sábado, 19 de setembro de 2015

Capítulo 22. Seus Olhos São Como Dois Espelhos D'água.


  
   Luzes ligadas, ao meu lado uma janela de vidro mostra o céu estrelado com uma linda lua cheia, a minha frente um homem  me força a olhar em seus olhos, dois lindos espelhos d'água.

- Na sala de espera ?

- Achei que você fosse como as outras, fútil, rasa, que não desse valor ao que os seus pais haviam construído, senti uma empatia forte por você a primeira vista senhorita, mas então um dia Jocelyn chegou e disse que havia conversado com a filha de Heloise Richards,  disse que você era a pessoa mais inteligente e gentil que ela havia conhecido, que você queria se dedicar a crianças que sofriam maus tratos. Ela via uma Heloise em você, pronta para assumir de onde sua mãe parou. Depois do que você me disse agora, de como fugiu trazendo junto doze garotas eu vejo o quanto ela estava certa, e como eu estava errado, depois do que ela me disse eu comecei a observá-la, sua tia nos apresentou no dia que comecei a trabalhar no GOECTI, você usava uma fita azul no cabelo, desde desse dia eu a via sempre que seus pés pisavam na central mas você nunca reparou em mim, foi necessário uma festa adolescente espalhafatosa  para que você prestasse atenção nas pessoas ao seu lado senhorita Richards.

- Em minha defesa, nas vezes que entrei no escritório em Lori minha cabeça estava completamente voltada para  problemas pessoais, você poderia me dar um "oi" ao invés de ficar me olhando.

- Depois da festa quis dar um "oi" mas você foi bastante direta em dizer que não queria que eu me aproximasse de você então fiquei distante, como sugeriu.

- Sei que ficou, até foi ao meu enterro com outra - Vejo a  cor sumir de seu rosto, ele se afasta - Tinha uma TV velha  no local onde eles nos forçavam a comer, vi o funeral e vi você com outra. Não seria educado você me dizer o nome dela? Quer dizer, eu não estou com ciúmes nem nada do tipo, só nos beijamos uma vez e algumas horas mais cedo você disse que estava a fim de mim, mas ironicamente fui morta antes de você encostar seus lábios na minha boca uma segunda vez, todos esses acontecimentos me levam a  indagar: Se você gostava de mim, por que foi com outra ao meu enterro ? - Otto me encara pálido, o silêncio no quarto é minaz ele abaixa a cabeça,encara nossos pés, parece estar sem argumentos o ouço engolir seco antes de me encarar uma segunda vez.

- Fazia quase um ano desde que nos falamos, você praticamente sumiu, eram raras as vezes que a via na central, não podia me aproximar de você porque você não queria isso, Lauren disse que você estava namorando alguém do seu colégio então achei que era cada um para seu lado, você não queria pelo menos tentar alguma coisa comigo, então achei alguém que quisesse.

- Ainda estão juntos ?

- Onde quer chegar senhorita ?

- A verdade talvez ? Onde você quer chegar com tudo isso? Não é errado o que está fazendo ? Entrando no quarto de outra se dizendo ter ficado louco quando soube de sua morte tendo alguém que se importa com você esperando uma ligação ou algum sinal de vida seu para saber como foi o seu dia ?

- Thalia não é do tipo de garota convencional. 

- Chegamos a um nome! Isso é progresso. Mas na TV ela pareceu bastante convencional, quando ia me contar sobre ela Senhor Brown ? 

- Ela não é núcleo da conversa senhorita. Você é. 

- No meu ponto de vista ela também faz parte desse núcleo. 

- Você precisa descansar, teve um dia longo. - Otto vai em direção a porta. 

- Esta fugindo da conversa ou está com medo de Thalia descobrir onde você esteve ? 

- Vá dormir senhorita  - Diz antes de sair e bater a porta. Quem ele pensa que é ? Se diz estar a fim de mim namora outra e a leva para o meu funeral, fica a ponto de me beijar  e depois vai embora sem mais nem menos ? Quando ele ia me dizer que ela existia ? Por que me dizer que estava a fim de mim enquanto estava com outra? Sinto minhas bochechas ficarem vermelhas de raiva, tiro uma das sapatilhas e vou até o corredor,  abro a porta e o vejo esperando elevador. 

