terça-feira, 16 de junho de 2015

Capítulo 1. Uma Face Conhecida.


       Há alguns anos o país de Lori conheceu a história de uma amizade verdadeira. Graças a coragem de uma garota de dezesseis anos, outras mil foram salvas de uma quadrilha que contrabandeava e vendia adolescentes, as meninas, algumas eram vendidas para casais que não podiam ter filhos, outras para as mais diversas perversidades existentes na mente humana. Já os meninos eram distribuídos para campos de trabalho como escravos.
     
     Os alvos eram sempre aqueles que  não tinham pais, responsáveis legais ou abrigos eram invadidos e os jovens eram levados. Como essas duas garotas se meteram com gente desse tipo? Eu te falo, Sara tinha 16 anos, era amiga de Heloise, de mesma idade. Os pais de Sara foram mortos  em um assalto quando seu pai foi buscar sua mãe no trabalho, ao que parece, sua mãe não quis entregar a aliança e eles nunca mais retornaram.  Essa quadrilha soube do que acontecera com Sara Breslau e a levaram se passando por representes de abrigos para menores, mas Heloise foi atrás, juntas conseguiram escapar antes que Sara fosse vendida, com a ajuda de Sara a polícia conseguiu chegar no cativeiro e resgatar todas as garotas que não conseguiram fugir e trazer de volta as que já haviam sido vendidas. Se não fosse por Heloise, Sara nunca teria escapado, a polícia nunca teria encontrado o cativeiro, meninas ainda estariam sendo vendidas e abrigos invadidos.     

        A coragem de Heloise a tornou quase imbatível e quando completou 25 anos ela e Sara fundaram um Grupo de Operações Especiais no Combate ao Tráfico Infantil e Infantojuvenil, (o GOECTI), um tipo de polícia que prende traficantes de pessoas, mas segundo dizem o tráfico humano está extinto, casos assim são cada vez mais raros.


      Aos trinta e dois anos, Heloise casou-se com um dos melhores agentes do GOECTI, Benjamim Richards, com quem teve uma filha a quem chamou de Aurora.

    É, todos conhecem a minha história, e é assim que sou conhecida, não Aurora, aquela que tira nota máxima em matemática e zero em português, não a garota apaixonada por gatos e por  xícaras de café, mas Aurora a filha de Heloise, aquela que salvou várias meninas de serem traficadas. 

    Ninguém nunca realmente prestou atenção em Aurora, apenas na filha de Heloise, que por coincidência são a mesma pessoa. As vezes, gostaria de não ser a filha de Heloise Richards, por algumas horas da minha vida gostaria de ser eu mesma, porque ninguém quer ficar perto de Aurora Richards, eles querem estar sempre ao lado da Filha de Heloise Richards e tirar muitas fotos, para que todos os sites de fofoca nos cliquem, e por associação, ficarem famosas.   
         
       Ser famosa é algo fútil e com tantas injustiças as pessoas so estão preocupadas em serem conhecidas e coisas assim sempre me irritam é por isso que estou sempre só. Já tive intenção de encontrar uma amiga verdadeira no colégio, mas percebi que só acontece nos livros, e para ser sincera me acostumei com  minha solidão, é claro que gostaria de ser convidada para o baile de inverno, ou participar de festas do pijama, mas vejo que é uma realidade que nunca irá me pertencer, por isso destino minha atenção, amizade e amor aos livros, porque não importa quem você seja eles sempre estarão ali pra você, e as estórias contidas neles são mais verdadeiras que muitas pessoas neste mundo falso.


      Hoje, fazem doze anos desde que meus pais morreram, eu não lembro de nada, tinha cinco anos e estávamos  no carro, estava dormindo na hora do acidente. Atualmente, moro com minha tia Brianna, meu tio Robert e minha prima Lauren que me odeia, mas aprendi a ignorá-la, como faço com o mundo e seus habitantes.

   -  Aurora a vida é mais que comer ler e dormir - Diz minha tia com o ar de desdém de sempre.

  -  A vida é aquilo que fazemos dela - Respondo no mesmo tom.

- Até agora, você não fez muita coisa da sua né? Sua mãe tinha dezesseis anos quando ficou mundialmente conhecida  - Retruca Lauren. 

-  E eu tenho dezessete e não sou minha mãe, se me derem licença irei esperar no carro -  Levanto-me, sorrio, tento expressar calma, e vou em direção ao meu quarto. Lauren sabe como acabar com meu dia, e sempre que pode ela tenta, subo as escadas com pressa, quanto mais rápido sair dessa casa mais rápido meu humor melhorará, afinal só faltam quatro meses para o meu aniversário, os tão aguardados dezoito anos. O Sr. Thomas, o advogado, disse que poderei morar sozinha em meu próprio apartamento, e que irei administrar todo o dinheiro dos meus pais, finalmente serei independente.

