiatra Ashe tem parado de fugir para o meu quarto de madrugada mas Tina está fugindo para o dela. 

    Decido não atrapalhar o chá das princesas e vou para o escritório de Tia Sara, ela precisa me dizer algo, amanhã fazem três semanas e continuo completamente ignorante a respeito da minha posição e isso é sufocante,  a possibilidade de ela me tirar de última hora é um medo que não consigo controlar, preciso saber, e preciso saber agora. Antes de abrir a porta bato duas vezes e ela não responde, viro a maçaneta e coloco minha cabeça dentro do cômodo. 

- Posso entrar ? - Pergunto, não ouso entrar no escritório, seguro a porta e a vejo está analisando papéis

- Claro. - Diz sem tirar os olhos das folhas.

- Trabalhando ? - Pergunto indo até  cadeira bege estofada de frente para a mesa dela.

- Revendo alguns relatórios, o perito desenhou os três suspeitos descritos por você e por Tina mas algo me incomoda.

- Tipo...? 

- Na última informação enviada o agente Brown relatou cinco mandantes, algumas das descrições dele batem com as que você e Tina deram mas está faltando um.

- Então ainda temos um rosto nas sombras ?

- Estamos tentando localizá-lo, não podemos cometer o erro de deixá-lo se passar por um rapaz no dia do estouro.

- E ele está bem ?

- Sim querida, ele está. - Respiro fundo e tento me controlar, era um alívio saber que ele estava bem mas algo ainda não estava certo, ela era minha tia e faria tudo para me proteger inclusive me deixar de fora da Aurora ao Norte, então vou direto ao ponto. 

- Qual será minha função em Aurora ao Norte ?

sábado, 18 de junho de 2016

Capítulo 59 - Rejeitada.

      
    Otto aperta a ponta do meu seio direito e chupa meu seio esquerdo fazendo minha respiração acelerar, fazendo meu corpo arder em chamas, ele muda de posição e chupa com força meu seio direito enquanto aperta meu esquerdo, a cada chupada que ele dava fazia meu corpo se contrair e se pressionar mais contra ele, sua mão solta meu seio e sinto seus dedos descerem com delicadeza e percorrem meu copo e pararem na lateral da calcinha, Otto suga com forma meu mamilo e faz uma trilha de beijos até meu pescoço. 

     Sinto seu peito pressionado contra o meu, sua barriga quente encostada contra a minha e encravo meus dedos em seus cabelos e o puxo para cima, retirando seus lábios do meu pescoço e trazendo sua boca para minha, sinto novamente sua ereção e pressiono minha cintura contra ela, sinto seu membro entre as minhas pernas, ele continua com os dedos paralisados nas laterais da calcinha enquanto me beija, desço minhas mãos até sua cintura e o aperto contra mim, gemo baixinho, desço minhas mãos novamente e chego em seu bumbum, dou uma pequena apertadinha e para confirmar se é durinho, e sim, é durinho, mas não é só ele que está duro e empinado, seu membro está cada vez mais em minhas pernas, quero ele dentro, quero isso agora,  tento baixar sua boxer preta mas ele se afasta, tento novamente mas para de me beijar e me encara. 

- Não. - Diz baixinho ofegante, tento controlar minha respiração, vejo o peito dele subindo e descendo com rapidez respiro fundo e tento encontrar minha voz.

- O quê ? - Pergunto o encarando.

- Não. 

- Você não quer ? - Pergunto tentando controlar a decepção em minha voz. 

- Quero - Diz voltando a pressionar a cintura com força contra mim me fazendo gemer, ele volta a aproximar sua boca da minha orelha, sinto o ar quente saindo de sua boca e fazendo os arrepios se espalharem meu meu copo, me seguro para não pressionar sua cintura contra mim uma segunda vez. - Mas não assim. - Diz voltando  a se afastar, o seguro pelos braços o mantando preso ele franze as sobrancelhas e me encara.

- Assim ? 

- Estamos bêbados e comemos ostras, são afrodisíacas.

- E estamos quase transando.- Digo o cortando deixando um sorriso fugir, aquelas palavras pareciam tão improváveis a alguns meses não poderia pensar em falar o nome dele e agora estamos a sós num resort prestes a fazer amor. -  Só mais um pouco querido - Insisto, com minha mão esquerda desço meus dedos por suas costas trazendo sua cintura para onde estava antes e com a direta trago seu rosto para mais perto mas ele ergue, saindo de cima de mim e sentando ao meu lado na cama e me encarando, coloco meu braços sobre meus seios desnudos e o encaro.

- Assim não Aurora. - Diz sério, jogando um balde de água gelada sobre as chamas que me consumiam a pouco. 

- Então como ? Tem pétalas de rosas por toda parte do quarto, estamos na droga da luz de velas e você me proporcionou um dia e um jantar maravilhosos, me deixa em chamas e agora diz que não quer, Otto não entendo. 