 - CANALHA! - Grito e jogo a sapatilha em direção a cabeça dele que se abaixa e me olha chocado, o ignoro e entro no quarto, tranco a porta e me deito. Não sei por quanto tempo encaro o teto antes de dormir mas lembro de ter sonhado com tiros, muitos tiros e gritos. Sou acordada pelo barulho do telefone ao meu lado, pego-o do suporte e coloco sobre o ouvido. 

- Café da manhã senhorita.

- Também é servido as sete ?

- Não senhorita, está em uma bandeja do outro lado da porta. Tenha um bom dia. 

- Desejo-te o mesmo agente. Coloco o telefone em seu devido lugar e vou até a porta, uma bandeja com um copo de suco de laranja, torradas, uma maçã e uma xícara com café me esperam, ao seu lado, a sapatilha que atirei ontem nele, dentro tem um papelzinho amarelo. Pego a bandeja que tem um cartãozinho em branco. Chuto a sapatilha para dentro do quarto, coloco meu café sobre a mesa e leio o papel dentro da sapatilha. 

" Mesmo que seja interessante ver seus pés enrolados em gaze, não acho que seja correto andar por ai sem isso.            Desculpe se não soube me expressar de forma clara com você ontem, espero que possamos conversar mais tarde. 

P.s. Sugiro que treine sua pontaria, 


                                       Tenha um bom dia. " 


      Amasso o papel e o jogo no lixeiro do banheiro, vou até a bandeja na cama e pego o cartão em branco, é de tia Sara. 

"Espero que goste gatinha, vejo você as nove no vigésimo andar"  

   Coloco o cartão ao lado do telefone e tomo meu café, em seguida vou pro banho, pego a escova e começo a desembaraçar meu cabelo, estou quase terminando quando o telefone volta a tocar. 

 - Alô.

- Comandante Breslau à  espera no vigésimo andar. 

- Obrigada - Desligo e termino com meu cabelo, pego novas lingeries  e visto a mesma roupa de ontem por falta de opção, já que as que tem dentro da cômoda são grandes de mais ou pequenas de mais. Deixo meu cabelo solto, calço as sapatilhas e vou para o elevador. Quando chego ao sétimo andar sou barrada por um segurança segurando uma arma. 

- Andar restrito - Ele diz se colocando a minha frente.

- Fui solicitada. - Ele olha em direção a moça sentada atrás do balcão de mármore que pega o telefone, olho a minha volta e vejo vários outros seguranças armados.

- Estão esperando por ela. O homem alto sai da minha frente e aponta a porta que devo entrar, quando entro vejo uma enorme mesa redonda com várias cadeiras estofadas, todas as meninas que fugiram comigo já estão aqui, incluindo minha tia Sara, Otto, um homem com cabelos brancos, um homem negro e alto, um homem que parece asiático, uma mulher loira que aparenta ter a idade de minha tia, e uma morena de cabelos cacheados. 

-  Aqui querida, estávamos esperando por você - Tia Sara aponta para uma cadeira vazia ao seu lado, vejo Ashe sentada entre Miranda e a grande moça que ainda não sei o nome, mas ela parece bem melhor, os hematomas já estão sumindo e ela aparentar estar de bom humor, Ashe faz um biquinho para mim e eu aceno com a mão.  - Já que estão todos aqui, quero que vocês conheçam os agentes : Roberts - a moça loira olha em direção das meninas acena com a cabeça - Menson - A mulher de cabelos cacheados repete o gesto. - Alter - O homem negro acena com a mão e Ashe acena de volta  arrancando alguns sorrisos, menos das meninas pequenas que parecem estar assustadas de mais para fazer qualquer movimento - Marvin - O moço de cabelos brancos também acena  e Ashe devolve o aceno, ela parece a única com coragem o suficiente para interagir com eles - Agente Brown.. - Otto faz um pequeno aceno com a cabeça e olha para elas. -  E o agente Rian - O asiático repete o gesto de Otto. E eu sou a Comandante Breslau. 

 - Tia de Aurora - Diz Ana no meu lado esquerdo, ela está entre Érica e Vanilly, minha tia dá um sorriso doce e a encara.

 - Tia de Aurora - Ela concorda - Moças esses agentes estão aqui para fazer algumas perguntas, precisamos que cada uma de vocês colaborem - Tia Sara se levanta -  Sei que passaram  por uma situação difícil recentemente e estamos aqui para ajudar,  se quisermos pegar as pessoas que  capturaram vocês precisaremos da ajuda de cada uma, pode ser ? - Ninguém responde nada, apenas encaram minha tia. 

