sábado, 29 de agosto de 2015

Capítulo 18. Lauren

Lauren 

 
O despertador me chama, um raio de sol entra sem convite por minha janela, abro os olhos e observo aquela linda cena a minha frente, meu quadro com a foto do dia do aniversário de Jocelyn, amo aquela foto, meu cabelo estava estonteante, meu vestido, um Rem Aahg genuíno, Otto Brown flertou comigo e o melhor de tudo, foi a noite que ouvi Aurora Richards gritando de dor. 

    Levanto-me e me preparo para um belíssimo banho quente, o dia hoje será perfeito, como de rotina, amo essa nova rotina. Pego minha tiara de brilhantes, calço meias longas e coloco meu scarpin rosa claro, ele combina com minha mochila nova. Mais uma conferida no espelho, amo o que vejo, sem dúvidas a Barbie morreria de inveja, pego meu celular, tiro uma foto e posto. Desço para o café da manhã e meus pais já estão lá. Mamãe está divina num vestido azul claro, cabelos em um rabo de cavalo alto e lindos brincos de ouro branco. Papai usa o terno caro de sempre e bebe café. 

- Bom dia - Sorrio, vou até papai e lhe dou um beijo, refaço o processo com minha mãe e me sento de frente para ela. 

- Bom dia querida.- Diz meu pai sem olhar pra mim, as vezes isso me irrita e como se as coisas fossem mais importantes que eu. 

- Lauren, como ficou a organização para o leilão ? - Mamãe pergunta, ela está uma pilha, desde que anunciaram a morte da anã pedi permissão para leiloar  as roupas e os pertences que sobraram dela, papai não ligou e mamãe estava nervosa, uma grande equipe de uma revista adolescente iria cobrir o evento e eu estava animada, muito animada. 

- Está a todo vapor, disse pros jornalistas que o leilão seria aqui no jardim pois queríamos algo pequeno e privado, até porque nesse momento de dor seria errado chamar muita atenção.  - Vejo um sorriso brotando dos lábios do meu pai, ele deixa o jornal de lado e me encara. 

- E o que a senhorita pretende fazer, exatamente ? 

- Mamãe e eu convidamos algumas pessoas para fazer os leilões, gente corriqueira, Jocelyn Brown a filha do governador, algumas estilistas que vestiram Aurora, porque  pretendo desfilar para elas no futuro, a mulher do presidente, já que ele não tem filhas, as filhas de alguns políticos ah, Amanda Jonnes uma designe de joias, a família dela tem uma fabrica de diamantes e algumas filhas de empresários, em suma, gente conhecida. 

  - Não esqueça das meninas do seu colégio, devemos manter as aparências, fizemos um sorteio online para alguns desafortunados, demos algumas blusas velhas, e precisamos que você tente misturar as diferentes classes, para terem uma boa imagem de você. 

- Mamãe me fez convidar os bolsistas da Lorentz Franz e duas ou três meninas que não gostava da Aurora, mas me certifiquei de que elas só vão falar coisas  negativas da senhorita Richards na entrevista. 

- Não me importo com o que elas vão falar, quero elas fora antes das oito, Brianna certifique-se de que suas convidadas tragam seus maridos, precisamos formar alianças de influências. 

- Odeio quando você me subestima querido, já liguei para as damas e coletei informações, o senhor presidente não virá, mas a mulher dele sim entretanto recebi um talvez  do governador, a filha mais nova dele virá então é possível que ele venha, já alguns  dos empresários convidados confirmaram presença. 

- Você é perfeita, bem mulheres da minha vida, preciso trabalhar sei que vocês farão o evento do ano. - Papai se levanta e beija minha mãe em seguida a mim - Tenha um bom dia - Ele diz e sai pela porta, o humor dele melhorou bastante desde que Aurora morreu, até me deu um corrente com diamantes, mamãe também está feliz, ela parece mais jovem, menos preocupada e sorri mais, isso me deixa muito feliz. Pego minha mochila e vou pro carro, Noan, o velho ridículo que trabalha para nós está doente, papai teve que pagar uma consulta a domicilio porque ele é imprestável de mais para ir ao médico sozinho, não sei o que ele tem mas é alguma coisa surgida com a morte dela, acho que é uma doença relacionada a pressão, ou depressão, ou algo assim, de qualquer forma não importa, mamãe tem que me levar a escola agora e eu adoro andar no conversível dela, estamos a dois quilômetros do Lorentz Franz High quando ela puxa meu fone de ouvido. 

- Sabe o que deve fazer, nada de sorrisos exagerados ou animação desnecessária, você tem que fazê-los acreditar que está triste, tão triste quanto Joana. 

- Ai que ridículo, não vejo necessidade de expressar muito mais tristeza, já fiz isso no enterro, faltei aula, fiquei triste o jantar inteiro que o governador deu pra gente, tive que recusar o convite para o desfile de O'brey, eu não sei por quanto tempo mais quero fingir estar assim, estou cansada disso. 

- Esqueceu quantas coisas conseguiu com isso ? Jocelyn Brown a mandou flores e a convidou para um chá, troca de telefones com Otto Brown, atenção de revistas e paparazzis, convites para desfiles, Lauren estamos todos ganhando com isso então é melhor continuar. 

- Estou cansada de usar preto mamãe! Estou farta de ficar chorando e de ficar em casa, eu estou na fase mais feliz da minha vida e tenho que fingir estar triste, que absurdo!

- Só por mais um mês, e ai você será mais brilhante que a lua. 

- Assim espero. - Digo, encerramos a conversa e ficamos em silêncio, odeio falar dela, apenas mencionar o nome dela fez o clima ficar pesado, odiei quando tiveram que fechar a escola por uma semana devido a morte dela, o que tem haver com as aulas ? E por que ainda fazem reportagens sobre a vida dela ? Eu adoro aparecer e dar entrevistas, mas já não aguento pronunciar o nome dela. Fotos, camisetas com fotos, protestos, cartazes pedindo justiça... Isso tudo é ridículo, ela deve ficar em baixo da terra e ser esquecida, mas as pessoas se recusam a fazerem isso, é só mais um crime sem culpados, eles não fazem protestos pelos vários crimes não solucionados por que acharam de incomodar a justiça justamente com esse ? Essas pessoas são repugnantes. 

     Quando chegamos no colégio sou bombardeada com a quantidade de celulares apontados para mim assim que desço do carro, eu gostaria de erguer a cabeça, acenar e mandar beijos para as câmeras, mas tenho que baixar a cabeça e fazer cara de triste, e isso me deprime, entro correndo pelos portões e não consigo mandar um beijo para minha mãe, sei que ela vai entender mas mesmo assim eu deveria ter feito. 

    Assim que entro, os guardas me ajudam, eles tomam os celulares dos alunos e os levam para a direção, infelizmente o diretor proibiu o uso deles nos corredores. 
   
   Vejo Vanessa e Hannah me esperando próximo a porta da sala de história, coloco a máscara de tristeza e apareço. 

- Qual é Lauren, você não tem motivos para continuar assim, nem mesmo gostava dela. 

- Vanessa! Não vê que ela está em um momento difícil, não ter  quem sentir inveja deve ser muito doloroso. 

- Não seja ridícula Hannah, sabe muito bem que ela sempre me invejou. - Digo, Hannah e tão idiota quanto burra, e isso me irrita - Estou triste pelo fato de não ter ninguém para ter inveja de mim.