- Mas entendo, você está bêbada e excitada - Diz me encarando, tento engolir o nó que se formava em minha garganta e encaro o teto branco. - É a sua primeira vez e não quero estar bêbado enquanto estiver penetrando você, quero que seja especial.

- Estava sendo especial.

- Não, não está, amanhã não vai lembrar da metade das coisas que acabou de acontecer e não é assim que planejo isso.

- E agora você 'planeja', tem ideia do quão errado isso está soando ? Eu não sou uma missão que precisa de plano eu sou uma mulher. - E a pior parte é que naquele instante era uma mulher que acabou de ser rejeitada pelo próprio namorado, as lágrimas queimavam implorando para serem libertas e nó apertava ainda mais minha garganta, aquilo era pior do que um tapa ou um soco. 

- Que eu amo e por amar não posso fazer isso de qualquer maneira, não está entendo que quero que seja especial tanto para mim quanto para você ? 

- Mas não parece, deveria saber que nada nunca acontece da forma que planejamos. - Digo voltando a encará-lo, encontro os olhos castanhos me olhando de volta,  parecendo pesados. - Estava sendo mágico Otto, eu queria cada momento, eu queria. Muito. 

- Eu sei que quer querida - Diz erguendo a mão até meu rosto mas me afasto vejo seus dedos se recolherem de volta, sinto seu corpo mexer o colchão enquanto se recolhia de volta para a cama e deitando ao meu lado sinto seu braço quente ser colocado por cima das minhas mãos e sua mão quente tocar minha bochecha me forçando a olhá-lo - E eu quero também, quero muito mas não assim, não depois de sete taças de champagne quando fizermos quero você esteja lúcida, quero que aproveite cada instante e lembre de cada movimento.

- Mas eu consigo lembrar Otto. 

- Amanhã não vai pensar da mesma forma.

- E como faço com essa sensação ? - Pergunto fazendo um sorriso doce nascer em seu rosto, não era aquele sorriso que eu queria não era aquele toque, ele aproxima o rosto do meu e beija minha testa.
  
- Tome um banho frio - Diz baixinho - Não vai demorar para passar.

-Não essa sensação Otto, a outra que você acabou de produzir e que me deixa dessa maneira. - Sinto quando elas caem pelo meu rosto, quentes e pesadas, era vergonhoso, não sei se chorava por estar sendo rejeitada daquela maneira humilhante ou por parecer uma criança, de qualquer maneira a sensação era horrível. - Estou me sentindo rejeitada.

- Mas não é. Eu desejo você senhorita Richards, meu corpo demonstra isso sou sensível ao seu toque na mesma intensidade que o fogo é contra o álcool só estou evitando que um incêndio aconteça e tudo fuja do meu controle. 

 - Talvez seja este o problema, você quer controlar tudo. 

- Aurora... 

- Você é o álcool e estou pronta para arder em chamas senhor Brown. 

- Não insista. - Diz se afastando, Otto volta a sentar na beirada da cama e mordo o lábio, gostaria de socá-lo mas pra isso teria que retirar as mãos dos seios respiro fundo e me ergo encaro o lençol de seda branca embaixo das minhas pernas. 

- Você não pode controlar o mundo senhor Brown. 
  
- Você é o meu mundo e pra mim isso basta.  - Medito sobre aquelas palavras se eu era o mundo para ele então era a mim que ele controlava, sinto seus braços quentes passarem por minha cintura e me puxar para trás ele me coloca em sua perna e o encaro furiosa, ele não tem controle sobre mim. - Você me faz perder o controle senhorita Richards sabe que daria o mundo por você mas não é assim que quero que aconteça. 

- Você é virgem Otto ?

- Não, não sou. E não se trata de mim mas de você, quero que seja inesquecível para você. Cada detalhe. Não quero que seja só uma foda, quero fazer amor com você.

- E por que não faz ?

- Por que agora estou com vontade de fazer muita coisa, menos amor. 

- Ta.

- Não chore.

- E só... - Estou decepcionada e me sentindo rejeitada e completamente humilhada. 

- Eu fui errado, não deveria permitir ter chegado tão longe.

- Mas tava... Gostoso.

- Você está me mostrando um lado seu que desconhecia senhorita. 

- É por que estou excitada, bêbada e perto do seu corpo quente e gostoso.

- Meu corpo gostoso ? 

- As vezes quando não tenho nada pra fazer penso no seu bumbum Otto.

- Então não sou o único pervertido no recinto.

- Você é gostoso, tem noção disso ? E estou completamente apaixonado por você, você fode meu coração e eu queria que fizesse o mesmo com meu copo.

- Nunca achei que fosse falar essas coisas querida.

- Eu também não. - Admito, na verdade não sei porque havia dito mas parece que não faz sentindo mantê-las guardadas. 