- Pode  - digo chamando atenção todos, não poderia deixá-la barrada, ela me lança um sorriso doce.

 - Então por que não começamos você senhorita Richards ? 

- Por mim tudo bem - Otto se levanta e coloca um gravador  próximo de onde estou sentada, ele não olha pra mim, apenas para o aparelho a sua frente, assim que ele o liga volta ao seu lugar e acena para minha tia. 

- Conte-nos como encontrou essas garotas.  

- Estava na casa de uma amiga quando... - O celular de minha tia começa a tocar, ela levanta a mão pedindo para que eu espere.

- Peça para que ela entre - Ela diz e desliga o telefone. - Desculpe por isso senhorita mas antes de começar quero que alguém confirme sua história - Minha tia para de falar e alguém bate na porta, o namorado dela, Antonie  entra e olha para alguém atrás dele, ele acena com a cabeça para que se aproxime, uma cabeleira ruiva passa por ele, ela está com os olhos arregalados, assustada,  olha para todos dentro da sala e assim que me vê coloca a mão sobre a boca, vejo as lágrimas escorrendo em seu rosto, levanto-me e corro em sua direção. 





sábado, 12 de setembro de 2015

Capítulo 21. Não Enlouqueça Desnecessariamente.



Aurora.

    Depois da cena desnecessária no refeitório uma campainha tocou alto, todas as meninas formaram uma fila e foram em direção as escadas. 

- Por que estão indo para as escadas ? Pergunta Ellie.

- Acho que tem gente de mais para dois elevadores - Pondero.

- O que vocês estão esperando ? - Pergunta Érica pegando na mão de Ana,  termino minha refeição e me levanto pronta para acompanhar as outras, sinto alguns dedos se envolverem na minha mão, olho para baixo e vejo Ashe me segurando . 

- Olha, eu não queria te apresentar a ele como sei lá... Como uma futura namorada, só queria que ele conhecesse você por que você é importante para mim.

- Eu sei, só fiquei com medo. 


- De que exatamente ? 

- Antes de você aparecer, Samanta disse que eles iam nos apresentar a homens e quando isso acontecesse teríamos que beija-los, eu não queria beijar ninguém, nem conhecer homens. 

- Eu não queria que você beijasse ele ou fizesse outra qualquer coisa, só queria que você soubesse que aquele é meu amigo e  quero que ele saiba que você exista. 

- Tudo bem. Ela diz encarando o chão.

- Sabe quem disse essas coisas a Samanta ? 

- Foi o Monstro. - Ela me encara, tento engolir nó que se forma em minha garganta, deveria suspeitar que tivesse sido ele. Seguro sua mão e vamos atrás da multidão, somos quase as últimas a subirem os degraus, olho para trás e não vejo ninguém no elevador, a minha frente um mar de pessoas sobe vários degraus com rapidez, olho para baixo, para a gaze enfaixada em meus pés, protegendo e aliviando, mas não vai impedir da dor se intensificar depois de subir quase dois andares de escada. Olho para Ashe, e em seguida para o elevado logo atrás, puxo seu braço e voltamos em direção oposta as escadas. 

- A gente tem que ir pelas escadas. 

- Por aqui é mais rápido. Você não quer andar de elevador ? 
- Quero - Ela sorri - É divertido.  

- Sim é divertido - Estamos a poucos metros da porta do elevador quando alguém grita lá atrás.

- O que estão fazendo ? - Me viro, Miranda está parada na porta.

- Vamos de elevador - Grita Ashe a minha frente.

- Está convidada para vir conosco - Respondo, aperto o botão e chamo lata. Miranda aparece no momento que as portas se abrem, aperto o quinto andar, o delas e começamos a subir, ela não olha para mim, Ashe está calada e encara o chão, é uma situação desconfortante.
  
- Parou de falar comigo por eu não me chamar Luz ou por que acha que sou uma mentirosa sem escrúpulos que só quer vender uma história ? - Ela não responde, continua olhando para frente. 

-  Nem uma das opções, apenas me reservei mais, eu confiei em você, fui sincera e verdadeira esse tempo todo e você ficou se escondendo como uma covarde. 

