sábado, 30 de janeiro de 2016

Capítulo 48 - Direitos.

      
     Estou parada, vivendo a melhor noite da minha vida, observando a imensa janela a minha frente, lentamente a noite vai embora, daria tudo para que ela permanecesse para sempre,  congelando esse momento.

    Otto lindamente deitado a minha frente com os olhos fechados e sem camisa, tento repassar os detalhes da trajetória que me trouxe até aqui, os beijos, as carícias, as palavras...  A comida continua intocável em cima da mesa, nem ele ou eu pegamos qualquer coisa, assim como eu ele não estava com fome o bastante para sair de perto um do outro, não, não transamos ou nos pegamos tão selvagemente como aconteceu naquela madrugada, apenas nos beijamos e nos tocamos, nunca poderia achar que seria tão boa a sensação de ter alguém beijando sua cabeça enquanto lhe abraça. 

- No que está pensando ? - Ele pergunta perto a minha orelha.

- Não quero que a noite acabe. 

- Ela precisa, tenho que comprar um presente para minha linda namorada. 

- "Sua". Isso soa possessivo senhor Brown.

- Talvez eu seja um pouco.

- Não quero possessão na minha  vida, não um objeto. 

- Sei ser comedido minha adorável jovem. - O encaro, ele sorri e eu sorrio junto. 

- Isso é estranho, dormir assim com alguém. - Confesso.

- Você acha ?

 - É, acho.

- Durma.

- Não acho que vou conseguir dormir.

- Você precisa, amanhã teremos duas reuniões com os membros do conselho e uma assembleia para discutir Aurora ao Norte, precisará ficar acordada a tudo isso e aviso, é achato. 

- Gosto desse tipo de chatice.

- Só feche os olhos e descanse. 

- Otto...

- Aurora, se você dormir num desses encontros vão questionar sua dedicação a agencia, e as chances de você permanecer no GOECTI depois da operação serão reduzidas a nada. 

- Tentarei então, boa noite namorado. - Gosto de dizer a palavra, a forma como morado se desenrola pela língua e ajuda a dar forma ao título de Otto em minha vida. 

- Boa noite, minha Aurora. - Fecho os olhos e permito-me relaxar entre os braços de Otto, meu namorado. 
  
   
      O calor me faz acordar, Otto não está mais deitado, olho no quarto e não há sinais que ele esteve aqui, sinto um frio na barriga, será que Thalia colocou alguma droga na minha água  que me fez delirar com a noite de ontem ? Deito-me novamente, talvez a noite de ontem tenha sido um sonho, ou uma alucinação, um louco e lindo sonho. 

- Hora de levantar - Ouço sua voz  e levanto, Otto aparece já vestido com a farda azul marinho e calças pretas do GOECTI, quase o mesmo traje que usou na festa de Jocelyn, o cabelo molhado  e desgrenhado denunciam sua antiga estadia, me sinto feliz por não ter imaginado tudo, é real, foi real. 

- Que horas são ? - Pergunto tentando disfarçar minha felicidade. 

- Hora de você tomar banho, a comandante não gosta de atrasos e a agente Roberts também não. -  Ele se aproxima da cama e senta de frente para mim, puxa minha cabeça delicadamente e sinto seus lábios frios e molhados encostando em minha testa, em seguida em meus lábios, o afasto e analiso seu rosto, tão lindo, e todo meu, tento beijá-lo novamente mas ele se afasta. - Banho - Ele diz se levantando, refaço minha ida até o banheiro e desfaço o coque no cabelo. 

- Tomei a liberdade de solicitar um novo traje, um limpo, já que você não trouxe roupas, dentro do closet perto das camisetas vai encontrar suas lingeries, não demore. 

- Não irei - Tranco a porta do banheiro e me forço para debaixo da água gelada, lavo o cabelo o mais depressa possível e me seco em seguida, pego um pente que estava em cima da pia e desfaço os nós nos meus fios, uso a escova de dentes de Otto e escovo os meus, quando saio encontro Otto tomando café na mesa dele. 

     Me aproximo e pego uma torrada quente. Otto está conferindo algumas fichas criminais no notebook, me aproximo e fico por trás dele, a foto de Monstro com sangue escorrendo do nariz e encarando a câmera como se pudesse me ver faz um pequeno frio se instalar em minha barriga.

 - O que você ta fazendo ? - Pergunto. 

- Existem instalações no subsolo, a cada operação que fazemos, capturamos esses desgraçados e os colocamos lá temporariamente, os interrogamos para darem informações para chegarmos ao restante do grupo caso outros consigam fugir e em seguida a policia se encarrega deles até o julgamento. 

- Aqui tem uma espécie de cadeia particular ? 

- Temporária, sim, temos, somos a segurança, a polícia trabalha conosco, costumamos os depoimentos costumam ser feitos aqui. 

- Por quê ? 

- Porque eles sabem que quando são capturados pelo GOECTI a casa já caiu e não terão para onde recorrer, temos delegados, policiais e advogados preparados para executarem o trabalho deles aqui. Quanto menos riscos deles fugirem, melhor. 

-  E por que ta olhando a ficha desse cara ? 

- Ele atirou em alguém noite passada, achei que tivesse sido em você - Otto me encara, depois me puxa para seu colo, encaro a foto de Monstro e lembro da primeira vez que o vi, como me senti suja quando ele me tocou, o medo que me fez sentir por Anna e a indignação pelo que fez com Tina e Érica. 

- Foi em Miranda, ela disse que o encontrou e... Deve ter sido ela. - Digo.

- Viu esse cara enquanto esteve capturada ? 

- Infelizmente. 

- É o mesmo que Érica relatou nos depoimentos, dos estupros e moléstias ?  

-É.

- No dia que você chegou, disse que um cara tentou tocá-la, era esse ? - Não consigo tirar os olhos da foto a minha frente, da última vez que menti pra Otto ele ficou sem olhar na minha cara, so falou comigo porque invadimos uma reunião fechada do GOECTI e ele queria que dessem inicio a uma operação, não vou mentir pra ele e encobrir um pedófilo. 

- É Otto, é esse.  - Ele encara a foto de Monstro uma segunda vez, como se estivesse memorizando seu rosto, cada pedaço.

- O que esta escrito ai ? - Pergunto, indicando as fichas perto do computador. 

- Apenas informações básicas para caso ela fuja, deve estar em depoimento a esse hora.

- Tem dados sobre Ágata também ? 

- De todos que foram pegos ontem.  

- Encontrarei com eles ?

- Possivelmente, você e as outras irão abrir uma denúncia contra eles e ai a policia vai se encarregar do resto, é tudo um processo.

- Mais delegacias....