- Bem, não era isso que aparentava, você comprou essa tiara porque ela ganhou uma idêntica no aniversário de dezessete, você deixou o cabelo crescer porque ela sempre teve cabelo longo, você comprou uma mochila igual a dela só que rosa, e ela quem usava meias acima do joelhos com scarpins e não você, e me desculpa mas todos na Lorentz Fraz High gostavam dela mesmo ela sendo mais reservada, o que é quase impossível mas as meninas aqui dentro queriam ser amigas dela e não suas.  - Chocada, não consigo acreditar que uma das minhas melhores amigas acabou de dizer isso pra mim, seguro firme minha mochila e entro na sala, a deixando para trás, terei novos amigos agora, não precisarei delas. Sento da carteira da frente como sempre, e Vanessa senta ao meu lado.

 - Sabe que ela não disse isso por maldade. 

- Por inocência definitivamente não foi. 

- Lauren você sabe Hannah é ingênua e meio burrinha, ela parece uma retardada e se não fosse bonita estaria perdida no mundo. 

- Correção, se não fosse por nós, estaria perdida no mundo, eu não acredito que ousou dizer que eu estava copiando a difuntinha. 

- São apenas fatos Lauren, você pode discutir e brigar mas não irá mudá-los. 

- Se está se voltando para o lado opositor fique a vontade para cair fora, não preciso de gentinha negativa ao meu lado.

- Não estou fazendo isso, o que quero que você entenda é que não pode se vestir como ela sem que as pessoas te associem, elas sempre fizeram isso e vão continuar com mais intensidade agora que Aurora morreu. 

- Isso é ridículo e você sabe. 

- Pode até ser mas você sabe que estou certa - Vanessa para quando o professor nos encara, ele está falando de uma guerra do mundo antigo, alguma coisa relacionada a Esparta e a Atenas e alguns invasores. Me sinto como a Grécia, tentando ser invadida por uma Persa de segunda, mas como na história, os gregos matam e vencem os persas. - Fiquei sabendo que a irmã de Margo Banson está estudando aqui. 

- Eca - Só consigo pensar isso, mais outra Banson na escola, eles deveriam proibir esse bando de putas de entrarem aqui. 

- Quer fazer uma visita na ala fundamental na hora vaga ? - Pergunto. 

- Achei que tivéssemos  parado com esse tipo de coisa.

- E paramos sorrio - A conversa morre e esperamos o sinal tocar, Hannah vem atrás de nos, estamos indo a paços largos para a ala fundamental antes que a senhora Terif nos pegue. 

- Ala fundamental ? Achei que tivéssemos parado de pegar as joias das crianças.

- Não vamos pegar nada de ninguém dessa vez, vamos entregar. - Digo contendo o sorriso.

- Entregar o que ? 

- Um recado Hannah, apenas um recado. Vanessa qual é o ano que ela estuda ? 

- Acho que é o sexto. - Seguimos para a sala do sexto ano  olhamos pela janela, não vejo nem uma ruiva mirim nas bancas da frente estou quase desistindo quando Hannah me chama.

 - Lauren, penúltima banca lado direito  - Meus olhos correm, vejo uma menina ruiva cm uma faixa negra sobre os cabelos soltos, parece uma fadinha, uma fadinha ridícula 
- Segurem minha mochila e me esperem no corredor. Deixo Hannah com minha bolsa e as espero virarem o corredor, assim que o fazem, vou para a porta da sala. A professora me vê e vem até mim, faço cara de inocente. 

- Eu ainda não tive oportunidade de dizer mas sinto muito pelo que aconteceu com Aurora, espero que consigam encontrar os bandidos e os punirem com justiça - Quase vomito, mais uma, que ridículo, me seguro para não revirar os olhos e cuspir nela mas dou um sorriso amarelo e prossigo. 

- Obrigada senhora, eu a amava  tanto,  estou rezando para encontrarem os culpados e os castigarem. 

- Em que posso ajudá-la senhorita ? 

- Preciso falar com a ruivinha novata - 

- A senhorita Banson ?  Alguma coisa errada ? 

- Não senhora apenas um recado da irmã - A Professora olha para a turma e chama a garota, pequena de mais para a idade, com cabelos longos  volumosos e cacheados com um tom acobreado, a faixa se destaca na cabeça dela, ela chama atenção, ela me lembra a Aurora e sinto nojo repulsivo por ela no mesmo instante, a garota me encara e faz cara de brava, acho que ela sabe quem sou. - Pode ficara ai. - Digo e ela para próximo a porta, elevo o tom da minha voz para ter certeza de todos irão ouvir. - Olha dá pra avisar pra sua irmã parar de transar com Brian no ginásio ? Ninguém da minha turma está aguentando os gemidos escandalosos dela, e avisa aos seus pais que ela não está usando camisinha, até porque vocês são humildes e  não teriam condições de criar um bebê não sei com que milagre vocês não passam fome mas tenho certeza de que se essa criança vier a nascer vocês irão passar - Vejo a cara de chocada que ela faz, ela fica vermelhinha como seu cabelo e ouço os sorrisos das outras crianças da turma, sorrio e faço uma expressão doce -  A reputação da Lorentz Franz High  está nas suas mãos. - Sorrindo  deixo a sala, ouço a professora gritando e me apresso ao encontro de Hannah e Vanessa

- O que você disse a ela ? - Pergunta Hannah me entregando a mochila. 

- Nada de importante, só que a irmã dela está transando no  ginásio e que todos da minha turma de educação física estão cansados dos gemidos escandalosos.

- Eu não acredito que você disse isso a uma garota de doze anos. 

- Disse, e me certifiquei de que todos na sala dela tenham escutado.

- Barniel esse é o melhor jeito de se sair do luto! - Vanessa sorri a me dá um tapinha. 

- Você é um cobra- Admite Hannah sorrindo.

- Vamos depressa, tenho um leilão para fazer as três horas. As meninas e eu matamos o restante das aulas e fugimos para o shopping, Hannah queria comprar algo memorável e Vanessa precisava de sapatos, em seguida fomos para minha casa, o jardim estava um caos, decoradores, buffet, técnicos de câmera, repórteres fazendo os ajustes e um lindo palco de vidro estava sendo montado no centro. 

- Essa vai ser a sua estreia mundial! Estou tão animada por você amiga! - Hannah me abraça e entramos correndo para a casa para não sermos vistas. 

- Deveriam estar na escola. O que estão fazendo aqui ?

- Ah mamãe, estou tão nervosa e ansiosa para hoje que não consigo me concentrar nos estudos.

- E nos absorvemos o nervosismo e ansiedade dela - Diz Vanessa.

- Verdade - Completa Hannah, minha mãe nos dá um sorriso e subimos as escadas correndo em direção ao meu quarto. Hannah liga a TV e Vanessa me ajuda a escolher o vestido que devo usar, alguns estilistas mandaram três opções para mim e estou muito animada, mesmo que todos sejam pretos, mas mesmo assim, os mandaram para mim. O primeiro é curto dois dedos acima do joelho, com algumas rendas na saia, bem acinturado com decote em concha. O segundo é longo, tem um bela fenda em v e deixa meus seios desejados, o tecido é leve e esvoaçante. O terceiro parece com o que Aurora usou no desfile de Sropme, é longo tem uma fenda enorme na perna esquerda, ombros caídos é um decote sedutor e discreto ao mesmo tempo.

- Já escolheu qual deles vai usar ? - Pergunta Vanessa. 

- Estou em dúvida entre os dois longos. 

- Bem eu escolheria o segundo, o terceiro, se você o imaginar azul claro vai parecer com o que a defunta usou no desfile da Sropme. 

- Você tem razão - Digo, escolho o segundo e recolho os demais, Vanessa e eu estamos prontas para escolher os sapatos quando Hannah grita. 