      Escovo os dentes, pego minha mochila e checo  novamente o uniforme, não seria tão ruim se estivesse indo jogar tênis, mas não acho que a mini saia cinza de pregas e a camiseta branca com o brasão da escola do lado esquerdo seja  uma combinação muito adequada para o dia em Lori, não porque as tardes mais parecem noite de tão frias que são, mas a roupa em si é um pouco ultrapassada. Faço um rabo de cavalo alto, pego minha mochila preta  e desço as escadas, ignoro minha tia que está na frente da casa e entro no carro sem olhar para trás.

- Bom dia Srta Aurora 

- Bom dia Noan, como vão as coisas? - Noan é nosso motorista, de todos que moram nessa casa, ele e Joana, a empregada, são os únicos que realmente levam em consideração o que digo, se não fosse por eles não teria motivos para sair do meu quarto, são os únicos que realmente se importam comigo e eu os amo, quando for embora irei levá-los junto e isso não é uma promessa apenas um objetivo.

-  Vão as mesmas de sempre senhorita - Diz amistoso como sempre. 

-  As vezes me pergunto porque não raspa a cabeça por completo - Um velhinho semi careca com cabelos grisalhos e olhos verdes bondosos, Noan me lembra um pouco o papai noel, mas esse tem calvice.

-  Para um velho como eu, os cabelos grisalhos caem bem - Diz lançando-me outro sorriso.

- Literalmente eles caem mesmo, e você não está tão acabadinho - Respondo no mesmo tom, ele sabe que estou blefando.

- Sessenta e dois anos não é lá muito novo Srta.

- Não, não é, são apenas a experiencia de uma pessoa vivida.

 - E feliz -  Fala arrancando-me um sorriso, antes que Lauren entre e bata a porta do carro com força.

- Bom dia senhorita Lauren - Diz Noan educado como todos os dias e como de rotina ela o ignora e coloca os fones de ouvido, olho para ela e me pergunto como uma pessoa com aparência tão bondosa possa ser tão arrogante, os lindos cabelos longos e loiros, os olhos azuis como os da mãe, o nariz em pé como o do pai. Meu pai e a mãe de Lauren eram irmãos, ambos tinham olhos azuis, uma herança de família que não possuo, tenho orgulho dos olhos castanhos e o cabelo negro que herdei de minha mãe. Meu cabelo é um pouco maior que o de Lauren mas não tão brilhoso e sedoso quanto o dela, o meu é ressecado e vive despenteando, e o  dela parece que vive perfeito desde o momento que ela acorda.  Ao contrario de mim Lauren é a garota mais popular da escola, e ela tem amigas, amigas metidas, irritantes, cheias de chiliques, mesmo assim verdadeiras, e eu a invejo por isso.

      Não demora muito e o  grande prédio onipotente da Lorentz Fraz High School aparece, por fora construção em estilo gótico do século XII se apaga diante do cotidiano monótono de seus alunos, a primeira impressão sempre se apaga como uma vela ao vento quando a vemos todos os dias. Seus alunos apagados sempre me fazem questionar, de que adianta se encher de dinheiro, bens, carros se no fundo você é vazio? 

 - Tenham um bom dia senhoritas.

- Não precisa voltar pra me buscar, vou pegar carona com a Hannah.  

- Sim senhorita Barniel. E você senhorita Richards, precisará dos meus serviços ou também irá voltar com alguma colega? 

 - Não Noan, estarei esperando você, como sempre -  Digo recolhendo minha mochila. 

- Até mais tarde senhorita Aurora, tenha um bom dia - Desço do carro dou um sorriso para Noan, e Lauren me acompanha, como sempre, sorrindo como se estivéssemos felizes, para que todos nos vejam.

- Da pra sorrir um pouco? Estou tentando elevar seu status aqui dentro, então você poderia me agradecer por andar ao lado de alguém como você.  

- Elevar ? Não seja hipócrita Lauren, sei que você quer provocar Margo Banson, quer que ela se sinta um lixo pelo episódio do refeitório, mas eu não vou ser mais uma peça nesse seu tabuleiro de xadrez do mal, se me der licença tenho um encontro com a Biologia.

- Você é ridícula, e a propósito, não fui eu que comecei isso tudo não é mesmo.  

 - Não, mas está fazendo de tudo para destruir alguém, e isso é pior - Deixo Lauren pra trás e me apresso em direção a sala de biologia, não chegou ninguém ainda então pego o livro de Thompson  e vou direto para o capítulo  vinte dois, onde parei noite passada. Não demora muito para que todos cheguem e sou obrigada a interromper minha leitura, a lembrança do refeitório me atinge como raio, preciso falar com Margo. 














2 comentários:

  1. Muito interessante a história. E já tem mais de 40 capítulos?!
    Parabéns!

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    1. Obrigada Tatiane! Fico muito feliz que esteja gostando! :D Não se acanhe em comentar mais vezes, mil beijos :*

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Leia o Primeiro Capítulo.

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