- Termine de comer, sairemos em três minutos - Otto fecha o computador e se levanta, pego outra torrada e bebo um copo com suco de laranja e vamos pro elevador. 

- Pra onde vamos ? - Pergunto.

- Becker solicitou que todas as meninas de ontem nos aguardassem no refeitório, começaremos pelas garotas que estiveram no mesmo cômodo que Alicia e as outras. 


   Quando chagamos no refeitório, varias meninas estavam sentadas nos bancos de inox, agora agrupados em filas uma atrás da outra como numa sala de cinema olhando para os agentes de pé na frente delas. 

     Solto a mão de Otto assim que a porta abre e o sigo para perto dos outros agentes que já estão aqui, Roberts, Rian Thalia, Becker e Meson estão de pé de frente para as meninas, outros agentes do GOECTI estão atrás deles como uma espécie de exército, mas logo percebo que não são apenas escolta, outros agentes da segurança, inteligência e  operações especiais também estão aqui, como se estivessem  convocado outros membros de cada setor. Sigo Otto que para próximo ao agente Becker e fico quieta, tomaram que não me percebam. Uso o corpo de Otto como um escudo protetor e evito me mexer, com sorte não me notarão, com sorte não farão o mesmo procedimento que Meson fez no acampamento. 

- Finalmente, precisávamos de você senhorita. - O agente Becker se aproxima e para de frente para mim. 

- De mim ?  Pra quê ? - Pergunto fingindo não saber o que ele queria dizer, obviamente era o mesmo que Meson fez ontem, o reconhecimento delas.

- Meson, comece. - Ele manda, não movo minhas pernas, a agente Meson vai para a frente e fica no centro da "rodinha de agentes" bem de frente para as meninas que nos olham assustadas e curiosas.

- Bem, bom dia. Espero que tenham gostado do café da manhã - Diz fazendo alguns sorrisos brotarem - Vocês devem estar se perguntando o motivo pelo qual tantas pessoas vestidas de azul escuro estão fazendo de pé olhando pra vocês, é comum pensarem isso, mas agora acontecerá outra parte do processo de resgate, o agente Rian já conversou sobre o centro de socialização, e informou sobre a conversa que teremos uma a uma não e mesmo ? - Um "sim" uníssono ecoa pelo refeitório - Precisamos fazer isso para colocarmos as pessoas certas na cadeia, precisamos que se dividam nos mesmos grupos de como estavam alocadas todos esse tempo. Chamaremos uma garota e as meninas que estiveram na mesma cela que ela precisam acompanha-la. Certo ? - Um "certo" uníssono volta a ecoar.

    Ouço o som da risada da agente Meson que nos encara em seguida, ela para seu olhar para em mim - Agente Richards, poderia vir aqui ? - Não, eu não poderia, agente Meson ergue uma das sobrancelhas e ouço o agente Becker dizer "ande logo" baixinho.  Dou um passo a diante e fico um pouco atrás 

 - Mais para frente senhorita, ou não poderemos ver seu belo rosto - Diz a agente Meson, dou outro passo e fico ao lado dela.

- Quem de vocês lembra dessa moça ? - Algumas meninas se encaram mas não levantam a mão.

- Onde estão Alice, Grace e Willow ? - Pergunta uma garota, encaro a agente Meson petrificada. 

- Vimos quando elas levaram tiro, elas estão mortas ? - Pergunta outra sentada nos fundos. 

- Por que não estão aqui ? - Pergunta alguém no meio. 

- Seremos sinceros com vocês, senhoritas. - Diz o agente Becker se colocando ao lado da agente Meson - Algumas essas pessoas que as mantiveram em cárcere todo esse tempo enviou um espião para matar todas vocês - Várias comentários começaram a surgir, garotas começaram a chorar e outras a se abraçarem, um pequeno temporal de desespero cai sobre o lugar.

- Disseram que estaríamos seguras!  

- Vocês mentiram para nós! 

- Não, não mentimos, vocês estão seguras, algumas de vocês tiveram a infelicidade de estar no mesmo veículo que esse  bandido. O fizeram de refém com a ajuda de um de nossos agentes. Todos nos ficamos orgulhosos de vocês senhoritas. Mas só descobrimos que ele estava entre nós depois que suas amigas foram atacadas, sentimos muito pelo incidente, Alice, Grace e Willow foram as últimas vítimas dessas pessoas. 

- Quer dizer que elas morreram, mesmo estando com vocês? - Pergunta uma menina na frente, forço-me a encará-la, ela parece ter doze anos, o rosto cheio de sardas e o cabelo liso lhe dão uma aparecia madura para a idade. 

- Uma situação errada, todas vocês eram os alvos e estão seguras agora. Estamos  infelizes pelo que aconteceu  mas agora a vingança pela morte delas estão em suas mãos, ajudem-nos a encontrarmos os responsáveis pelas mortes de suas amigas. - Ele pede antes de encarar a agente Meson para sua deixa.

- Obrigada agente Becker. - A agente Meson faz o mesmo processo que fez no acampamento, as meninas me encaram e levantam os braços, os grupos começam a ser formados e se dividir por números, as duas garotas que estavam a sós no cômodo são o número um, seguimos para o elevador junto como grupo dezesseis, que deveria ser o de Tina.

    Elas acompanham os agentes até a mesma sala redonda que estive antes, nenhuma garota acima de quatorze anos está entre elas, o que não faz sentindo já que elas deveriam estar com idade diversas, como aconteceu antes. As meninas entram em fila na sala e eu vou para o final da fila,para encorajá-las, sou a última do grupo, vira e mexe elas me encaram, tento parecer legal, sorrio para elas que sorriem de volta, enquanto nos movimentamos para entrar  na sala de reuniões.

   As garotas entram na sala e  vão se acomodando, Thalia fica na porta mostrando os lugares que elas devem sentar, o agente Becker é o primeiro a entrar, seguido pelo agente Rian e a agente Roberts.

- É uma reunião fechada, você fica fora. - Ela diz passando o braço na minha frente, me interceptando. 

- Mas eu também faço parte da operação. - Digo.

- E ela acabou, agora cai fora, se quer ajudar pega uma vassoura e vai limpar o chão da garagem. - Encaro Thalia que me devolve o olhar com veneno, estou a ponto de me abaixar e passar por baixo de seu braço a qualquer custo quando a voz da agente Meson ecoa atrás de mim. 

- Algum problema ? - Ela pergunta. 

- Sim agente Meson, a senhorita Richards teima em ser a intrusa numa reunião confidencial, pode por favor mandá-la embora ?

- A senhorita Richards tem todo direito de estar aqui quanto você Farzone, ela está comigo, então saia da frente. 

- O trabalho dela acabou Meson.