- AAAi meu DEEEUS! Lauren, vem aqui!- Vanessa e eu corremos até ela que aponta para a TV, está passando um jornal de segunda e uma foto de Aurora suja e usando o uniforme da Lorentz Franz High está atrás, parece que ela saiu do túmulo para impedir que eu leiloe suas coisas. 

- Aumenta essa droga!! - Ordena Vanessa e Hannah aumenta o volume da TV.

    No vídeo ela aparece pedindo para que sua tia, Sara Breslau, vá a seu encontro o senhor de setenta e dois anos que emprestou o celular para a realização do vídeo afirma que a suposta garota era Aurora Richards, até então dada como morta por seus parentes. A reportagem acaba e um homem falando do tempo surge.

- O que ela tava dizendo? Quem era aquela suja que estava aparecendo na tela?

- Eu não sei, peguei no final, parece que tem um vídeo circulando na internet que ela aparece. - Diz Hannah, pego meu celular e vou pro canal de vídeos, digito o nome dela e e um vídeo em destaque me chama atenção, clico e espero carregar, ela está olhando para baixo no início mas no terceiro segundo encara a câmera. 

 Suja, desgrenhada, com lama no rosto, lábios rachados e a voz embargada, é ela. O cabelo a denuncia, a forma de encarar a câmera com olhar de coitadinha a denuncia, a forma como ela chama Sara a denuncia. Esse tempo todo e Aurora não estava morta. 




sábado, 22 de agosto de 2015

Capítulo 17- Agente Brown.

    
     As portas do elevador se abrem, diferente dos outros andares este não tem uma recepcionista a poucos metros do elevador. Mesas enormes de inox reúnem diversas garotas, sinto-me no refeitório da Laurentz Franz, se todas estivesse vestindo capas negras, poderia jurar que desci no andar de Hogwarts. 

   Localizo a fila para pegar a comida, não tem quase ninguém nela. Pego um bandeja prata e vou para o final.

   Panquecas, uma maçã, um iogurte e um copo de leite, não percebo que estou faminta até observar a comida em minha bandeja, saio da fila e vou atrás de algum lugar pra sentar. A quantidade de meninas é quase inacreditável, de todos os tamanhos, de todas as idades, e tia Sara e o GOECTI salvaram todas, sinto orgulho da minha mãe, do meu pai, da minha tia, e de cada pessoa que trabalha aqui. 

    Encontrar um lugar para sentar está mais difícil que pensei, continuo indo em direção ao final do refeitório até que escuto meu nome.

- Aurooora!! - De novo, viro e procuro a voz, vejo Ashe em cima do banco de inox com os bracinhos esticados, vou para a fila da esquerda e caminho até o meio da grande mesa     - Guardei lugar - Ashe está sorrindo, e está com as perninhas abertas sobre o banco.. É a primeira vez que a vejo limpa, seu cabelo longo e castanho está brilhoso e cheiroso, ela usa as mesma roupas que eu mas em uma versão menor, escovou os dentinhos que ainda restaram na boca e está radiante. Coloco minha bandeja entre a dela e a de Ellie que vai mais para o lado para que eu consiga sentar. 

- Quer sair de cima do banco sua retardada ? Se te pegarem  ai você vai estar ferrada. - Ordena Vanilly segurando o garfo próximo a boca.

- Não a ofenda - Digo - Enquanto eu estiver por perto, não quero que ninguém a xingue ou fale coisas ofensivas. Espero que tenha sido bastante clara. - Todas me encaram, Vanilly principalmente, elas se calam e começam a comer em silêncio, vejo um resquício de  sorriso no rosto de Érica, ela parece bem melhor, o cabelo que antes era crespo deu lugar a belos cachos curtos, que ficam para cima de uma forma estilosa. 

- Miranda me deu um banho de água quente - Diz Ashe quebrando a quietação - e veja - ela levanta a blusa mostrando o paninho branco que cobre seus seios - Ganhei um sutião.  - Dou uma gargalhada alta e ela continua sorrindo. 

- Ashe! Abaixe isso - Miranda a repreende - Não pode mostrar essas coisas na frente de tanta gente. - Ashe faz beicinho e abaixa a blusa. 

- É parecido com meu - Digo levanto a blusa e baixando rapidamente - E o nome correto querida é sutiã e não sutião. 

- Você também ganhou calcinhas ? 

- Ganhei - Respondo sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas, ela está feliz de uma forma que não pensei que fosse possível. Ver esse sorriso em seu rosto faz tudo valer a pena, não pensaria duas vezes em ferir meus pés com espinhos ou até mesmo brasa quente  só para vê-la feliz.      - Faz muito tempo que vocês chegaram ?- Pergunto a Ellie e começo a comer minhas panquecas que estão deliciosamente gostosas. 

- Uma moça ligou pro quarto que eu Vanilly estávamos e nos mandou descer, chegamos aqui as seis em ponto. O que aconteceu com seus pés?

- Machuquei com espinhos enquanto corríamos.

- Você acha que eles podem nos encontrar ? - Ela pergunta em um tom baixo

- Não, olhe a sua volta, tem umas mil garotas só neste andar e um exército de soldados nos andares acima e abaixo de nós, eles serão mortos antes tentarem pegar qualquer uma aqui dentro. - Vejo Ellie suspirar. 

- Eu quase não acredito que esteja mesmo aqui - Olho para seu prato, ela já acabou de comer. 

- Pra ser sincera, nem eu mesmo acredito que conseguimos escapar. - Termino de comer minhas panquecas e estou pronta para atacar meu iogurte quando Ashe chama minha atenção.

- Aurora aquele não é seu namorado ? - Ela aponta para Otto, sem camisa e com gazes pelo peito e ombro, ele acabou de sair do elevador e está a duas mesas de distância, ele encara todas as meninas sentadas nas mesas por que passa, está procurando alguém, meu coração dispara, desço para baixo da mesa e trago Ashe para baixo  junto, não posso arriscar que ela denuncie minha posição. 

- Ele não é meu namorado - Digo por fim.

- Por que estamos nos escondendo ? Ele é do mal ?

-Não, ele não é do mal, mas não quero vê-lo agora.

-Tem vergonha que ele veja você com nós ?

- Não, não é isso, só não quero conversar agora, quero comer e rir um pouco com você, não quero ter que relembrar tudo novamente, entende ? 

- Não. 

- Eu só quero conversar com meninas hoje.

- Aah! - Ashe me encara e sorri - Depois você arruma meu cabelo igual ao seu ? - Sorrio de volta e concordo com a cabeça. Olho para a frente da mesa e um par de coturnos pretos está parado no final da banca, a alguns metros. 

- Ashe, de onde conhece o Otto ? 

 - Eu vi ele na TV quando estava comendo, a moça do jornal disse que vocês eram namorados. 

 - Você já estava naquele lugar quando viu isso na TV? 

- Sim, eu lembro porque nesse dia cortaram o cabelo da Érica e ela estava muito triste e eu fiquei com medo de cortarem o meu. 

- Ninguém vai cortar o seu cabelo aqui, okay ? 

- Okay - Ashe não sorri, apenas encara o chão  - Você também vai salvar meu irmão ? - Aquela pergunta me pegou completamente desprevenida, mas se eu estivesse no lugar dela iria querer que salvassem meu irmão também, passo a mão sobre seu cabelo limpo. 

- Lembra quando você me disse que tinha um irmão ?

- Sim - Ela me encara.

- Eu prometi que iríamos buscá-lo, não prometi ?

-Prometeu.

- Uma promessa não pode ser quebrada, pode ? 

-Não. 

- Eu vou buscar seu irmão, da mesma forma que fui buscar você - Vejo seu sorriso voltar mais uma vez, aquilo aperta meu coração, ela me abraça e ouço um "obrigada" abafado, viro a cabeça para onde estávamos sentadas e solto um grito. 