- Eu não vou foder seu corpo hoje mas poderia continuar o que estávamos fazendo. 

- Não, não terei tudo então só me dê a sensação do paraíso quando  poder me levar até lá.

- Sinto muito querida.

- Só quero dormir, pode ser ? 

- Achei que quisesse tomar banho.

- Eu não quero você que disse que eu deveria tomar banho mas você não me controla eu quero me sentir suja, queria sentir outras mas parece que não vai rolar.

- Aurora...  - O ignoro e volto para o colchão puxo a coberta de seda e cubro meu corpo, Otto  deita ao meu lado e me puxa para perto dele, sinto seu braço me prender com força perto de seu peito e meu bumbum fica num local de risco, eu poderia tentar... Mas não vai rolar então descarto a ideia. Se fosse Thalia certamente isso não estaria acontecendo, Thalia... Será que eles já transaram ? 

- Você  e Thalia já transaram ? - Pergunto baixinho.

- E isso importa ?

- Só queria saber. 

- Éramos dois adultos de vinte e dois anos Aurora é claro que já aconteceram certas intimidades. - Aquelas palavras pareciam bolas demolidoras contra o pequeno prédio que era minha auto-confiança, tento sustentar meu coração mas ele se parte em mil pedaços como um prédio velho. - Mas é com você que quero ficar.

- Boa noite Otto. - Digo mas ele não diz nada, fecho meus olhos com força e tento me acalmar, porque trago Thalia com frequência para minha realidade ? Queria esquecer que ela é melhor que eu mais bonita e já transou com meu namorado mas parece que quanto mais tento esquecê-la mais difícil se torna. Sinto os lábios dele se pressionarem contra minha bochecha e seu polegar deslizar lentamente sobre meu rosto. 

- Boa noite minha estrela. - Diz baixinho antes de voltar a deitar e me apertar com força contra seu corpo. 


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      Acordo com o barulho do despertador do celular, levo a coberta até a cabeça e tento ignorar o som mas a sinto ser retirada com cuidado e dois dedos gelados tocam meu rosto. 

- Acorde querida.

- Hum

- Vamos preciso deixá-la na escola. - Me forço a abrir os olhos, encaro o relógio ao lado em cima do criado mudo, são quatro da manhã. 

- Ainda são quatro da manhã e eu entro as sete.

- Mas não estamos em Lori, precisa se arrumar e tomar banho. 

- Me dê três horas e o farei. - Digo voltando a fechar os olhos, ele puxa a coberta de seda com força e sinto o frio tomar de conta do meu corpo em um último instante lembro que dormi sem sem meu sutiã cubro meus seios e o encaro. 

- Agora, o café está aqui precisarei ligar para o agente Becker, se importa ?

- Não. - Respondo ríspida. 

- Pedi para passarem seu uniforme, está pendurado num  cabide no banheiro também tem lingeries lá dentro.

- Você as comprou ou mandou Jocelyn ?

- Mandei Jocelyn não queria você andando nua usando  saias em um colégio de ensino médio não pega bem, agora abra os olhos e vá tomar banho - Sinto seus lábios em minha testa e me forço a voltar a abrir os olhos, percebo que  Otto está usando a mesma jaqueta preta com uma blusa branca por dentro, ergo-me lentamente  e deixo o lençol deslizar por meu corpo enquanto saio da cama, Otto  me encara e ergue as sobrancelhas, vejo os olhos dele se arregalarem levemente e sigo seu olhar, percebo que não coloquei o sutiã antes de dormir e cubro-me com os meus braços e encaro meus pés,  aquilo era ridículo,  antes que conseguisse raciocinar sinto o toque de algo frio sendo colocado sobre minhas costas, uma toalha preta.

 Ergo a cabeça e o encontro  segurando o celular na orelha. 

- Obrigada.

- Eu que peço desculpas. - Ele fala baixinho, seguro a toalha e me cubro, sigo para o banheiro sem olhar para trás. 
  
    Por que ele se desculpou ? Tranco a porta do banheiro e paro diante do espelho, retiro a toalha e vejo manchas roxas contra minha pele, enormes marcas roxas cobriam meus seios e minha barriga como se estivesse sido agredida. 

  Toco meu seio esquerdo com cuidado, está sensível, Otto me deixou marcada tento decidir se é algo bom ou ruim enquanto entro no chuveiro, lavo meus seios com cuidado para não doer ainda mais e molho o cabelo, seco-me e visto meu uniforme, arrumo a fivela do sutiã para não me machucar e escovo o cabelo, deixando-o solto. 

  Saio do banheiro e encontro Otto sentado na mesa do café da manhã lendo algo no tablet, certamente não era o jornal muito menos um tabloide e ele não me deixaria espiar a não ser...  Jogo a toalha sobre a cama, caminho até ele e sento em seu colo.