- Ainda não, agora saia da frente - Thalia encara a agente Meson como se quisesse explodi-la com o olhar, em seguida abre passagem para entrarmos, a agente Meson passa na minha frente e quando a sigo Thalia puxa meu braço.

- E melhor não esquentar o assento Richards, você não vai demorar aqui. - Puxo meu braço mais uma vez e sigo a agente Meson, sento numa cadeira entre ela e uma garotinha de cabelos loiros cacheados, sorrio pra ela e ela esconde o rosto, percebo risinhos baixos das outras meninas que também tentam esconder o rosto.

- Acho que você e sensação entre elas - Diz a agente Meson baixinho, engulo o riso e encaro Otto, sentado entre o agente Becker e a agente Roberts ele me joga uma piscadela e coro ligeiramente. 

    O agente Becker começa com o mesmo discurso que minha tia fizera quando estive aqui, de como é crucial elas falarem tudo que lembram e caso lembrem do rosto de alguém, a agente Meson se encarrega de fazer as perguntas que lentamente são respondidas, nenhuma delas lembra de como foram parar lá, apenas de dormirem em suas casas e acordarem num cômodo mofado.

    Assim como Alice, elas relutam em dizer algo, as pequenas são as mais assustadas de todas. 

- Hiley, precisa nos dizer a verdade, sabemos que viram pessoas passando por vocês, sabe que estão em perigo enquanto não conseguirmos pegar essas pessoas, não sabe?

- Mas não vimos nada senhora, mandaram a gente fechar o olho enquanto eles passavam. - Diz Hiley defendendo a versão das amigas. 

- Alice disse que cerca de três pessoas passaram por vocês, entre eles uma mulher, ela estaria mentindo ? - Pergunta a agente Roberts.

- A gente num sabe madama - Diz uma garota de cabelos crespos - Alice nos mandou fechar os olho quando eles passava e a camaleão zureta ficou apontando a arma pra gente não abri os olho.

- Então por que elas viram, se estavam com os olhos fechados ? - Pergunta a agente Roberts. 

- Eu num sei só fechei meus olho. - Diz a menina. 

- A Tina ficou com os olho aberto. - Uma garotinha negra fala, ela está usando a roupa do GOECTI e uma faixa vermelha se destaca em seu cabelo.

- Quem ? - Pergunta a agente Roberts.

- A garota que levou um tiro, ela sabe quem é - Diz a garota apontando pra mim, as garotas me encaram junto a agente Roberts - Por que não vai perguntar a ela ? - Me pergunta a garota.

- Como sabe que ela ficou com os olhos abertos ? - Pergunta  agente Meson cortando a agente Roberts que estava pronta para fazer outra pergunta. 

- Porque o camaleão zureta gritou com ela, pra ela fechar os olho.- Diz a menina de cabelos crespos. 

- Quem é esse "camaleão zureta? - Pergunta a agente Roberts. 

- A mulé que tava com a gente. - Responde a garotinha loira do meu lado.

-Não sabemos o nome dela e a Cathy chamava ela desse jeito. - Diz a garota de cabelos pretos do outro lado. 

- Ágata?  Vocês chamam Ágata de camaleão zureta ? - Pergunto, as meninas me encaram e acenam com a cabeça, deixo escapar um sorriso fazendo-as rirem também, sinto um leve cutucado no braço e a agente Meson me repreende,  fecho o sorriso. 

    Passamos quase meia hora fazendo as mesmas perguntas as meninas, a mais velha do grupo tem nove anos, a mais nova, seis, o agente Becker pede para que a agente Meson vá até Tina, descobrir já acordou e viu alguma coisa, o agente Becker nos deixa com a agente Roberts e vai para outra sala, não somos o único grupo no andar, mais cinco salas de reunião estão sendo usadas em depoimentos e precisam que ele tome conhecimento de algumas coisas. 

     Assim como Becker e a agente Meson, Roberts não consegue nada das meninas, agora cansadas de repetirem as mesmas coisas. Exatamente dez minutos depois delas repassarem o mesmo depoimento tia Sara entra na sala, as meninas a encaram como se ela acabasse de ter saído de um conto de fadas, tia Sara as dispensa depois de ouvir mais uma vez, o depoimentos delas, ela pede para que eu as leve de volta para o refeitório,  e lembro da promessa que fiz a Grace. 

   Peço que as meninas formem uma fila perto da porta e vou até minha tia que esta sentada entre Thalia e o agente Rian.

- Comandante. - Chamo. 

- Senhorita Richards, algum problema ? - Ela pergunta. 

- Ontem a noite, antes da chacina acontecer, prometi a uma das meninas que se nos ajudasse daria milk shakes para ela e suas amigas, ela não conseguiu sobreviver mas eu sim, e tenho uma dívida com ela, peço permissão para levar essas meninas até o terraço e cumprir minha palavra senhora.

- Ouvi o que aconteceu com as duas irmãs e o agente Alter ontem a noite senhorita, e também me foi repassado a barganha que fez com elas, mas essas meninas precisam comer algo que as fortaleça e não que as ajude a adoecer.

- E irão senhora, depois. - Tia Sara me encara e lanço-lhe um olhar de súplica, e ela cede. 

- Tem a permissão senhorita, mas será responsável caso uma delas venha a adoecer.

- Serei senhora, Obrigada Comandante. - Viro-me e volto a porta.

- Senhorita - Chama minha tia antes que chegue até a porta, viro para encará-la - Como pretende pagar pelos milkshakes? -

- Eu não... - Droga, eu não tenho dinheiro, deveria ter pensado nisso antes. 

- É, você não tem um centavo - Ela diz sorrindo - Diga que a comandante Breslau mandou.

- Obrigada.

- Pode ir agora. - Fecho a porta com cuidado e peço para que as meninas me sigam, elas andam pelo aeroporto segurando a mão umas das outras, as guio até o restaurante e sentamos na maior mesa, peço para que peçam os milk shakes e enquanto esperamos os pedidos chegarem elas me encaram.

- Você disse que fugiu de la, como você fez ?

- Não fugi sozinha, eu e minhas....  - Evito a palavra "amigas" elas deixaram bem claro que não eram e nem queria ser minhas amigas - Companheiras, íamos ser levadas para um lugar ruim e quando nos colocaram num caminhão o fizemos tombar e fugimos.

- Suas amigas são da policia também ?

- Algumas sim, outras estão nos centro de socialização para onde vocês vão.

- Moça, você teve medo ? - Pergunta Hiley. 

- Eu tenho medo, o tempo todo, mas eu tento ser forte e luto contra ele, foi graças ao depoimento delas que pudemos voltar lá e pegar vocês.

- Eu queria saber alguma coisa pra te contar. - Diz a menina de cabelos loiros cacheados que sentou perto de mim, de novo.