   Otto está sentado do outro lado do banco e nos observa sério. 

 Sinto uma onda de calor invadir meu rosto, como ele me encontrou no meio de tantas garotas ? 

- Vai continuar se escondendo ou vai vir falar comigo ?- Solto Ashe que arregala os olhos ao vê-lo.

- Ela disse que só quer falar com meninas hoje, volta amanhã. - Responde ela a minha frente. 

- Só com meninas ? 

- É só com meninas - Confirma Ashe, não consigo falar, as palavras somem da minha boca consigo pensar apenas encará-lo, ele está sorrindo.

- Tem certeza senhorita ? - Otto levanta uma das sobrancelhas e Ashe me encara, nego com a cabeça, tiro meus braços de Ashe e vou em direção ao banco. Otto se levanta e me espera de pé, uso o banco como apoio e me levanto, o encaro. Ele olha para meu braço esquerdo, para minha pinta e volta a sorrir, ele me abraça forte, timidamente passo os braços sobre sua cintura definida, até chegar em suas costas, o abraço forte e o sinto gemer de dor. Acho que ele fez algum movimento proibido com os ombros. Sinto os bracinhos de Ashe sobre minha cintura, ela também está me abraçado, aquilo me faz sorrir. Otto se afasta e beija o topo da minha cabeça. 

- Disseram para esperar até amanhã, mas não consegui ficar deitado sabendo que você estava viva, e a um andar abaixo do meu. 

- Então você também é um fugitivo ? - Vejo um sorriso  nascendo em seus lábios. 

- Estou sempre fugindo dos médicos.

- Isso não é bom senhor Brown.

- Dizem que não, mas não consigo me conter. Você não faz ideia do quanto eu estou feliz por vê-la respirando Senhorita. - Otto me abraça mais uma vez. 

- Também estou feliz, muito feliz na verdade, em vê-lo Senhor Brown.

 - Aqui dentro é Agente Brown - Ele diz baixinho.

- Desculpe-me agente - Sinto os bracinhos de Ashe apertando-me com força, me afasto de Otto e passo a mão sobre o cabelo dela - Pode abrir os olhos Ashe. - Ela abre os olhos e para de sorrir, me encara, acho que estraguei seu momento mágico do abraço em trio. Otto a encara e ela fica vermelha.

- Otto essa é Ashe, uma amiga fiel - Ela encara o chão, está vermelha. 

- É um prazer conhecê-la senhorita Ashe. 

- Ashe, esse é o Otto Brown, mas tenho certeza de que você já sabe disso, ele é um amigo. - Ashe me encara e aperta os olhos, Otto percebe e dá uma gargalhada. 

- Tá - Diz ela finalmente e estende a mão para Otto - Prazer - Otto aperta sua mãozinha estendida.

- O prazer é meu senhorita - Ele se abaixa e se apoia em apenas um joelho,  beija a mãozinha dela que sai correndo de vergonha, a vejo se esconder atrás Miranda - Fiz alguma coisa errada ? 

- Acho que ela só ficou um pouco envergonhada - Otto se aproxima mais uma vez, ele passa a mão sobre a pinta no meu braço. - O que está fazendo ? - Pergunto sem recuar, ele sorri e me abraça novamente.

- Nada, qual o número do quarto que você está ? 

- Por que ? 

- Preciso vê-la sem  tanta gente nos observando - Olho em volta, todas as meninas nos observam, fico vermelha e tento me afastar. Ele me segura com força contra seu peito - Você não respondeu senhorita. 

- 225 Agente, agora por favor, deixe-me ir. - Otto me solta e no mesmo instante duas moças vestindo branco entram no refeitório. - Acho que te encontraram.  - Ele faz uma careta e sorri, elas não parecem nada amigáveis.

- Espero vê-la mais tarde - Ele vai em direção as duas enfermeiras que o encaram  feio. Eles conversam algo que não consigo escutar e em seguida seguem para o elevador, e assim que entra, sinto o peso de vários olhares sobre mim. 
   
   Tento agir com tranquilidade, sento no meu lugar próximo a Ellie e Ashe, pego meu iogurte e coloco a colher dentro.

- Você não pode me apresentar a caras - Ashe chama minha atenção, ela está encarado a maçã em sua bandeja. 

- O que ? 

- Eu só tenho sete anos, estou muito nova pra conhecer caras. - Dou uma gargalhada alta, Ellie e restante das meninas riem junto. Eu amo essa garota.  

sábado, 15 de agosto de 2015

Capítulo 16. Riscos Desnecessários.

     
     Faço o que ela pede e vou em direção a cama, o colchão fino parece uma nuvem, não consigo segurar o impulso de  deitar e olhar para o teto. 

- Eu sei que você teve uma noite agitada e a única coisa que deseja agora é dormir, mas precisamos conversar Aurora. 

- Eu sei.

- Então me diga, o que aconteceu no dia que você saiu da casa de Margo Banson ? - Fecho os olhos e mais uma vez tento me concentrar naquela noite, o céu estrelado, Margo gritando para que eu corresse, a bagunça que o cachorro dela fizera na casa, os filmes... 

 - Quando peguei meu celular para ligar para Noan vi que ele estava descarregado, e não consegui encontrar o carregador na mochila. 

- Você tem certeza de que o levou para a escola aquele dia?  

- Sim, mas não o encontrei quando cheguei na casa dela, então como a mãe dela não estava, ela se ofereceu para ligar para um táxi. 

- Por que não ligou pra sua casa ?

- Porque  tia Brianna nunca iria mandar Noan ir me buscar. 

- Continue.  

- Estava com medo de andar de táxi e ela me disse o que eu deveria fazer, depois rimos disso, de repente os faróis de um carro começaram a se aproximar, e acabaram nos cegando,  estava quase a um metro de distância quando todas as portas do carro se abriram, ela gritou e me mandou correr, foi o que fiz, mas não consegui ir muito longe, senti uma pegada forte no meu braço seguido por uma pancada na cabeça,  alguém apareceu a minha frente mas não consegui reconhecer o rosto, a luz do poste ofuscou minha visão.

    "Lembro que senti outra dor profunda no lado direito da cabeça e tudo ficou escuro. 

    Quando acordei estava em um cômodo mofado, e uma goteira próximo a minha perna, Ana estava chorando e Ashe me encarava sorrindo, ela sempre soube que eu era. 

   Érica, a menina forte com cabelos curtos, veio me interrogar, saber das minhas condições de vida ou se eu tinha alguma doença que pudesse ser passada para as demais,  fiquei com tanto medo dela me agredir por ser... Bem, por descobrir quem eu era que acabei mentindo sobre mim, disse que me chamava Luz, que uma amiga da minha mãe me criou e que sobrevivia de doações, elas acreditaram e me deixaram em paz, mas Ashe sempre soube quem eu era, foi a única que me reconheceu, ela tinha um jornal que achou no lixo nas mãos e uma foto estampada na primeira página e ela estava me encarando, de nada adiantaria mentir, ela guardou meu segredo como se fosse dela."

 - Como ela soube de você ? 

-  Ela encontrou um jornal na lixeira que ficava na área de pegar sol, olhou para a foto e me encarou, depois olhou mais uma vez para ter certeza e sorriu, era ridículo tentar esconder dela, então escondemos o jornal e eu  fiz algumas manchas com lama no rosto - Digo passando a mão sobre meu rosto com lama ressecada

 - Se sujou de propósito ? 