- O que é isso ? - Pergunto tentando ler as letras pequenas do arquivo pdf.

- Relatórios, pontos específicos de onde tenho que ficar. - Tenho que ficar, é hoje. 

- Que horas você vai ? - Pergunto voltando a encará-lo, Otto bloqueia o aparelho e o coloca sobre a mesa, ele encara a cadeira ao lado e ergue a sobrancelha em seguida, ergo-me e sento na cadeira ao lado da dele.

- Precisa comer algo.

- Não estou com fome. 

-Coma.  - Dou uma mordida na uma mordida na maçã em minha mão  e o encaro em seguida ergo a sobrancelha, ele respira fundo e volta a pegar o aparelho. - Persen já foi encaminhado, irei as duas da tarde. - Engulo a fruta com cuidado, as duas da tarde. 

- Quando iremos buscá-lo ? 

- Logo. - Diz encarando o tablet mas sabemos que não será logo, Otto me flagra o encarando e sorri. -  Ficarei bem.

- Claro. - Depois de terminar minha maçã tomo um copo de suco e volto para o banheiro para escovar os dentes,  Otto pega a malinha preta que contém minhas roupas e o vestido e uma mochila preta que deve ser dele, pego minha mochila e o acompanho para o elevador. 

      Saímos pelos fundos do prédio e o carro já está nos esperando, ele me dá os mesmos óculos de sol que me emprestou enquanto vinhamos e coloca outro par com lentes negras, e ele acelera de volta para Lori com a nona sinfonia de Beethoven no piano.

   São quase sete e quinze quando ele estaciona no estacionamento da Laurentz Franz, como sempre abre minha porta e pega minha mala no porta malas.

- Então vejo você em três semanas.

- Me parece uma eternidade.

- Obrigada pelo dia incrível. - Diz mudando de assunto reviro os olhos e respiro fundo, são meus últimos momentos com ele ergo minha mão e o toco na bochecha. 

- Obrigada pelo aniversário inesquecível - Digo o encarando, ele toca minha mão e a beija com delicadeza, Otto me puxa para perto e me abraça, e eu o abraço com força sentindo o perfume de roupas limpas e os braços fortes ao meu redor uma última vez. - Prometa que terá cuidado senhor Brown.

- Eu prometo querida. - Ouço o sinal avisando que a primeira aula está prestes a começar e me afasto. 

- Então vejo você em três semanas.

- Não se esqueça de ir me salvar - Diz me dando um beijo na testa

- Não irei, e Otto ? 

- Sim.

- Eu lembro, de tudo. 

- Lembra ? 

- Cuide-se - Digo beijando-o na bochecha, pego minha malinha negra e caminho para as escadas da entrada da Laurentz Franz, olho uma última vez para trás e vejo meu príncipe dando partida em seu porsche negro, até três semanas namorado. 

   Ouço o sinal tocar mais uma vez, pego minha mala e corro para a aula de cálculo, os corredores já estão vazios  e quando chego na porta da sala percebo que já estão todos em seus acentos, dou uma pequena batida na porta chamando a atenção  do professor que retira a atenção da lousa e me encara franzindo as sobrancelhas. 

- Bom dia senhorita Richards, teste surpresa em dupla - Diz apontando para o quadro, junte-se a a senhorita Barniel e boa prova - Encaro Lauren sozinha sentada na última carteira de madeira marrom com dois acentos, o acento ao lado dela é o único vazio na classe. 

- Não pode ser  dupla de um ? 

- Se quiser fazer a prova terá que fazer uma dupla de dois. - Diz se voltando para a lousa, seguro minha malinha e caminho lentamente para o final da sala e sento com Lauren que não deveria estar aqui.

- O que faz aqui ?

- Eu estudo aqui imbecil.

- Seu horário não tinha cálculo como primeiro tempo. 

- Agora tem. - Diz sorrindo, pego a prova e tento resolver a primeira questão, ela não fizera nada até agora. 

-  Conseguiu o que queria né ? - Comenta Lauren baixinho se aproximando, quem estivesse a nossa frente certamente pensaria que ela estava me ajudando com a fórmula do enunciado. -  Transou com Otto Brown, destruiu os meus pais, tem a atenção do país voltada pra você e uma conta recheada no banco certamente subestimei você.

- Os seus pais estão recebendo o que merecem. 

- Não sua maldita, os meus pais são vítimas. 

- Jura ?  - Pergunto a encarando forçando uma expressão de surpresa - De quem ? Será que seria de mim ? - Lauren me encara como se quisesse me torturar com o olhar revido a expressão e ela sorri.

- Espero que aproveite cada pedacinho da sua felicidade - Ela aproxima seu rosto de minha orelha. -  Daqui a pouco vai acabar para sempre - Lauren se afasta o suficiente para que eu a encare, sinto meu corpo tensionar e um arrepio se espalhar por meu corpo a vejo erguer a mão e pega meu colar - Belo colar - Diz sorrindo e soltando a pedra que volta com força contra meu peito, em seguida olha para frente e ergue a mão pedindo permissão para ir ao banheiro. 