- Desculpa não saber de nada. - Pede a garota de cabelos pretos e crespos.

- Não se desculpem! Vocês ajudaram mais do imaginam - Digo no momento que os milk shakes chegam elas fazem as mesma expressões que Ashe e Anna fizeram quando provaram da primeira vez, as vejo sorrir e provarem os milk-shakes umas das outras, me pego pensando em Anna, como será que ela está agora ?

 - Senhorita Richards ? - Me chamam alguém viro o lado e dois agentes altos, um negro sarado e um com descendência asiática estão parados de frente para mim - A agente Meson nos mandou, pediu para que nos acompanhasse.

- Eu... - Encaro as meninas sugestivamente.

- O agente Holmes cuidará delas senhorita, e importante, sobre uma garota chamada Tina.
     

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Capítulo 47. Apenas a Verdade.



    Tento esconder meu rosto vermelho e esquecer a cena deplorável que aconteceu a dois minutos.

- Por que me deu o cartão do seu quarto ? - Pergunto tentando mudar de assunto, e esquecer o agora.

- Todos os leitos estão cheios, então achei que não seria nada de mais você passar a noite aqui.

-  Com você ? - O encaro, olho a toalha enrolada numa bola em minhas mãos, o macacão e as lingeries sujas estão aqui, não posso dormir na mesma cama que ele usando somente uma camisa. 

- E qual seria o problema ?  - Me pergunta ríspido e cruzando os braços, o encaro o problema é que to sem lingeries idiota.

- O problema e que não vai rolar. - Digo por fim.

- Está achando que sou um tarado senhorita Richards ? 

- É, eu acho que você é sim. - Me esquivo, talvez se ele me odiar ele saia.

- Você ta maluca. 

- Talvez  esteja mas não vou dormir no mesmo quarto que você.

- E por que não ? Acha que vou atacá-la no meio da noite ? 

- Bem, talvez sim, mas essa não é a questão, Jason me ensinou a sair desse tipo de situação, senhor Brown.

- Se confia tanto em suas habilidades, por que está tão incomodada da minha presença no meu quarto ? - Olho ao redor, procuro uma boa desculpa, o problema não ele ficar aqui, o problema é ele me olhar por acidente enquanto durmo. 

- Bem, primeiro, só tem uma cama aqui. - Indico com o braço a cama de casal ao nosso lado.

- Posso dormir no chão se esse é o problema.

- Segundo, não tem muitos cobertores, se você vai dormir no chão significa que precisa de cobertores e não quero dormir sem eles.

- Então durma com eles, dormirei no tapete.

- Dai você morre de frio, e eu me sinto culpada. - Mordo o lábio, não me parece justo Otto passar a madrugada tremendo no chão por minha causa. 

- Onde quer chegar senhorita ? Não quer que eu durma na minha cama, não quer que eu durma com cobertor nem sem eles, seja clara. - Encaro minha bolinha de roupas, e as aperto.

- Estou cogitando a ideia de  dormir na enfermaria e deixar você no seu quarto, lá deve estar...

- Cheio. - Ele me corta - E mesmo que consiga uma cama não creio que seja o melhor lugar do mundo pra você estar, poderá contaminar o local.

- Seria melhor lá, certamente, e não se preocupe não irei me contaminar. 

- Não estou me referindo a você senhorita, estou me referindo a eles, você contaminaria eles, a não ser que queira ser responsável por uma chacina é melhor manter seus vírus longe da enfermaria. 

- Eu não tenho vírus! 

- Estava no meio de um canavial cheio de poeira onde perambulou por uma barraca improvisada repleta de doentes, entrou num hospital abandonado decadente mofado e escuro, segurou nos braços meninas que não sabemos se tinham gripe ou algo que pudesse ser transmitido, acha mesmo que as enfermeiras lá embaixo deixariam você entrar em algum leito senhorita Richards ? 

- Elas não tinham gripe! - O encaro, pelo menos não as que eu tive contato. 

- Isso eu sei, mas as enfermeiras não.

- Otto não posso dormir aqui com você!.

- E por que não ?

- Por que não sinto confortável dormindo sem lingeries. - Confesso, percebo seu rosto ficar levemente vermelho e sinto uma queimação no meu, ele continua me encarando e não diz nada. 

- Wow - Diz ele finalmente -  Hã... Não tem nem uma lá dentro  ? - Pergunta voltando ao banheiro, ouço o barulho do móvel batendo, seguido pela porta do closet.

- E mesmo que tivesse, o que estaria fazendo aqui ? - Pergunto, será que seria dela, sinto uma pontadinha de raiva crescer dentro de mim. 

- Ai meu Deus... Você não anda com isso na bolsa ? - Pergunta me olhando parado na porta do banheiro. 

- Por algum motivo está me vendo de bolsa ? - Pergunto encarando-o. 

- Quer saber, relaxa, não tenho problema com mulheres peladas. - Diz deixando um leve sorriso escapar.

- Mas eu tenho senhor Brown. - O encaro fria, vejo o sorriso dele desaparecer, ele encara a porta depois olha para mim. 

- Fique ai, já volto - Otto sai e tranca a porta, permaneço em pé, próximo a porta do banheiro, vou para a cama e me sento, deixo as estrelas roubarem meus pensamentos, queria ligar para minha mãe e contar como me sai hoje, o que aconteceu com as garotas e com o agente Alter. A batida da porta me tira de meus delírios e Otto joga um saco de lingeries em cima de mim, o analiso, é idêntico aos que tem nos quartos das garotas. 

- Onde achou isso ? 

- Alguém pegou pra mim, agora vista-se, tomarei um banho, caso ainda não tenha percebido - Ele aponta para a mesa com o notebook e os porta retratos, percebo uma jarra de suco de laranja, alguns pratos  e um jarrinho com uma florzinha vermelha no meio da bandeja. - Trouxe algo pra você comer.

- Esse alguém você quer dizer Thalia ? Porque se isso for dela - Jogo o saco no chão - Prefiro ficar sem. 

 - Que bom que tocou no assunto, porque é disso que vamos falar, e não senhorita - Otto pega o saco e o estende para mim - E não é da agente Farzone - Diz olhando nos meus olhos antes de entrar no banheiro, espero a porta ser fechada e retiro um par de roupas de baixo pra mim, visto as peças e volto a vestir a blusa preta que peguei no armário dele, dormir com aquele macacão apertado seria tortura. Faço um coque com meu cabelo, me jogo na cama e fecho os olhos. 

- Não durma. - Ele fala alguns minutos mais tarde.

- Não estou dormindo. - Respondo ainda com os olhos fechados, meu corpo está pesado e minhas pernas doem, penso na possibilidade de deixá-lo falando sozinho e mergulhar no oceano invisível do sono.