- Sim e não, mas em relação ao rosto sim, no corpo... Algumas coisas são difíceis de evitar quando se tem que dormir sobre papelões retirados do lixo num quarto mofado e úmido. - Levanto-me e sento na cama, encaro minha tia que olha para mim, seus olhos estão marejados.

- Levante-se e tome um banho, tem algumas roupas na cômoda, descanse e mais tarde conversaremos - Tia Sara se levanta e vai em direção a porta.

- Achei que o interrogatório fosse acontecer agora. 

- Você está cansada, a noite foi longa para nós duas - Tia Sara vem em minha direção e me abraça - Eu nunca disse isso a você antes porque achei que não fosse preciso, mas no dia que entrei naquele estádio e vi um caixão a minha frente com a bandeira do país estendido sobre ele, e saber que era você que estava lá dentro, isso  acabou comigo, eu só queria dizer o quanto amava você e naquele instante era impossível, mas por um milagre você está aqui agora, e eu estou olhando nos seus olhos e dizendo que amo você Aurora como se fosse minha filha, e vou protegê-la com unhas e dentes - Minha tia Sara sempre fora uma mulher forte, não dizia algumas coisas, como declarações, pelo fato de achar que eram desnecessárias, mas a vendo parada olhando para mim com os olhos cheios de lágrimas e com os braços ao meu redor, percebo o quanto ela deve ter ficado assustada e com medo. 

- Eu amo você tia Sara, como uma mãe. - Digo por fim, ela beija minha cabeça e sai. Olho em volta, o pequeno quarto tem uma cor azul claro, uma cama marrom, e uma cômoda de mesma cor da cama, o espelho que fica acima da cômoda tem um pequeno bilhete colado, levanto-me e vou até ele, esta escrito "Seja Bem Vindo" em letras cursivas, tem também uma janela próxima a cama e uma cadeira que deveria ficar de frente para a janela, a porta marrom do outro lado do quarto deve ser o banheiro. 

       Abro a primeira gaveta da cômoda e encontro uma escova de cabelo e alguns elásticos, na segunda gaveta tem toalhas brancas, na terceira encontro várias camisetas regatas azul escuro, estão dobradas por tamanho, as da esquerda são maiores, puxo uma e fica óbvio que é grande de mais para mim, pego uma do meio, tamanho M e também fica grande, a P deve ficar perfeita, abro a penúltima gaveta e encontro shorts, a última gaveta tem três pares de sapatilhas de pano na cor preta, vejo os números,  não sei se é sorte ou destino mas encontro uma tamanho trinta e seis e me alegro, recolho meus novos pertences uma toalha e sigo para a porta no final do quarto. 

   Abro a porta e encontro um gabinete branco, a cima outro espelho, uma escova de dentes está lacrada, um sabão em barra e creme dental estão sobre ele, abro uma de suas portas e vejo um saco plástico transparente com roupas de baixo na cor branca dentro, no saco ao lado que é um pouco maior encontro alguns sutiãs, pego o primeiro, grande de mais, procuro por um P mas só encontro M,então pego um M e guardo o restante. Junto todos os meus achados e os coloco em cima do gabinete, retiro meu uniforme e as meias com espinhos, observo os meus, inchados e feridos, com tanta adrenalina durante a noite não tive como sentir os cortes. Entro no boxer e a água quente me consome, olho para os azulejos brancos do chão, conforme a água passa pelo meu corpo e desce para o ralo deixa o piso completamente marrom, fico embaixo do chuveiro sem me mover, deixando a água levar cada resquício de sujeira que pertença aquele lugar imundo. 

      Fico embaixo d'água até meus dedos ficarem enrugados, lavo meu cabelo que está pior que meu corpo, e assim que termino enrolo uma toalha sobre ele, visto minha roupa de baixo, o shorts e a camiseta e vou para o quarto, paro de frente ao espelho e retiro a toalha do cabelo. 

    Vejo meu reflexo e uma garota pálida com fortes olheiras embaixo dos olhos castanhos e lábios ressecados me encara, ela tem muito trabalho a fazer com o cabelo, pego a escova e a levo até a raiz, ela não passa, desisto da tarefa e vou para a cama, pego um cobertor me enrolo,é hora de dormir.

    Acordo com uma luz nada bem vinda sob meus olhos, a janela está aberta e a cortina encolhida no lado esquerdo, levanto-me para puxar a cortina, olho fora da janela e percebo o céu numa tonalidade laranja, o sol já está se escondendo e uma brisa fresca bate em meu rosto, puxo a cortina fecho a janela e ligo a luz, encaro meus pés, bolhas estouradas nas solas, cortes de espinhos os retalham. O som do telefone me assusta, o encontro sob o criado mudo, não havia percebido nem um telefone por aqui antes de dormir, ele continua tocando, me ergo sob a cama e atendo.

- Alô? 

- Hóspede 225, seis horas, sua presença é solicitada no terceiro andar para o jantar. 
 
- Não consigo andar, meus pés tem bolhas estouradas e algumas estão sangrando.

- A enfermaria está localizada no quinto andar, seja rápida e não chegue depois das sete no refeitório. - Ela desliga o telefone na minha cara, dou passos vacilantes até a cômoda, pego a escova e dois elásticos, arrumo apenas a raiz e prendo o cabelo num rabo de cavalo, ele está cheio de nós e embaraçado não tenho paciência nem tempo para isso, bem gostei do penteado deixou ele com mais volume, pego as sapatilhas mas não as calço, as levo nas mãos e vou a passos de tartaruga para o elevador, digito o quinto andar e espero.
      
  O quinto andar parece com um hospital, na recepção uma moça vestindo branco está sentada do outro lado do balcão. 

- Preciso de um remédio. - Disso assim que chego ao balcão.

- O que aconteceu ? 

- Cortei meus pés durante uma fuga, tenho bolhas estouradas que estão ardendo e sangrando. - Ela digita algo no computador, imprime me entrega. 

- Esse é o seu prontuário - A moça de cabelos castanhos que veste um vestido branco e sapatilhas brancas se levanta e puxa de debaixo do balcão uma cadeira de rodas, ela vem em minha direção e eu sento - Está confortável agora senhorita ? 

-Sim - Admito - Vocês sempre tem uma cadeira de rodas a espera ? 

-Pra ser sincera temos três, quando se trabalha na enfermaria do GOECTI nunca se sabe o que vai entrar por aquele elevador.

- Casos muito graves passam por aqui ? 

- Você se surpreenderia com o que passa por aqui - Ela me conduz por um corredor bastante iluminado, entramos num quarto com várias camas alinhadas, cada uma separada apenas por uma cortina branca, paramos na segunda cama, uma cortina separa a cama do lado direito da minha e outra faz o mesmo com esquerdo, o quarto é tão claro que me faz ficar ligeiramente tonta. A moça me ajuda a levantar da cadeira e a sentar no leito, ela me aconselha a ficar deitada mas recuso e permaneço sentada - Seu nome. 

- O que ?

- Preciso saber seu nome para colocar na ficha - Hesito, sei que pode ser uma pergunta simples mas preciso manter a descrição, não quero cochichos ou mais pessoas falando que sou uma fraude. 

- Me chamo Luz. 

- Luz de que ? 

- Luz Paters. 

-Muito bem senhorita Paters, o médico virá em cinco minutos - Ela me entrega a ficha e vai em outra cama, a minha direita, eu sou o único ponto azul escuro nesse mar branco, isso me faz lembrar de Joana, o pontinho negro na cozinha dos Barnel, sigo o conselho da enfermeira e me deito, encaro o teto e fecho os olhos, deixo minha respiração ficar calma e não faço nem um barulho,  ouço a enfermeira falando com  alguém.

- Como se sente senhor ? 