       Ela não volta, mas já sabia que isso aconteceria. Faço todo o teste sozinha e quando o sinal toca, vou para meu armário guardar minha mala e encontro Jocelyn em pé na frente dele me esperando.O sorriso dela se torna maior quando me vê.


- Como foi o dia no paraíso ?

- A quanto tempo arquitetou isso com ele ?

- Desde que ele me disse que você estava viva. - Confessa e tento segurar o riso. 

- Vejam só quem voltou para o paraíso das cobras. - Diz a voz grave atrás de mim, olho para trás e encontro Margo com um rabo de cavalo alto e braços cruzados, trazia um sorriso quase iluminado quanto o de Jocelyn.

- Margo. - Digo baixinho fazendo Jocelyn revirar os olhos.

- E ai, como foi no paraíso ?

-Como você sabe onde eu estava ?

- Jocelyn me contou, aah antes que eu esqueça, adorei o vestido.

- Otto escolheu a cor. - Diz Jocelyn atrás de mim. 

- Ele tem bom gosto. - Murmura Margo acenando com a cabeça.

- Como sabe do meu vestido ? 

- Vi fotos suas e do seu boy num tabloide, vocês estavam lindos 

- Príncipe e Princesa. - Diz Jocelyn atrás de mim, sinto minhas bochechas queimarem e abro meu armário e forço a mala para dentro.

- E então, rolou ? - Pergunta Margo sorrindo pervertida.

- Rolou o que ? - Pergunto a encarado, é claro que sabia do que ela estava se referindo mas com certeza não diria algo tão íntimo em pública até porque Jocelyn está aqui.

- Você sabe do que estou me referindo. 

- Não se faça de santa Aurora, queremos os detalhes sórdidos.- Diz Jocelyn apertando meu braço a encaro tentando esconder meu choque.

- Jocelyn ! Ele é seu irmão! -

- E ela minha amiga Margo e eu quero saber o que aconteceu assim como você também quer.

- Obviamente. 

- Não rolou nada. - Digo baixinho tentando puxar meu braço. 

- Vocês dormiram no mesmo quarto, é claro que rolou alguma coisa.

- Não Jocelyn, não rolou nada acredite.

- Então vocês não... 

- Não Margo.

- Mas você estava tão linda. 

-Ele me disse isso a noite inteira mas não me tocou.

- E você queria que ele tivesse tocado em você ? 

- Sinceramente Margo, sim eu gostaria.

- Você está se tornando uma piranha perigosa Aurora. - Diz Margo sorrindo.

- Calma lá, uma piranha de um único cara. - Completa Jocelyn fazendo minhas bochechas arderem.

- Vocês duas deveriam se preocupar com a vida de vocês. - Digo tentando lembrar qual seria a próxima aula.

- Também estamos fazendo isso, fui com Margo escolher o vestido para o baile.

- Achei que eu iria  participar da escolha.

- E você iria mas é que não tínhamos nada pra fazer e eu estava nervosa.

- Você vai ao baile Aurora ? - Pergunta Jocelyn me encarando.

- Não sei.

- Claro que vai, você vai me colocar uma coroa esqueceu ?

- Sendo assim acho que vou também - Diz Jocelyn antes que consiga pensar em algo para dizer - Ei - Jocelyn chama um rapaz alto de cabelos curtos e com a gravata mal colocada que passava por nós e o faz se aproximar - Tem par pro baile ? 

- Não eu...

- Quer ir comigo ?- Pergunta o cortando e fazendo o rapaz sorrir. 

- Adoraria.

- Vejo você as oito então. 

- Cla... Claro - Diz o garoto saindo e soltando um sorriso.

- Quem era aquele ? - Pergunta Margo analisando o desconhecido de cima abaixo.

-Não sei  mas quero ir ao baile com alguém então...

- Você não pode convidar um cara que acabou de ver Jocelyn! - Advirto, para ser sincera pelo que sei (quase nada) ela deveria ir com alguém que gostasse e não o primeiro que encontra.

- É claro que posso, afinal ele só vai me pegar em casa e então dançaremos uma música e depois vou ficar com vocês  ele vai encontrar alguém melhor e vai fazer sexo com ela no estacionamento e fim é sempre isso o que acontece, não importa com quem você vai só o que acontece lá. 

- Por que vocês só estão falando de sexo hoje ? - Pergunto a encarando e ela sorri. 

 - É um assunto divertido.

- Não Jocelyn, não é.

- Relaxa Aurora, já sabemos que não é mais virgem - Diz Margo voltando a sorrir. 

- Margo!

- Ei, poderíamos escolher seu vestido hoje. - Sugere Jocelyn me encarando. 