- Quero minha resposta senhorita. - Ele me atrapalha. 

- Como estão todos ?  - Pergunto lembrando do agente Becker e sua pilha de nervos. 

- As garotas chegaram, tinha de fato um espião dentro de um dos caminhões, as meninas reagiram e o derrubaram, começaram a gritar, o motorista parou o carro e o deixou inconsciente.

- E elas não fugiram ? 

- Não. Por que fugiriam ? 

- Bem, eu fugiria se aqueles que dizem me proteger levantasse uma arma pra mim.

- Graças a Deus elas não são você, elas o fizeram de refém até os reforços chegarem, ele foi levado para as cadeias, junto com os outros.

- E as garotas ? 

- Nem um arranhão.

- É um milagre.

- É o que todos estão dizendo por aqui. 

- E a comandante ?

- Estará aqui pela manhã.

- Por que não posso ir pro quarto dela ? - Pergunto abrindo os olhos, encarando o teto branco acima. 

- Ninguém pode ir lá. Ninguém sabe onde fica.

- Hum... Interessante. - Comento, ele não diz nada, nem eu, penso no que Grace deve ter visto antes de ser atingida, será que viu Alice morrer ? Ou será que ela foi a primeira ? Inspiro fundo, se eu não tivesse a forçado a falar talvez estivesse numa cama confortável como essa. 

- Aurora, olhe para mim. - Chama.

- Não.

- Vamos. - Sinto o peso do seu corpo na cama, ele sentou ao meu lado. - Olhe para mim.

 - Não - Otto se deita ao meu lado, e continuo olhando para o teto. 

- Olhe para mim - Me rendo, e viro a cabeça o encarando.  

- O que é ? - Otto não me toca, como achei que faria, apenas está deitado ao meu lado com as mãos recolhidas no peito, o cabelo negro levemente bagunçado e molhado, a barba feita, está sem camiseta, sua pele parece porcelana branca, não está mais bronzeado como quando o conheci, na verdade ele está assim desde quando eu cheguei, talvez ele não ande mais na praia, ele cheira a sabonete masculino, um cheiro gostoso. 

- Não foi sua culpa. - Ele diz, está se referindo as garotas, parece que meus pensamentos estão bem óbvios de serem lidos.

- Não é o que parece. - Sussurro, não porque não quero que ninguém ouça, mas porque não quero que ele me veja chorar, de novo. 

- Vai desistir de tudo por causa de uma infelicidade ? Aquele cara estava  pronto para fazer isso, se não fosse com elas seria com outras.

- É isso que tem a me dizer ? 

- É isso que você deve saber, pessoas morrem aqui, infelizmente a morte e inevitável, faz parte do nosso cotidiano, todos temos ciência dos riscos que corremos, e é isso que você tem que ter em mente. 

- Certo, morte diária. Captei. - Viro o rosto e encaro o teto novamente. 

- Morte diária não, sacrifícios, não é apenas uma morte, essas pessoas morreram fazendo o bem, e isso é heroísmo. 

- Chame do que quiser, mas ainda é morte diária. 

- Lembra daquela noite, quando me disse que queria isso com todo seu coração ? 

- Não sei se quero agora. - Confesso. 

- Tudo bem - Ele diz com um tom suave -  É normal sentir dúvidas no começo, mas tenha em mente que várias garotas estão dormindo seguras esta noite graças a você. E isso é algo que não se pode pagar. 

- Você tem razão. - O encaro, os lindos olhos castanhos me encarando de volta -  Não estou arrependida do que fiz Otto, só de não ter conseguido mantê-las seguras, e vivas.

- Todos nós estamos. - Ele diz, e continua me encarando, não digo nada e continuo sustentando seu olhar, ficamos em silencio por quase três minutos. - Gosto de você - Ele diz baixinho, como num sussurro -  Pra ser sincero, gosto de tudo em você, da sua coragem súbita, do modo como defende o que acredita ou honra o que diz, gosto da sua compaixão com os outros, mesmo que não valam nada ou lhe tratem com indiferença, gosto da maneira como protege as pessoas que ama e como olha pra mim. 

- Onde quer chegar ? - Pergunto tentando ignorar o frio na barriga. 

- Tenho observado você já faz um tempo, você sabe disso.

- Tenho uma ligeira ideia.

- No começo eu odiei você, sabe disso, mas não conseguia parar de pensar em você, pode parecer loucura mas fiquei viciado em procurar fotos suas na internet e quando a vi tão... Tão maravilhosa na festa de Jocelyn, ficava pensando na coisa certa pra dizer a você e não parecer patético na sua frente. 

- Não pareceu patético, pareceu mais com um... -

- Um o quê, um idiota ou interesseiro que só estava tentando subir de cargo no trabalho ? - Sorrio envergonhada lembrando no que dissera a Otto quando o vi pela primeira vez, ele sorri junto.

- Esqueça, é idiotice.

- Não é, quero ouvir, um o quê ?

- Um príncipe. - Confesso, porque era isso que sempre achei, dançamos, nos beijos, ele me mostrou as estrelas, internamente me senti a Cinderela. Ruborizo com a ideia, e encaro o teto. 

- Um príncipe ? 

- É, mas quer saber, ignora, por que está me contando isso? - Pergunto sem tirar os olhos do gesso branco acima de nós, mas louca de vontade de encarar seus lindos olhos castanhos.  

- Porque quero que você saiba que eu realmente gosto de você Aurora, e o que você me disse hoje mais cedo, você me feriu, e feriu profundamente, entende ? 

- Não foi minha intenção. 

- Sei que gosta de mim, que sente alguma coisa por mim ou não teria me beijado daquela forma, não ficaria tensa quando a toco, ou pararia de respirar sempre que me aproximo, não me olharia do jeito que faz e não teria se preocupado tanto comigo mais cedo.

- Perdi pessoas que amo Otto, não queria perder você também. 

- Então você me ama ? - Ele pergunta e me silencio, ouvimos apenas o tic-tac do relógio em algum lugar.

- Eu não sei o que sinto. - Digo baixinho, porque não sei o que sinto por ele, não sei se seria o amor, mas é forte, como o mar raivoso.

- Você gosta de mim ? 

- Gosto. - Confesso, sempre gostei. 

- Mas não ama. - Diz num tom triste. 

- Eu não sei o que é o amor dessa forma Otto, o desconheço, não peça para descrever algo que não se consegue ver. 

- Tudo bem, então você gosta de mim ? 

- É.

- É o que ? 

- Você sabe a resposta.

- Quero ouvir saindo da sua boca.

- Eu gosto de você Otto. 