- Minha vida estava em risco Miranda, eu não podia sair contado pra todo mundo quem eu era.

- Eu não era todo mundo, provei que era sua amiga e você não confiou em mim.

- E o que você queria que eu fizesse ? Estava com medo, assim como você, assim como todas elas, mas você não quer enxergar isso, porque pra você eu sou apenas mais uma mentirosa. Eu só não queria ser descoberta.

- Descoberta  por quem ? Hã? Ninguém acreditaria que você era mesmo Aurora Richards, passou na TV que ela estava morta e você estava viva, ninguém ia acreditar. 

- Eu não tive opção, não entende ? 

- Eu entendo que você contou pra uma garotinha de sete anos e não contou pra mim. 

- Ela descobriu sozinha! Ela é mais inteligente que muitas que estavam lá, desde que abri os olhos ela sempre soubera quem eu era, mentir era inútil. - O elevador chega no quinto andar e ninguém se move.

- Achei que fôssemos amigas.

- E somos.

- Não Luz, Aurora ou seja lá qual for seu nome, a base de uma amizade é a confiança e você não confiou em mim.

- E estou tentando me desculpar por isso. 

- Não, você só está tentando solucionar mais um problema antes de  dormir.

- Por que não acredita em mim ? 

- Talvez pelo mesmo motivo de você não ter confiado em mim, o medo é um monstro sem pernas e sem rosto que nos torna escravos da própria imaginação, tenha uma boa noite senhorita, vamos Ashe.

- Miranda... - Insisto mas ela me dá as costas.

- Só me dá um tempo tá legal ? -Me encara -  Depois conversamos, agora vem Ashe.  

- Não... Eu quero ir dormir com Aurora hoje. 

- Não ouviu a tia dela mais cedo ? Você vem comigo hoje e amanhã vai com ela, agora vamos. 

- Mas eu quero ir agora - Ela passa os braços sobre minha cintura e me aperta - Me leva com você.

- Amanhã, eu prometo que amanhã eu levo. - Miranda a puxa mais uma vez e elas saem, Ashe continua olhando para mim enquanto Miranda a arrasta pelo braço, vou até o painel e aperto o número seis, as portas voltam a se fechar e continuo a subir. Assim que saio do elevador, vejo alguém sentado encostado na minha porta, Otto está com uma camiseta preta e sorri quando me vê. 

- Achei que as enfermeiras tivessem te colocado numa jaula mais segura. 

- Achou errado senhorita - Abaixo-me e sento ao seu lado. 
- Você não  deveria estar na enfermaria sr. Brown ? 

- E você não deveria estar se preparando para dormir ? As luzes se apagam as 22:00.

- Responda-me Brown, você levou um tiro, deveria estar se recuperando. 

- Deveria...   Mas não consegui ficar deitado lá. Elas me deram uma injeção e depois assinei uma ficha, estou liberado senhorita preocupação.

- Então por que não foi pro seu quarto ? 

- Disse que queria conversar com você. 

- Minha tia falou que todos nós iremos conversar amanhã, por que não espera até lá ? 

- A espera é uma jornada longa e dolorosa - Ele se vira e me encara - E eu já caminhei muito nessa estrada não acha ? - Encaro seu rosto, o maxilar fechado, o rosto abatido os olhos brilhantes. Ele levanta a mão e toca meu rosto - Mas se a senhorita me quer longe por essa noite, não tenho outra opção a não ser respeitar sua vontade - Otto se prepara para levantar e sinto um peso sobre meu coração, está ferido, cansado e com dor, mesmo assim veio até aqui por mim. 

- Espera - digo me levantando - Acho que dormi de mais por hoje, por que não conta como ganhou dois tiros no ombro ?

- Como sabe que foram dois ? 

- Li seu prontuário - Confesso e sinto minha bochechas começaram a corar, vejo um sorriso aparecendo em seu rosto. 

- Sabia que você não iria resistir ao meu charme, por que não abre porta para que possamos nos sentar em algo macio? 

- Se encostar em mim vai amanhecer morto  - Coloco as chaves na fechadura e giro a maçaneta, ele passa na minha frente.

- Aposto que não. - Congelo no mesmo lugar, então essas são as verdadeiras intenções dele ? Eu deveria saber... - Senhorita - Otto chama minha atenção, está sentado na minha cama - Não vai entrar ? - Puxo a porta com força e vou na direção da cadeira que minha tia sentou hoje mais cedo. 