- Eu não sei se vou ao baile Jocelyn.

- É claro que vai, você me prometeu.

- É, eu fiz.

-Então, vamos depois da aula ?

- Preciso fazer um trabalho de física mas podemos nos encontrar as duas horas no shopping. - Diz Margo.

- Perfeito. - Diz Jocelyn sorrindo. - Aurora ? 

 - Tudo bem. - Digo por fim, ouvimos o sinal tocar novamente e pego meu livro de línguas, por coincidência  Jocelyn ficou na mesma turma que eu, sentamos juntas na sala e ela repara em meu colocar, como Lauren fez. 

     No refeitório senti Lauren me observando, Margo também percebeu e mesmo Jocelyn defendendo a ideia de que era uma paranoia mútua sabia que estávamos certas. 

       Ao final das aulas me apresso para a ala infantil, algumas crianças brincam no parquinho perto das salas, corro pela ponte de madeira escura com telhado que liga o ensino médio e o ensino fundamental, quase todas as crianças já saíram e os pais estão se acumulando nas salas do pré.

      Quando chego a sala dela vejo a professora segurando a mão de Ashe, estão na porta da sala.

- Rora! 

- Oi - Ela vem até mim e me abraça pela cintura e a professora me olha séria, com certeza se decidindo entre ligar para o conselho tutelar ou o GOECTI para denunciar minha conduta. - Desculpe a demora estava em prova - O que era uma verdade, a prova de línguas estava péssima.

- Não toleramos atrasos senhorita, estava levando a pequena para o estacionamento.

- Com todo respeito mas é desnecessário, sempre irei buscá-la ou a agente Yamada o fará, tenho certeza de que é uma das especificações exigidas pela minha tia a instituição - Digo, não irei expor Ashe aos fotógrafos muito menos a perigo desnecessário e foi pensando assim que tia Sara solicitou a escola que não levasse Ashe para o estacionamento. 

- Então sugiro que não se atrase amanhã.- Diz a professora voltando a entrar na sala de aula e me deixar a sós com Ashe no corredor. 

-Não irei. - Digo por fim. 

- Quem é ela Rora ? - Pergunta Ashe  olhando para o corredor atrás de nós, viro-me e vejo um vulto de cabelos claros correr para o outro corredor.

- Aquela quem ?

-Tinha alguém tirando foto nossa ali.

- Estava de uniforme ?

-É, e era lora também.

-Não deve ser ninguém tem um monte de menina loira por ai - Digo sorrindo fazendo-a sorrir também. - Pronta para comer um almoço delicioso ?

- Pronta. - Responde mostrando os buraquinhos entre os dentes, seguro firme a mão de  Ashe e atravessamos o prédio em direção ao estacionamento, o agente Reinalds estava em pé diante da porta de saída a nossa espera e nos acompanha  até o carro. 

- Noan. - Cumprimento puxando minha mochila e a mala pequena para perto.

-Senhorita. - Disse Noan acenando coma cabeça. 

-Noa! 

-Pequena Ashe.

- Como foi de viagem senhorita ? 

- Foi maravilhoso Noan. 

- Gostei do seu colar Rora.

- É Ashe, eu também. -  Digo tentando segurar o riso, aprisiono o pequeno coração azul entre a palma da minha mão e vejo o sorriso dele, não era preciso fechar os olhos para lembrar dos momentos maravilhosos que tive. 

    Quando chegamos em casa Ashe sai correndo pelo gramado, e a sigo lentamente ela não parecia apressada assim para chegar em casa a alguns dias, ela corre para os quartos e abre minha porta me esforço para andar mais depressa e a vejo puxando algo de debaixo da almofada, a folha com a foto dela e do Charlie, Ashe encara o papel  e passa o dedo sobre a foto, como se conseguisse fazer carinho no rosto dele. 

    Coloco minha mala no chão fazendo barulho e ela volta a esconder a folha embaixo da almofada, como fizera com o jornal com a minha foto, talvez fosse assim que ela mantinha seus tesouros, escondendo, mas não precisava esconder de mim.

- O que está escondendo Ashe ?

 - Nada.

- Tem certeza de que não é nada Ashe ? 

- Só vim ver se ele ainda tava aqui Rora.

 - E quem iria tirar  ele dai ? - Pergunto a fazendo dar de ombros e encarar os pés.  - Não precisa esconder sua foto de mim Ashe.

-Não escondo de você Rora só gosto de colocar ela aqui, e vim ver se ela ainda vai ta quando eu chego. 

-Você gosta de ficar olhando pra ele né ?

- Gosto. - Confessa baixinho, vejo nas bochechas pálidas um vermelho se estender, estava envergonhada, a cena era quase fofa se ela não estivesse utilizando o meu quarto como esconderijo. 