- Pode ao menos me encarar enquanto me confessa uma coisa tão bombástica quanto essa ? - Sorrio, e viro a cabeça o encarando, ele está sorrindo também
- Eu gosto de você Otto, muito.

- Tem certeza ? - Aceno com a cabeça - Então por que não me fala a verdade, Thalia disse alguma coisa pra você que a fez dizer... Aquilo ? 

- Eu não sabia quem era ela, se apresentou um dia antes e disse que substituiria uma das agentes, Jocelyn me falou quem ela era enquanto estávamos na casa de Margo então quando cheguei em casa perguntei o que ela queria, ela disse que você só estava entediado, que eu era uma criança e você um homem, só falou verdades.

- Acha que só quero me divertir com você e depois ir  embora ? 

- Não. -Confesso, sempre soube que ele nunca seria um cafajeste, mas me deixei levar por Thalia, o que é pior.  

- Não consigo entendê-la.

- Otto, preste atenção no que digo, que mulher compararia um cara lindíssimo a um príncipe ? Eu só faço drogas na minha vida e nem sei o que é o amor, não vejo como você poderia se interessar por mim. 

- Então acha que não daríamos certo juntos ? 

- Acho que estou viciada nos seus beijos, no seu cheiro e na forma como você me olha, como se eu fosse única, mas não acho que conseguiria ficar longe de você. 

- Não respondeu minha pergunta.

- Porque não sei a resposta.

- Podemos tentar e dar certo, mas podemos tentar e dar errado, só não deveríamos deixar de tentar.

- Não deveríamos. - O celular toca na mesa a nossa frente, Otto se levanta  e vai até ele e eu me sento na cama, ele o trás até mim com um sorriso meio triste no rosto. Ele para a minha frente e se abaixa, ficando apoiado em apenas um joelho, pega minha mão e a posiciona próximo a sua boca, em seguida me encara. 

- Aurora Madison Richards, a dezoito anos você deu luz a vida de duas grandes pessoas, e agora rogo para que você faça de mim um homem de sorte, o motivo de seus olhares e sorrisos, estou aqui mediocremente pedindo a mulher mais linda do mundo que fique comigo, eu não comprei presentes e não sou um príncipe de verdade mas por você, eu serei, então espero que aceite meu meu coração, não é muito nem brilhante, tem umas partes feias mas é tudo que tenho, é meu bem mais precioso. 

- Sinto-me honrada e poder ser a guardiã do seu tesouro senhor Brown, mas...

- Aurora, quer ser minha princesa, companheira, confidente, prioridade, minha luz... Minha namorada ? 

- Otto... 

- O que lhe impede ? Uma ex ? O que os outros vão pensar? Confessou na minha cama que está a fim de mim, vai mesmo deixar de ser feliz comigo por causa dos outros ?  - O encaro, um belo homem de joelhos me pedindo para ser feliz ao seu lado, seria isso mesmo que eu quero ? Sim. Seria. 

- Nada poderia me deixar mais honrada. 

sábado, 23 de janeiro de 2016

Capítulo 46 - Inimigos Infiltrados.

     

     Quando retorno para a fogueira percebo a agitação dos agentes que andam de um lado para o outro, tento encontrar um lugar para sentar mas não acho nem um, os caminhões estão saindo em fila, volto para enfermaria para ver Miranda, mas as macas começaram a ser removidas, um jatinho foi equipado para transportar os feridos. Quando chego a enfermaria vejo a maca de Tina entrando no jatinho, dou-lhe um beijo na testa quando ela passa por mim, continua dormindo, deixo os enfermeiros a levarem e entro na tenda, não há mais nem uma maca aqui, todos já devem ter embarcado, refaço meu caminho até a porta da tenda da enfermaria e ouço um estrondo alto, saio da tenda e todos estão parados, outro estrondo e ninguém se meche, quando o quarto estrondo ecoa percebo que são tiros, os enfermeiros levam as últimas macas com pressa para dentro do jatinho e eu corro em direção aos sons, um aglomerado de pessoas está do lado esquerdo, onde a tenda das garotas deveriam ficar, ouço gritos baixinhos três meninas são levadas as pressas e para o último caminhão que dá a partida. 

- O que está acontecendo ? - Pergunto ao agente a minha frente, que me ignora, assim como todos, está chocado olhando para minha frente, tento achar espaço e caminho empurrando os agentes a minha frente, quando chego ao centro coloco a mão sobre minha boca, tento sufocar o grito eminente, a minha frente Alice, Willow e Grace estão caídas no chão com sangue saindo de suas cabeças, ao lado delas o agente Alter  também está caído, com um tiro na cabeça. 


    Saio de perto daquele cena deplorável mais agentes se reúnem em volta dos corpos, sinto minhas pernas tremerem, é minha culpa, é minha culpa, eles as mataram como disseram que fariam, e eu tornei isso possível. 

     Becker e os outros agentes logo chegam, vejo a agente Meson e o agente Rian penetrando a multidão seguidos por Becker e Roberts, Thalia e Otto são os últimos a chegarem, sinto meu coração acelerando, olho a minha volta estamos parados no meio de uma plantação de açúcar. Vejo o último caminhão fazer o mesmo percurso pela estrada que usamos hoje mais cedo e o sigo. Coloco minhas pernas para funcionarem e o sigo, ouço alguém me chamando mas ignoro, continuo andando, mais rápido, sem perder as luzes vermelhas dos faróis do caminhão de vista, sinto meu coração acelerar e começo a correr, correr pra longe dos tiros, corro mais rápido, se não fosse por mim elas ainda estariam vivas, continuo correndo, mais rápido, sinto minhas pernas queimando e forço meu corpo a continuar, tento correr mais forte mas alguém puxa meu braço, tento me soltar, o empurro, mas dois braços passam por meu corpo, me mantendo presa. 

- O que está fazendo ? - Ele pergunta em meu ouvido. 

- Eu não sei. Eu só...  É minha culpa Otto. 

- Não é sua culpa, a culpa é deles. 

- Não, é minha! Se não tivesse forçado Grace a falar elas e o agente Alter estariam vivos agora, se não tivesse forçado elas estariam dentro de um caminhão, indo em direção ao  GOECTI mas eu interrompi a vida delas.

- Não, Aurora você  fez o que achou que era certo, tentou ajudá-las a ter liberdade.

- Eu assinei a autorização para matá-las. 

- Olhe para mim -  Ele me vira e o encaro - Você não teve absolutamente nada com isso, fez o que mandaram você fazer, você queria para aquelas meninas o que todos nós queremos : segurança e uma vida melhor. Se vamos culpar alguém culpemos aqueles malditos que fizeram isso com elas, que as trancaram roubaram a liberdade as vidas delas. 

- Me sinto uma idiota inútil. 