- Vou me recuperar - Diz a segunda voz num to bem mais baixo, meu coração dispara, eu reconheço aquela voz, sento-me e tenho ouvir tudo o que puder. 

- A quanto tempo o médico passou por aqui ? 

- Acredito que já façam uns quinze minutos ou mais. 

- Melhoras senhor. 

- Obrigada agente Carter. - Vejo a sombra da enfermeira se aproximando, ela para de frente a minha cama e me encara. 

- Peço que faça o mínimo de barulho possível, temos um agente do setor de inteligência ferido - Tenho impressão de que vou vomitar meu coração para fora, é ele, tem que ser, ele está aqui!  

- Ele vai morrer ? - Pergunto tentando parecer calma, espero que ela não perceba a animação na minha voz. 

- Só levou alguns tiros. Peço mais um vez, silêncio, acha que pode ? 

- Não se preocupe - Dou um sorriso breve e ela sai levando a cadeira de rodas, desço da cama, e vou para o lado direito, o mesmo que ela foi anteriormente, vejo uma fichinha grudada nas grandes de ferro de uma cama  a quarto camas de distância da minha, me dirijo para lá, meu  estômago se revira e sinto um pequeno frio nele, lentamente me aproximo da cama, acho que vou desmaiar quando o vejo, ele está com o braço sobre os olhos, uma faixa de gaze cobre seu peito e o ombro esquerdo, está sem camisa e de meias, a calça preta  pende a baixo da cintura, seu abdômen definido está completamente exposto e vejo algumas linhas saindo da cintura, deixo meus olhos as seguirem e elas me levam até o cós de sua calça, coro e me forço a olhar para cima mesmo querendo acompanhar cada uma daquelas linhas e descobrir onde elas terminam, Otto tem braços grandes e bem definidos, luto contra o impulso de tocá-lo, vou até sua filha e a leio. 

" Otto Brown, Agente do Setor de Inteligência; 
 Baleado em combate; 
Exposto a morte desnecessariamente. " 

 - Posso ajudá-la senhorita ? - Congelo, ele me flagrou lendo seu prontuário, eu deveria ter pego essa maldita ficha  e ter saído correndo. 

- Só estou um pouco curiosa - Respondo de cabeça baixa - Está doendo muito ? 

- Apenas  buracos no meu ombro, vou sobreviver. 

- Sem querer parecer muito intrometida, aqui diz que você é do setor de inteligência, então por que estava  em combate?   Sempre achei que os caras da inteligência ficavam sentados em cadeiras estofadas vendo a briga por um pequeno monitor e planejando estratégias, não manuseando armas.  - Ouço um ruído baixo, levanto um pouco os olhos, vejo seu sorriso, ele permanece com o braço sobre os olhos, ele não fez a barba, que está fina e deixa seu rosto muito bem emoldurado, me perco nas curvas de seu sorriso. 

 - E ficamos - Diz ele finalmente - Mas tive que participar dessa vez. 

- Algum motivo especial ? 

-Estávamos em um cerco, queria me vingar de alguns desgraçados. 

- Agentes também se vingam ? 

- Se matarem a mulher que eles estavam a fim, sim, eles se vingam - Deixo a fixa cair no chão, a capa de madeira faz barulho e me abaixo para pegá-la. Como ele pode estar a fim de mim se me viu apenas uma vez ? 

- Desculpe ter incomodado - Coloco a fixa grudada no apoio  e volto para minha cama antes que ele decida tirar o braço do rosto. Não me mexo, não consigo parar de sorrir, tão perto e tão inalcançável ao mesmo tempo, ele levou um tiro tentando se vingar pelo que fizeram comigo. O médico chega e me flagra sorrindo para onde Otto está deitado. 

- Sim, ele é muito lindo - O doutor me assusta, e  coro mais uma vez. - Não precisa se envergonhar, não é a única que o acha bonitão - O médico analisa minha fixa e pede para que eu me deite, ele passa um gel na sola do meu pé e começa a enfaixá-lo com gaze, está quase terminando o primeiro pé quando vários agentes vestindo azul escuro com dourado passam por minha cama, tia Sara é um deles, ela não me vê e se dirige para onde Otto está deitado. Permaneço calada esperando ouvir cada detalhe. 

  - Baleado em combate Senhor Brown?  Não o contratei para atirar. - Ela o repreende 

- Precisei agir dessa vez Comandante. 

- Agir como um cão louco e fazer uma chuva de balas ? Não estamos aqui para matar ninguém, mesmo que eles mereçam a morte. 

- Eu precisei Comandante. 

- Sei do seu afeto por minha sobrinha agente Brown, mas não acho que tenha sido prudente se arriscar de tal forma para conseguir vingança, temos sete agentes na emergência e  um baleado, vocês ao menos tinham certeza de estar na direção correta agente ? 

- Trabalhei nessa operação  durante cinco semanas Comandante, eu tenho certeza da direção que coloquei meus homens. 

- Você precisa rever suas certezas agente. Não quero nem um outro homem na emergência ou ferido nos próximos meses e também não quero ninguém agindo por impulso, ou terei que afastá-lo do cargo. Espero que tenha sido clara. - Não ouço a voz de Otto, o esparadrapo que o médico está cortando atrapalha, se não estivesse tentando manter as aparências, pediria para que ele parasse com o trabalho.

- Teremos uma reunião com os chefes do conselho, já pedi que os Comandantes do Norte e do Oeste comparecessem Senhora, as 21:00 estarão aqui.  

- Ótimo Agente Hortherson, o motivo pelo qual pedi para que todos vocês comparecessem ao leito do agente Brown  e que esqueceremos a Operação Aurora .

- Peço para que não faça isso Comandante, não pode dar um fim a operação sem nem mesmo capturar os responsáveis. 

- Agente, eu peço para que permaneça deitado ou chamarei uma enfermeira. - O médico que cuida de mim  está a ponto de terminar o segundo pé, mais um pouco de esparadrapo e gaze. 

- Você não sentiu dor quando coloquei o spray antisséptico, tem certeza que ainda tem sensibilidade nos pés ? 

- Com certeza tenho senhor - O médico pega as sapatilhas que deixei em cima da cama e com cuidado as coloca em meus pés. Ele me ajuda a levantar e vai em direção a reunião na cama de Otto. Estou quase saindo do quarto quando ouço minha tia Sara elevar a voz. 

- Entenda senhor Brown, não podemos procurar assassinos quando não se existe um morto e Aurora não está morta - Saio do quarto, dou um aceno para a moça da recepção e entro no elevador. Está na hora do jantar. 




domingo, 9 de agosto de 2015

Capítulo 15. Cuidarei de Você.

  
   Até parece um sonho, tudo isso é bom de mais para ser verdade, sentir seus braços ao meu redor me protegendo dando-me carinho, o cheiro de lavanda que eu tanto amo e que achei que nunca mais sentiria em toda minha vida. É difícil segurar as lágrimas depois de tudo, a incerteza de haver calmaria depois da tempestade era maior que tudo já senti, tive tanto medo que a possibilidade ser forte agora não é bem vinda, porque nos braços dela eu posso me desfazer em lágrimas pois sei que ela me ajudará a ser forte mais uma vez. 

- Gatinha, Deus é você! Por um instante eu... Meu Deus, até parece que não é real - Tia Sara se distancia e encara meu rosto, aperta minhas bochechas, meu cabelo, ela está se certificando de que sou eu de verdade. 

- Sou eu - Digo.

- Sim, é você - Ela sorri e me abraça novamente - Perdoe-me gatinha, por não ter trazido você pra ficar comigo, por não ter colocado seguranças com você, perdoe-me por tudo. Por um instante eu achei que tinha falhado com Heloise e com Benjamin e principalmente com você.