    Tento não rir da situação e refaço meu caminho até a sala, pego um dos portas retratos de tia Sara com um foto minha, abro o objeto e grudo a foto na frente de outro porta retrato, pego a moldura vazia e retorno ao meu quarto e volto a flagrar Ashe olhando a foto de Charlie.

   Bato na porta antes de entrar no quarto e ela ergue a cabeça me encarando mas dessa vez não esconde a fotografia, caminho até a ponta da cama e sento, a chamo para sentar ao meu lado mas ela não o faz, permanece em pé me encarando enquanto segura seu bem precioso nas mãos pequeninas - Que tal se colocarmos sua fotografia aqui dentro ? - Pergunto mostrando a moldura. - Você vai poder abraçar e ela não vai amassar só até Charlie chegar e ai você vai poder abraçar ele com força.

- Eu vou. 

- Sem dúvidas - Ashe me entrega a folha fotográfica com cuidado e amasso as bordas do papel para que caiba no porta retratos, voltamos a sala e ela escolhe outra moldura volto a retirar uma das minhas fotos e coloco a foto de Ashe com sua família, a levo de volta para seu quarto e colocamos os porta retratos perto no criado mudo próximo da cama. 

     Eram as únicas coisas que mostravam que aquele era o quartinho dela. Pelo canto do olho vejo um cobertor dobrado de maneira estranha, como se fosse um bolo achatado em cima da cama, o puxo e encontro quatro adesivos grudados, não, não são adesivos, ela colou dois pedaços redondos de folha de caderno pintados de preto e um pedaço retangular embaixo dos dois pedaços superiores. 

- O que é isso ? - Pergunto erguendo a criatura estranha para ele, vejo as bochechas dela voltarem a ficarem vermelhas e encaro o cobertor com papel grudado.

-E minha filhinha que tava dormindo. - Responde Ashe baixinho, encaro o cobertor branco com papel grudado uma terceira vez e os pedaços do quebra-cabeças tomam sentindo, os pedaços de papel pintados de negro eram os olhos e o triangular vermelho era a boca. Era a coisa mais feia do mundo. 

- Sua o quê ?

 - Minha filha e aqui é o quarto dela.

- Usa isso como boneca Ashe ? 

- Ela não é isso Rora ela é minha filha. - Responde Ashe tomando a coberta enroladinha das minhas mãos parecendo chateada.

- Certo, desculpa. Mas por que ela fica no centro da sua cama ? É meio bizarro não acha ?

- Porque é aqui que ela dorme e você dorme no meio da sua ama então ela também dorme no meio da cama dela.

 - E essa coisa ficou com um quarto só pra ela ? 

- Fico, porque ela usa a cor da parede e fica tudo combinando - Diz Ashe voltando a sorrir ao encarar o cobertor com papel colado. Sem querer Ashe chuta algo que rola para baixo da cama, me aproximo do lado esquerdo do móvel e  encontro duas xícaras de porcelana, um copo e um prato de porcelana branca com a borda quebrada estão espalhados no carpete creme.


- Joana sabe que pegou as xícaras da cozinha ?

-Num é xícara é o sofá da casinha. - Encaro boquiaberta as porcelanas brancas no chão e tento usar a lógica que ela adotou,  as xícaras estavam de frente para outra e entre elas, no centro, estava o copo, se cada xícara era um sofá então o copo era.... 

- O copo é mesa ? -  Pergunto encarando Ashe que parece me ignorar. 

- Não, é a mamadeira da minha filha. - Ashe pega o copo e o coloca virado com cuidado sobre o papel vermelho - Ta vendo, ela ta comendo - Diz sorrindo. Olho mais uma vez o quarto branco, não tem bonecas nem nada infantil aqui, e Ashe parece estar enlouquecendo. 

  Sinto meu peito vibrar fazendo meu seio doer, retiro o celular de dentro do bolso da camiseta do uniforme e vejo uma mensagem de Jocelyn  avisando para encontrá-la numa loja do shopping e aquilo me faz ter uma ideia. 

- Ashe - A chamo, ela para de encarar o cobertor branco e me encara. -  Quer ir comprar uma boneca de verdade comigo ? 

- Ela é de verdade Rora. - Responde séria com um toque de chateação no olhar. 

- Não Ashe, ela é um cobertor enroladinho com pedaços de papel colados, quer comprar uma boneca que tenha um nariz e cabelos para você pentear ? - A ideia parece tentadora Ashe morde indecisa os lábios e encara o cobertor em seus braço, ele parecia ter perdido o brilho diante daquela proposta.

- Eu quero. - Diz por fim. Ligo para tia Sara e peço o número da minha conta bancária, afinal preciso de de dinheiro, ela me pede para usar um cartão de credito que está dentro da minha cômoda na segunda gaveta, e alerta para não fazermos paradas desnecessárias pelo caminho. 