- Você não é, salvou dez garotas.

- E matei três. 

 - Não, não as matou, eles as mataram! Você tentou ajudá-las, fui claro ? - Aceno com a cabeça - Não é sua culpa, nunca foi, sei que deve estar se sentindo péssima e que não vai dissolver isso instantaneamente só porque pedi a você, mas me ouça, pegue isso que está sentindo e destine para procurá-los, fui claro ? - Aceno com a cabeça - Não se torture meu pássaro. - Sinto os dedos de Otto em minhas bochechas, ele limpa meu rosto e percebo que estava chorando - Venha, vamos voltar pro GOECTI. - Otto segura minha mão e voltamos para o acampamento improvisado, seco meu rosto e uso a mesma expressão que costumava usar na casa de meus tios, dura e fria. Como Otto me falou antes, e Tia Sara também, não posso deixar que percebam que a morte das três garotas me abalou tanto, seguro a mão de Otto e ele me leva até o jato que viemos, quando entramos encontramos todos os agentes do conselho. 

- Quase o deixávamos Agente Brown. - Diz o agente Becker nos percebendo. 

- Desculpe senhor. Achei que ainda estariam reunidos na barraca. 

 - Avisei que partiríamos no momento que vimos.. No momento que chegamos no local do incidente - Ele fala sem olhar para Otto. Incidente ? O que aconteceu com o agente que trabalhava com você foi um incidente ?

- Sentem-se. - Pede a agente Meson, Otto senta na mesma poltrona que veio, ao lado de Thalia e eu sento de frente para ele. 

- Senhorita, não deveria voltar com os outros ?  - Pergunta Thalia me encarando. 

- É, eu deveria  - Digo me levantando. 

- Sente-se Richards, agente Farzone não deveria se preocupar com outras coisas que não seja os passageiros desta aeronave ? - Pergunta a agente Meson encarando Thalia.

- É uma iniciante, deveria ficar com os outros, apenas sigo as regras. E não existe privilégios nas regras. - Responde Thalia com desdém 

- Ela é minha pupila, e assim como você e o agente Brown estão aqui, ela também estará, então sugiro que mantenha foco no que é paga pra fazer. - Diz a agente Meson fazendo todos se calarem momentaneamente. 

- Agente Roberts, e os prisioneiros ? - Pergunta o agente Becker quebrando o silêncio. 

- Foram levados diretamente pra central, não pararam no acampamento, uma mulher e cinco homens, todos algemados, não teriam condições no envolvimento dessa tragédia. 

- Então, temos um intruso entre nós. - Ele conclui. 

- Provavelmente, mas não sabemos se continua no grupo. - Ela o encara.

- O que quer dizer ? 

- Estávamos cercados por uma plantação de açúcar, deveria nos camuflar, mas acabou servindo de entrada e saída para qualquer quer que seja. - Diz a agente Roberts. 


- Não acredito que deveria ter chegado de última hora, ele ou ela, sabia exatamente quais eram os alvos. - Diz o agente Rian. 

- Poderia ter ouvido do lado de fora e seguido as meninas e o agente Alter - Diz Otto. 

- Se era pra matar alguém, por que não mataram ela ? - Pergunta Thalia apontando pra mim, fazendo com que todos a encarassem - Ela deveria ser o alvo. Mas foi salva de última hora, atiraram nelas para que não fizessem os retratos falados deixando a miss simpatia viva, um alvo mais urgente do que outro. 

- Você ta viajando Farzone. - Digo. 

- A comandante Breslau intensificou a segurança da senhorita Richards, com medo de que uma possível vingança acontecesse - Ela diz sem tirar os olhos de mim, seguro seu olhar e tento engolir o nó na minha garganta, quatro pessoas inocentes morrendo no meu lugar faz meu estômago revirar -  Faz todo o sentindo um batedor ter vindo atrás de nós, deve ter-la reconhecido e esperando o momento certo para atirar. 

- E por que não atirou ? - Pergunto - Não lembro de ter retirado minha touca desde que pisei naquele lugar, apenas quando era mandada, como me foi instruído, quando chegamos, permaneci sentada perto aos outros agentes ao redor da fogueira, alvo fácil para qualquer um que estivesse de espreita no canavial, se quisessem me executar, como você diz, por que não fizeram enquanto tiveram quase três horas de chance ? 

- As palavras da agente Farzone fazem sentindo, assim como a de Richards, se quisessem executá-la, por que não fizeram ? - Pergunta o agente Rian. 

- Sim, fazem sentindo, mas não creio que a teoria de Farzone esteja correta, eles sabiam que chegaríamos, sabiam que as garotas denunciariam a passagem deles pelo cômodo, Richards não era o alvo, elas são, eles não deixariam arquivos vivos para futuras dores de cabeça. - Diz o agente Becker. 

- Para não ser encontrados. - Diz a agente Meson baixinho.

- Então por que deixá-las para trás se iriam matá-las ? - Pergunta a agente Roberts.

- Distração, elas eram a distração, como não são mais, agora são apenas ameça. - Diz o agente Becker a encarando. 

- Senhor, a que horas estava prevista a saída das garotas do acampamento ? - Pergunta Otto ao agente Becker. 

- As 21: 15. 

- Que horas começaram a ser despachadas ? - Pergunta encarando o agente Rian. 

- As 20:50, tivemos que apressar alguns caminhões devido a quantidade de crianças. - Responde Rian. 

- Estava premeditado. - Ele pondera -  Os corpos foram encontrados próximos as tendas onde todas deveriam estar agrupadas, elas eram as únicas que chegaram as nove no local. 

- Queima de arquivos. - Diz o agente Rian acompanhando o raciocínio de Otto. 

- Irão matá-las antes que cheguem na central, sabem que elas facilitarão nossa chegada até eles. - Continua Otto. 

- Alice, Grace e Willow não serão as últimas. Irão matar todas. Diz a agente Roberts.

- Façam contanto com caminhões estabeleçam rotas alternativas de chegada até a central, dividam os caminhões em duplas. - Ordena o agente Becker, os agentes sacam os tabletes e tentam entrar em contato com caminhões. 

- Senhor, devo pedir suporte ao agentes no boeing ? - Pergunta Thalia encarando o agente Becker. 

- Não agente, temos um intruso infiltrado, se estiverem certos, ele estará entre os outros no boeing. 

- Ou dentro dos caminhões senhor, agentes foram colocados dentro dos caminhões para segurança e possíveis contratempos, um último caminhão foi visto saindo segundos depois dos disparos, vi garotas sendo colocadas lá dentro. - Diz Otto sério. 

- A caralho! - Diz o agente Rian o encarando. 