- Achei que quisesse sentar ao meu lado - Ele dá um sorriso imoral.

- Achou errado - Digo e me sento - Sobre o que queria tanto conversar que não pode esperar até amanhã ?  

- Primeiro, queria saber como você está, segundo, onde esteve esse tempo todo e terceiro, o que aconteceu com os seus pés ?

- Quantas perguntas Brown. 

- Respostas senhorita, agora. Respiro fundo e o encaro. 

- Primeiro,  estou me sentido segura, estados físicos e emocionais estão temporariamente anestesiados. Segundo tudo começou quando fui até a casa de Margo Banson e meu celular ficou descarregado - Conto toda  minha versão para Otto que escuta atento, falo sobre Érica, e sobre Miranda,  como Ashe descobriu quem eu realmente era, o motivo de ter passado lama sobre o rosto para evitar ser reconhecida, o que aconteceu com o cabelo de Ana, a corrida no mato e como me sentia a cada vez que Monstro entrava naquele cômodo, chego na parte do vídeo e como minha tia me encontrou - E agora, depois de um banho estou aqui. - Ele me encara, continua com as sobrancelhas franzidas e com os braços cruzados, fico calada e espero ele quebrar o silêncio. 

- Ele chegou a tocar em você? 

- Quando cheguei ele puxou meu meu cabelo e beijou meu pescoço - Paro, ele me chamou de realeza e disse que se não gostasse mais de dinheiro iria ficar comigo, não posso dizer isso para Otto, ele tentou matar pessoas suspeitas de terem me assassinado  á algumas horas, não quero que ele se suje por mim. 

- E o que mais senhorita ? 

- Só isso. 

- Tem certeza ? 

- Eu não deveria estar te contando nada, e sim  para o responsável pelo caso, são informações confidenciais agente. - Ele se levanta e vem até onde estou sentada, olha nos meus olhos e serra o maxilar, foi embora qualquer vestígio de amistosidade.

- Eu sou o responsável pelo caso, então pode se abrir comigo,  preciso de todos os detalhes para poder ajudá-la, não somente você mas as doze garotas que vieram junto. Então seja uma boa menina e responda a pergunta, ele tocou em você ou não ?  

- Não, mas insinuou que se não gostasse mais de dinheiro iria ficar comigo, se é que me entende. - Ele balança  a cabeça como se estivesse concordando com o que acabei de dizer, Otto estende a mão para mim, e eu a seguro, ele me puxa e me abraça, permito que ele passe as mãos sobre minha cintura e me aperte, ele beija minha cabeça e eu o abraço na mesma intensidade. Seu coração está batendo forte, como se houvesse um pássaro preso em sua caixa torácica desesperado por liberdade. 

 - Quando encontraram Margo Banson num barranco,  próximo ao lixão da cidade fiz meu pai revistar cada monte daquele lugar pra conseguir encontrar algum vestígio seu, alguma coisa que me levasse a você, mas quando cheguei em casa aquele dia e me disseram que seu tio havia encontrado seu corpo num saco de lixo atrás de um restaurante do centro eu quase enlouqueci senhorita. 

- Como pode dizer estar a beira da loucura por mim se me viu apenas uma vez Otto ?  - Ele se afasta e me encara, depois sorri docemente. 

- Não.

- Não o que ? 

- Não é educado passar na cara das pessoas o que elas podem ou não se enlouquecer. 

- Mas eu não disse isso, apenas fiz uma pergunta, você me viu uma vez na festa da sua irmã e... 

- E... ? 

- Você sabe o que disse na enfermaria. - Disse corando.

- Aquela não foi a primeira vez que vi você, a primeira vez - Ele puxa minha cabeça para cima, para  seu rosto, ele olha nos meus olhos. - A primeira vez que a vi, você estava usando o uniforme da escola e estava sentada na sala de espera na central do GOECTI  em Lori a dois anos atrás. 

Capítulo 20. Luzes, Câmera e Lauren.

       
     
    Fiz exatamente o que ela mandou, cancelamos os convites e de repente, toda  a imprensa de Lori estava no meu jardim. Coloquei o vestido escolhido e o colar de diamantes que papai me deu no dia da morte dela. Vanessa e Hannah também  vestiram preto, mamãe disse que elas poderiam aparecer atrás de mim, como as damas de companhia deu uma princesa. 