       Depois do almoço vou com Ashe até seu quarto e a ajudo a vestir um vestido branco de rendas e um casaco azul escuro, faço um rabo de cavalo nela e coloco uma fita branca da mesma forma que Joana colocou uma vez em meus cabelos. 

      Vamos para o meu quarto e visto um shorts azul claro e uma camiseta branca. Aviso aos agentes da saída não agendada e emburrados eles nos acompanham até o carro. 


      Noan chega ao shopping em quarenta e cinco minutos, mando um torpedo para Jocelyn avisando para me encontrarem no departamento de lojas infantis e acompanhada pelos dois agentes vou com Ashe para uma loja de brinquedos.

   Ela escolhe uma boneca de cabelos longos castanhos e olhos claros, tinha um vestido rosa e sapatos brancos.

- Essa parece com você Rora. - Comenta sorrindo. 

-Por que não escolhe outra ?  Uma que pareça com você ?

-Porque eu quero essa que parece com você.

-Não tenho olhos azuis. 

-Mas num importa Rora, quero essa porque me lembra você.

-Tudo bem você pode ficar com essa só estou sugerindo que escolha mais uma. 

-Vô ganhar duas ? 

-Compraria a loja inteira pra você Ashe. 

-Sério ?  - Pergunta sorrindo. 

-Sério. Escolha mais uma. 

- Eu posso ?

-É, você pode. - Ashe acaba escolhendo um bebê careca e uma outra boneca com cabelos castanhos de saia azul. 

    Peço a Ashe que escolha uma e escolha a boneca de vestido, peço a vendedora que empacote as outras duas e  Ashe leva feliz entre os braços a boneca de cabelos longos e vestido cor de rosa. 

    Damos a volta na loja e passamos por uma outra, também infantil, com uma cama enfeitada com cobertores rosas e uma flor como abajur, puxo Ashe para a loja de roupas de cama e mando  que ela escolha novos cobertores para a cama dela, e ela o faz, compramos almofadas em formatos de flores e estrelas, cortinas cor de rosa e toalhas com desenhos infantis, um tapete rosa e o abajur em formato de flor. 

     Voltamos para a loja de brinquedos e procuramos mais itens, Ashe pega um ursinho panda que mostrava a língua e um carrinho de bebê rosa de plástico. 

    Quando chegamos a loja de vestidos que Jocelyn marcou, tanto os dois agentes quanto eu e Ashe estávamos cheios de sacolas. Vejo as sobrancelhas de Margo subirem e a boca com o batom escuro formar um 'o', Jocelyn deixa o milk-shake cair no chão  e refaz a expressão de Margo. 

- Dia de compras. -  Digo dando de ombros.

- Eu ganhei um bebê! - Anuncia Ashe sorridente levantando a boneca de vestido rosa.

- Ela é linda Ashe. - Diz Jocelyn voltando a se recompor. 

-  E ganhou um monte de outras coisas também. - Comenta Margo encarando as sacolas com o nome das lojas infantis. 

- Vamos dar vida ao quarto dela, e como é uma menina que gosta de rosa achei que iria ficar legal. 

- Quem mais acha que ela exagerou levanta a mão - Diz Margo erguendo a mão e todos a encaram. - Proíbo que me olhem dessa forma - Diz nos encarando. -  É ela que tem problemas com o cartão de crédito. 

- Então vão decorar o quarto da Ashe ? - Pergunta Jocelyn mudando de assunto. 

- Esse é o plano. - Respondo sorrindo fazendo Ashe sorrir também.

- Nesse caso, vou junto para casa de vocês e ajudarei a arrumar o quarto quando sairmos daqui. - Ela se oferece.

- Achei que iríamos escolher um vestido. - Comenta Margo a encarando.

- Eu também achei. - Digo a encarando. 

- E vamos.

- Ajudar no quarto e nosso segundo destino - Diz Jocelyn antes de nos puxar para a loja de roupas, deixamos as sacolas com o agente Reinalds e a agente Yamada, que cuidam de Ashe enquanto procuramos os vestidos. 

     Margo se anima com um azul turquesa mas Jocelyn insiste nas cores leves me dando um rosa e um pérola, pego as três opções mas não me agrado, pareço mais com um abacaxi usando roupas, o pensamento faz minha auto estima morrer  e elas me forçam a continuar procurando mas as opções não me parecem boas, é tudo escandaloso ou brilhante de mais. 

    De mãos vazias partimos para a próxima loja. 

- Quero algo simples - Peço a vendedora que nos mostra uma infinidade de vestidos de seda e com penas, no final do dia voltamos para casa com tudo para decorar o quarto de Ashe mas sem nada para que eu usasse no baile.
  

Leia o Primeiro Capítulo.

Capítulo 1. Uma Face Conhecida.

        Há alguns anos o país de Lori conheceu a história de uma amizade verdadeira. Graças a coragem de uma garota de dezesseis anos, outr...