- Acionem o código vermelho, qualquer som vindo de dentro ou do lado desses caminhões será constatado, avisem aos motoristas, peçam reforços das centrais mais próximas que estivermos, repassem as informações, não perderemos todas. - Diz o agente Becker.

- A comandante deveria saber disso senhor. - Diz a agente Meson, ela já está com o tablet nas mãos, uma lista aparece na tela, como num chat de bate papo, caminhão 038 placa:  5569, é com o esse motorista que ela está falando, avisando.

- Avisarei a comandante, e solicite reforços. - Ele ordena. 

- Estamos com quase todos os agentes sob nosso poder senhor. - Avisa a agente Roberts. 

- Mas não todos. Brown quantos agentes mortos no cativeiros ? 

- Vinte e senhor, os corpos já estão sendo encaminhados para as famílias.

- Temos em torno de oitenta e sete agentes nos caminhões senhor. - Diz Thalia. 

- O que nos deixa com duzentos e noventa e três no boeing de volta para a central. - Comenta o agente Rian. 

- Se é uma queima de arquivos ele não estará junto com duzentos no boeing, estará em terra. - Diz a agente Roberts. 

- Chegaremos na central em meia hora senhor. - Diz Otto. 

- Qual o modelo do avião  que eles estão usando ? - Pergunta Becker.

- Um boing CH-47 senhor, é mais rápido do que esse jato. - Diz Otto.

- Rapasse as informações, dentro de quinze minutos eles estarão na central, quero que recarreguem as armas e vão de encontro com os caminhões.

- Sim senhor. 

- Avisarei a comandante Breslau - Ele diz e pega seu tablet. 

    A meia hora seguinte os agentes estavam todos concentrados nas telas portáteis, dando e recebendo informações dos motoristas dos caminhões, os reforços foram encaminhados, e recebemos apenas um sinal de um suposto ataque, que logo fora contido devido a habilidade do ao motorista e aos reforços, felizmente apenas os motoristas foram informados do suposto invasor. A espera até a chegada do GOECTI parecia infinita, tão infinita quanto a espera por notícias que tranquilizassem meus batimentos cardíacos, elas não podem morrer, me senti inútil vendo todos os agentes dando informações enquanto eu ficava ali, sentada, observando, como me foi instruído. 


     Quando finalmente chegamos os agentes correram pelo aeroporto em busca de informações, Otto me deu um cartão e me mandou para o quadragésimo andar, a última coisa que vi foi ele correndo para o mesmo elevador que Roberts, Thalia, Meson, Becker e Rian. 

  O vento forte chicoteava meus cabelos, da última vez que estive na central de Korn faria tudo para participar da missão, hoje já não sei se ainda penso assim, dou uma última olhada no aeroporto, o boeing dos agentes está aqui, quase escondido, por isso não o percebi da última vez, os helicópteros o escondem. O restaurante de vidro está quase vazio e o vento está mais forte, forço meus pés a irem para o elevador da direita, pressiono o quadragésimo andar e começo e descer, quando chego, a entrada de um hotel de luxo me recebe, portas de madeira de carvalho enormes e lustres iluminam o corredor, vou para quarto de número seiscentos e passo o cartão que Otto me dera, a porta se abre uma cama de casal king size com cobertores brancos e várias almofadas me recebem, um enorme gabinete de mogno marrom com um notebook, uma estante repleta de livros logo atrás. De frente a cama, uma vista de tirar o folego, uma parede de vidro faz da  noite estrelada seu panorama. Seria maravilhosa se estivéssemos na cidade, com todas as luzes piscando lá em baixo, mas como estamos na fronteira, apenas mato cobre o chão por quilômetros, mesmo assim, não deixa de ser maravilhoso.


 Ao lado esquerdo do comodo uma TV de tela plana cobre quase toda a parede, ao seu lado uma porta se mostra convidativa, vou até ela e encontro o banheiro, assim como os quartos lá embaixo, entretanto é quase do tamanho do quarto que estive quando cheguei aqui pela primeira vez, entro e fecho a porta, paro de frente ao espelho e uma garota desgrenhada e suja me encara, ignoro minha imagem, dou atenção a imensa porta preta, atrás de mim, movo-me atá ela e a abro, várias roupas de homem me recebem, incluindo uniformes do GOECTI, ao lado dos cabides, coturnos e sapatos masculinos estão agrupados organizadamente, nas gavetas certamente estão as roupas intimas.

    Pego uma camiseta preta e a cheiro, elas exalam o mesmo perfume de Otto. É, com certeza esse é o quarto dele, puxo a camiseta do cabide e fecho a porta do closet.

   Retiro o macacão sujo do sangue de Miranda e de Tina e entro no chuveiro, hoje de manhã estava cogitando a possibilidade de entrar em alguma missão do GOECTI e agora estou duvidando da minha capacidade de permanecer nele, odeio duvidar das minhas certezas, desligo chuveiro e procuro a toalha, não a encontro, percebo que a esqueci, saio do boxer e tento encontrar alguma toalha no closet. 

- Aurora você está...? 

- Aaaah! - Grito, Otto cobre o rosto com o braço e fica de costas para mim.   

- Eu só queria perguntar.. - Olho para o espelho ao meu lado, o flagro olhando para o espelho, cubro-me com meus braços. 

- NÃO ME OLHA OTTO! - Peço em desespero e ele vira a cabeça - VAI EMBORA! - Grito. 

- As toalhas estão embaixo do balcão da pia.


- SAI! - Otto cobre do rosto e sai do banheiro, corro até o balcão e pego uma toalha preta, me vejo no espelho e meu rosto está na mesma tonalidade do cabelo de Margo, tento não rir da situação e jogo água no rosto, me seco e visto a camiseta preta que roubei do closet. 

- Já posso entrar ?  - Ele pergunta do outro lado. Pego meu macacão e minhas peças intimas do chão os enrolo numa bola e a cubro com toalha. 

- O que quer ? - Pergunto abrindo a porta do banheiro, o encontro de pé ao lado da cama. 

- Só... Eu... Hã... Me desculpe, eu não sabia que você estaria... pelada no meu closet. - Diz encarando o chão, vejo um sorriso escapando de seus lábios, deve estar rindo por isso não encara. 

- Está achando engraçado ? 


- Eu nunca imaginei encontrá-la dessa forma senhorita, foi... Foi uma visão incomum - Diz me encarando, percebo leve rubor em seu rosto.

- Ta, tudo bem, eu acho - Digo encarando meus pés, tentando esconder meu rosto ardendo. 




Leia o Primeiro Capítulo.

Capítulo 1. Uma Face Conhecida.

        Há alguns anos o país de Lori conheceu a história de uma amizade verdadeira. Graças a coragem de uma garota de dezesseis anos, outr...