   Mamãe foi a minha frente, Vanessa foi atrás de mim, e Hannah veio por último, a cada degrau que subia para chegar no palco, as luzes tornavam-se mais fortes, era quase insuportável enxergar, mas logo  meus olhos se adaptaram e fui para trás da estrutura de madeira que apoiava vários microfones juntos, como já fiz várias vezes, olhei para frente com cara de abatida, mamãe se posicionou ao meu lado e segurou minha mão, dando-me apoio pelo que iria fazer. 

- O dia de hoje foi bastante agitado, desde que cheguei do colégio, o telefone não parou de tocar, meus perfis sociais tinham mais notificações que os do cantor de Baby, está sendo especulado que aquela menina que apareceu em Forteman é Aurora, mas digo a vocês o mesmo que estou dizendo a todos da internet: Desde que Aurora morreu, algumas pessoas más e sem coração vem se vestido como ela, usando perucas e nos passando trotes, tentando nos tirar dinheiro, Sara Breslau também é uma vítima de tudo isso, estão brincando com nossos sentimentos e nosso luto, nos atormentando e achando que tudo isso é brincadeira, estamos feridos e tristes e não estão nos respeitando, fazem essas brincadeiras com objetivos obscuros e não entendem que estamos sofrendo - Lembro do dia que uma ruiva falsa comprou a bolsa que estava reservada para mim na Gorgs e as lágrimas começam a surgir, não consigo mais pronunciar nada e encaro minha mãe que me abraça e toma meu posto, vou para perto de Hannah e Vanessa e elas me abraçam. 

- Desculpem a reação de minha filha - Mamãe está com a voz embargada - Mas como ela acabou de declarar, estão brincado com nosso luto, e mais grave, com a própria Aurora, que não está tendo paz no mundo dos mortos. Mas já que estamos aqui, porque não pensamos de forma racional, se aquela garota fosse mesmo Aurora, por que ela não veio atrás da família ?  Por que ela não ligou ou veio para casa ? Uma única resposta supre todas essas perguntas : Aquela não era minha amada sobrinha  Aurora. 

- Ela estava usando as roupas do colégio que Aurora usou e  chamava por Sara Breslau, também há boatos que era maltratada pela família com a qual vivia, seria lógico que ela fosse atrás da tia. Uma jornalista sem microfone fala em voz alta, mamãe a encara como se quisesse lhe arrancar a cabeça.  

- Aquela mulher não é tia de Aurora, e nós nunca encostamos um dedo em nela, desde que vocês divulgaram o nome da escola que minha sobrinha estudava e claro que ficou fácil de adquirir o uniforme, qualquer um poderia fazer isso. É tudo que temos a dizer. - Mamãe se dirige para as escadas do palco e eu a sigo com Vanessa e Hannah em meu encalço, ouvimos os jornalistas gritarem meu nome  e mamãe manda nos apressarmos, subimos as escadas da porta da frente com rapidez e mamãe tranca a porta. 

- Liguem para alguém vir  buscá-las, está tarde e Lauren tem que dormir. Vanessa liga pro motorista dela e dá carona a Hannah, nos despedimos e subo as escadas para o meu quarto.

   São quase onze horas da noite e não consigo dormir, ouço o barulhos dos pneus cantando em frente a casa  e em seguida uma batida na porta, não vejo papai furioso desse jeito desde que Aurora se recusou a assinar a procuração dos vinte e um. Ele grita o nome de minha mãe do primeiro andar e ela sai correndo do quarto, ele parece um troglodita.

- Mas o que diabos aconteceu Roberth ? 

- Me explique você, ela deveria estar morta! 

- Pro escritório - A ouço gritar e o silêncio retorna, pego minhas pantufas e fecho a porta do quarto, desço as escadas com pressa e vou para o lado esquerdo, passo pelo salão de jogos e chego no escritório, encosto o ouvido na porta e ouço um conversa exaltada, será que mamãe sabe que gritar faz mal pra pele ? 

- Não podíamos realizar um leilão quando as melhores convidadas iriam faltar. Como ficaríamos vistas diante toda a sociedade de Lori ? 

- Você tem noção do dinheiro que perdemos por causa desse vídeo ? Faz ideia Brianna ? 