- Não, não se culpe, por favor, eu estou viva e estou bem e é isso que importa não? - Tia Sara me encara, ela passa o polegar sobre minhas bochechas apagando qualquer vestígio de lágrima. 

- Como veio parar aqui ? Quem são essas meninas e por que está tão suja ? - Tia Sara me analisa - Deus o que aconteceu com seus sapatos ? - Olho para meus pés, a quantidade de espinhos em minhas meias é surpreendente. Lágrimas começam a surgir novamente.

- Eles me confundiram com alguém, me bateram e me levaram pra um lugar sujo, hoje seria o dia da venda, mas conseguimos fugir antes.

- Como é ? - Pergunta Tia Sara, viro-me e vejo quase todas as meninas nos encarando, vejo a pequena Ana dormindo no colo de Érica que encara o chão, Vanilly deixa que Luana apoie sua cabeça em seu colo, as outras duas pequenas, Amanda e Samanta apoiam-se uma na outra, Bárbara, outra menor dorme sentada com o braço na parte de cima da cadeira junto com Alexia, Miranda está de pé próxima a nós. 

- O delegado pediu para alguém entrar - Digo finalmente, Miranda vem em nossa direção e entra na sala.

- Aurora - Tia Sara me chama - Diga que não aconteceu exatamente aquilo que  está bem óbvio aqui. - Encaro o chão. 

   Depois do que aconteceu com minha Tia Sara, ela e minha mãe fizeram uma promessa de proteger as crianças e os adolescentes de pessoas como essas, minha mãe queria um mundo seguro para mim, e sei que devastaria tanto ela quanto minha tia descobrir que aconteceu comigo exatamente aquilo que elas trabalharam tanto para destruir. 

    Não quero que ela se sinta inútil ou que pense que seu trabalho não serve para nada, porque elas já ajudaram milhares de meninas com o GOECTI, mas esconder a verdade e muito pior.
  
  - Foi exatamente isso -  Digo baixinho, Tia Sara olha em volta, observa todas as meninas e depois olha para mim, ela faz um expressão dura, determinada e pega o telefone. 

-  Preciso de reforços em Forteman, uma van e mais guardas. - Procuro em volta vejo Ashe sentadinha perto de Ela, elas estão próximo a porta, tem guardas do GOECTI fazendo a guarda na frente da delegacia - Quantas de vocês já entraram para fazer o boletim de ocorrência ?  - Todas olham para ela, elas estão com medo de Tia Sara, eu levanto a mão, seguida por Ellie, Amanda, Samanta, Vanilly e Ana, Miranda ainda está conversando com o delegado e Bárbara está dormindo. - Quando todas vocês estiverem terminado, iremos para um polo do GOECTI que fica a duas horas daqui, tomarão banho, sentiram-se seguras, comerão algo e depois iremos conversar, uma por uma. 

      As meninas assentem, Ashe continua olhando para o chão, Ela diz alguma coisa e ela a encara, Tia Sara e eu nos sentamos nas cadeiras próximas a Érica e Ana que desperta. 

- Olá princesinha, qual o seu nome ? - Tia Sara encara Ana que esconde o rosto no peito de Érica, minha tia não tem filhos, ela tem um namorado chamado Antonie, que coincidentemente trabalha no GOECTI mas ao que parece as coisas não estão indo bem entre eles, ele quer filhos e ela está absorta de mais no trabalho para pensar em maternidade agora. Tia Sara está perto da casa dos quarenta e nove, e é difícil engravidar nessa idade. 

   Quando fui atrás dela para interceder por Noan ouvi ela e Antonie discutindo sobre filhos em sua sala, ela não está pronta para ser mãe é o que ela dizia, mas ela me tratava como uma filha. Ninguém nunca está de fato pronto para nada, você tem que se arriscar e descobrir o que sabe.

    Assim que Miranda deixa a sala do delegado Érica entra e Vanilly assume sua posição e pega Ana no colo. Ashe vem até mim e me abraça, ela está chorando e eu acaricio seu cabelo.  

- Não precisa mais ter medo,vai ficar tudo bem agora. 

- Ela disse que vamos nos separar. 

- Não é hora pra pensar nisso tudo bem ? - Encaro Ashe, da mesma maneira que minha Tia limpou minhas lágrimas, eu limpo as dela. 

- Estou com medo de entrar lá dentro - Confessa. 

- Não precisa ter medo, ele só vai fazer algumas perguntas e você irá responder todas - Continuo abraçando Ashe, e fazendo carinho em seu cabelinho sujo. 

- E essa quem é ? - Pergunta tia Sara, olho para Ashe. 

- Gostaria de conhecer a melhor pessoa do mundo todo ? - Vejo os olhinhos de Ashe se arregalarem e ela olhar furtivamente para minha tia, Ashe balança a cabeça e o gesto me faz sorrir. - Tia Sara essa é a menina que cuidou de mim e me deu informações, é a garotinha de sete anos que disse o que eu deveria ou não fazer para não apanhar e acima de tudo, é minha maior fã. 

- É um prazer conhecê-la senhorita - Diz tia Sara estendendo a mão, Ashe encara o chão e desliza o pezinho para frente e para trás antes de levar a mão discretamente ao encontro da de minha tia que sorri do jeitinho fofo de Ashe. - Não vai me dar nem um sorriso ? - Ashe continua a olhar para o chão, encaro tio Sara, bem vestida e linda nessa farda azul marinho, ela parece uma celebridade e todas nós estamos sujas, fedidas e mal vestidas, agora entendo o motivo de estarem todas tão acanhadas. Vergonha. 

- Não precisa ter vergonha dela Ashe - Digo, sei que Vanilly escutou o que disse porque arregalou os olhos para mim, se estivéssemos presas naquele buraco mofado, eu sei que ela iria gritar e me chamar de idiota por ter dito isso na frente de tia Sara, é claro que deveríamos ter vergonha, ela é Sara Breslau a garota que deu início ao GOECTI, foi graças a ela que o tráfico foi violentamente combatido, ela é a razão do GOECTI ter sido criado. Ashe olha para tia Sara que permanece com um sorriso doce, Ashe sorri e mostra a boquinha cheia de buraquinhos, tia Sara passa a mão sob os cabelos de Ashe e acaricia sua cabeça.

- Você é uma garota linda, sabia disso ? - As bochechinhas de Ashe ficam vermelhas de vergonha, ela volta a encarar o chão. Assim que Èrica sai da sala do delegado, Ela entra, e Ashe senta-se conosco. É quase sete horas da manhã quando Ashe finalmente entra para falar com o delegado, tão pequena, tão magrinha e maltratada, oh minha querida, eu vou cuidar de você. 

- Você amadureceu muito nessas seis semanas - Tia Sara chama minha atenção.

- Como ?

- Faz um mês e duas semanas desde que anunciaram sua suposta morte - Encaro o chão, isso e muito tempo, tempo de mais para ser exata. - Você parece uma garota diferente querida - Tia Sara passa a mão sobre meu cabelo. 

- Eu sou uma pessoa diferente agora tia, depois do que eu vi, depois do que senti, eu nunca mais serei a mesma. 

- Não diga isso, não deixe uma experiência ruim roube todos os seus sonhos. 

- Ela não roubou nada - Dou um sorriso amarelo - Ela me fez uma mulher mais forte, e determinada, eu escapei da morte e escravidão, não vou deixar barato pra quem fez isso comigo. 

- Quer me contar o que aconteceu agora ou vai esperar até mais tarde ? - Quase todas as meninas estão dormindo, a delegacia é um mar de policiais vestidos de fardas azul marinho e preto, sei que estamos seguras mas parte de mim acredita que eles estão nos observando, preciso ser cautelosa. 

- Mais tarde me parece mais reconfortante - Uma hora depois, Ashe sai da sala do delegado, os agentes do GOECTI abrem caminho até a van que está no estacionamento, treze garotas rodeadas por agentes armados com fardas azuis, seguro a mão de Ashe e entramos no carro, tia Sara está conosco, dois carros do GOECTI vão na frente e três estão atrás, se a ideia era não chamar atenção com certeza falhamos. 
  
   São quase dez horas da manhã quando um grande prédio cercado por um muro altíssimo se ergue a nossa frente, seguranças estão nas entradas do edifício, uma grande área cercada com grama nos recebe antes de chegarmos a recepção, a construção espelhada tem alguns toques de azul claro, o nome GOECTI está em uma placa de metal na frente da porta, na recepção uma senhora de mais ou menos cinquenta anos veste uma farda parecida com de tia Sara mas possui apenas alguns detalhes em dourado e nem uma estrela, tia Sara nos guia até o corredor e pegamos o elevador. 

- Estamos na polo do GOECTI das fronteiras, trazemos os jovens e as crianças resgatadas para cá, existem algumas acomodações nos andares superiores e lá embaixo um psicólogo irá conversar com cada uma, assim que estiverem recuperadas, física e mentalmente, vocês serão enviadas para uma Unidade de Socialização do GOECTI, onde irão estudar, desenvolver-se e sentir-se seguras, ficarão lá até os dezoito anos, e dependendo do desempenho de cada poderão ser aceitas por universidades de todo país. Será uma nova vida garotas, e nessa vida o GOECTI se certificará de trazer sucesso para cada uma. - Olho para as meninas ao meu lado, o mesmo brilho que vi quando sugeri a proposta de fuga retorna a seus olhos, Miranda está com os olhos arregalados e está se beliscando, Ashe aperta minha mão com força, ela está sorrindo e vejo o brilhinho nos seus olhos  também.

- Agora eu vou aprender a ler como você, não é ? 

- Você vai a escola Ashe, é claro que vai aprender a ler e vai aprender a fazer muitas coisas também, como por exemplo, fazer miojo nas lágrimas das inimigas. Tia Sara me repreende com um olhar de reprovação.

- O Que ? - A encaro, ela ainda me olha feio, sorrio e dou de ombros. Chegamos ao décimo segundo andar e existe outra recepcionista, uma mulher mais jovem, deve estar na casa dos trinta e cinco, ela se levanta quando nos vê. 

- Comandante.

- Ally, quantos quartos estão vagos neste andar ? - A moça senta-se novamente e checa no computador .

- Cinco comandante, as garotas que foram resgatadas de Gardênia acabaram de ser enviadas para a Unidade de Socialização de Lori e sobraram mais quatro quartos no próximo andar.  - Tia Sara anuncia que as meninas deverão dividir-se em duplas, já que em cada cômodo possui duas camas, Ally pega as chaves e sai de detrás do seu balcão. 

- Espero que já tenham ideia de com quem irão ficar - Ally passa a minha frente. 

- Preciso de uma chave do cômodo de cima Ally - Pede minha tia, a senhora pega uma chave com um número 225 gravado, tia Sara me entrega. - Você vai ficar num como de cima.

- Ashe pode vir comigo ?- Tia Sara olha para a menininha segurando minha mão e se ajoelha para ficar de frente para ela. 


- Então Ashe, é um belo nome - Ashe fica vermelhinha novamente e olha para o chão - Eu preciso muito conversar com Aurora, sei que vocês querem ficar juntas mas vocês terão tempo o suficiente para fazerem isso, pode ficar com alguma das outras garotas só por essa noite ?  - Ashe encara minha tia Sara e junta as sobrancelhas, em seguida me encara. 

- É só por uma noite - Reforço. Miranda estende a mão e Ashe a segura, elas seguem de mãos dadas no grupo atrás de Ally e eu minha tia voltamos para o elevador. 

   Tia Sara digita o décimo terceiro andar e voltamos a subir, pela primeira vez sozinhas, e pela primeira vez sinto meus pés doerem. 

- Eu não sabia da iniciativa da Unidade de Socialização.

- Foi o último projeto antes de você nascer, Benjamin fazia parte do grupo de inteligência e precisávamos de patrocínio, suporte e doações, seus pais se conheceram durante essas viagens de apoio e construção das unidades, a cada viagem eles ficavam mais íntimos, até que seu pai convenceu vários governantes a entrarem na causa, ele expandiu os projetos.    

    " Sobrevivíamos de doações de instituições não governamentais que enviavam verbas para pagar os funcionários, comprar comida, roupas, pagar professores. Até que fomos reconhecidos oficialmente pelo presidente Jonathan, que comandava o país aquele ano, e  investiu pesado na segurança dos jovens do país e em nós que viramos oficiais, agora o governo paga as despesas e salários" 

- Vocês são um tipo de escola pública e polícia ao mesmo tempo ? 

- Basicamente é isso, mas essa escola pública e bem mais segura que as demais, digamos que nossos alunos tem o privilégio de terem guardas nas portas. 

- Não sei se isso talvez seja um privilégio.

- É segurança Aurora, se dispensarmos esses jovens em escolas normais ou setores de abrigos esses bandidos ou integrantes dessas quadrilhas irão atrás delas, as capturarão, o pesadelo nunca acaba. 

- Você acha... que eles virão atrás de mim ? 

- Protegeremos você e as outras meninas também, como sempre fizemos, já existiu um tempo que essas meninas não estariam seguras mas isso acabou, enquanto o GOECTI existir, cada menina que conseguiu fugir ou foi resgatada das mãos dessas pessoas serão protegidas até os dezoito anos. 

- E o que acontece depois ? Eles não poderão vir atrás de nós mesmo com dezoito anos ? 

- Quando se completa dezoito anos Aurora, torna-se um pouco complicado para eles, o preço abaixa, casais não irão adotar, mas os prostíbulos aceitam a mercadoria, essa vida é uma corda bamba, mas se você se mantiver longe dessas pessoas ficará bem, mas não se preocupe, cada garota que sai do GOECTI recebe um controle de emergência que aciona o departamento de polícia mais próximo e aprende a usar armas de choque, para autodefesa. 


- Vocês distribuem armas ? - Chegamos ao décimo terceiro andar e seguimos pelo corredor. 

- Sim, distribuímos, mas quase nunca elas são utilizadas, os controles são mais úteis, assim que o usuário aperta o botão o rastreador é automaticamente ligado, um pontinho vermelho aparece no monitor da viatura é a polícia consegue encontrar o usuário seja lá onde ele estiver. 

- Como conseguiram esse tipo de tecnologia ? 

- Eu disse que o presidente investiu pesado na segurança desses jovens. 

- Eu vou aprender a usar uma arma e ganhar um controle ? 

- É um possibilidade - Tia Sara e eu seguimos pelo corredor, com várias portas dos dois lados. Minha mente volta a noite anterior, parece que foi a semanas que caminhei pelo escuro atrás de  Ashe, que vi luzes por baixo das portas que ficavam num quarto escuro, ainda existem meninas lá. 

   Chegamos a porta com o o número 225 gravado ela abre a porta e vai em direção a cadeira que fica de frente para a cama. 

- Entre e feche a porta querida, temos muito que conversar. 



Leia o Primeiro Capítulo.

Capítulo 1. Uma Face Conhecida.

        Há alguns anos o país de Lori conheceu a história de uma amizade verdadeira. Graças a coragem de uma garota de dezesseis anos, outr...