- Imprevistos acontecem Roberth, quer culpar alguém, culpe a si próprio, você deveria ter assegurado de que ela estava morta! 

- Eu paguei para matarem-na, não poderia ficar para observar tudo! Você sabe que se a bomba explodisse algum dia, eu seria o acusado! 

- Garantisse que ela nunca explodisse, você apareceu com um corpo, disse que era ela! Se tivesse conferido todo o trabalho não teríamos problemas agora! 

- Eles me deram um corpo, me certificaram que era ela, como iria adivinhar que iriam se confundir na hora de executar o plano ? 

- Se essa realmente for ela, ai sim teremos problemas. - Mamãe declara por fim. Meu estômago vai até a boca, minhas pernas começam a tremer, isso deve estar errado, meus pais não são assassinos, eles a odiavam é verdade mas nunca teriam coragem de matá-la, nós não somos bandidos, não somos bandidos...  Minhas pernas vacilam e caio sentada próximo a porta, não sei por quanto tempo fiquei ali, mas alguém  abriu  a porta e minha mãe gritou meu nome. 

   Tentei engolir o nó na minha garganta e encará-los, lágrimas começaram a transbordar, meu pai  tentou me levantar mas me distanciei do toque dele. 

- Não me toque! Me digam que ouvi errado, que vocês não fizeram isso. 

- Não criei você para ouvir atrás da porta! -Mamãe me repreende. 

- Me responde! Vocês mandaram  mesmo alguém fazer isso com ela ? 

- Não finja um falso remorso mocinha, a odiava tanto ou mais do que  nós. - Diz meu pai.

- Mas nunca tive a coragem de pensar em matá-la, ela iria pra faculdade no ano que vem e iríamos nos livrar dela, não precisava se sujar dessa forma. 

- Uma pirralha de dezoito anos com uma conta mais gorda  que a minha que trabalhei duro toda a minha vida, por que tanto dinheiro nas mãos dela ? Lauren a vida é mais do que apenas atenção. 

- Então o que ela é pai, dinheiro ? Nós temos dinheiro, por que pegar o dela ? Ela pagava o aluguel, isso não era necessário . 

- Mixaria Lauren, é isso que você tem na conta, você teria que morrer trabalhando e nunca chegaria a metade do que Benjamin deixou para ela.

 - Ele trabalhou pra isso, por que vocês não fazem o mesmo? 

- Por que eu não quero me matar de trabalhar e não conseguir desfrutar o que tenho, ela está fora agora, e todos lucramos com isso, você mais do que nós, o que é uma vida em troca de alguns milhões Lauren ? 

- Você me dá nojo, e você mãe, ela era sua sobrinha, filha do seu irmão e você mandou matá-la!

- Ela nunca será filha de Benjamin, não acha que tudo é injusto com todos nós Lauren ? Ela tendo tudo que sempre quis e só precisou nascer para isso, enquanto a minha filha só teve migalhas, toda mãe quer o melhor pra sua filha, só fiz o que era melhor para minha família. 

- Isso não está saindo da sua boca, você não é uma assassina.

- Não, não sou, outras  pessoas são. Você mais do que nós ficou feliz com o que aconteceu, por que as lágrimas agora ? 
- É só que nunca achei que fosse necessário fazer rapel pra chegar no fundo do poço pra encontrar com vocês. - Dou as costas e subo correndo as escadas, ouço minha mãe gritando meu nome mas ignoro, entro no meu quarto e tranco porta. Preciso acreditar que tudo isso tudo é apenas sonho, deito-me na cama e meu celular vibra, Hannah me manda um torpedo mas ignoro. Eu a odiava é fato, mas nunca quis que ela morresse, ser torturada sim, morrer não. Quem são esses que por anos chamei de pais ? Perco a noção do tempo, não sei quantos minutos já se passaram desde a hora que me tranquei, a casa está em silêncio  e encaro minhas unhas pintadas de rosa, não posso permitir que eles me arrastem juntos pra rua da pobreza e da amargura, corro até meu notebook, olho os meus arquivos, as fotos das roupas dela ainda estão aqui, entro no site de leilão, começo pelo casaco preto que ela usou no inverno, primeiro lance, duzentas mil moedas....  Bem essa vai ser uma longa noite. 

    São quase cinco horas da manhã, consegui vender vinte e duas peças, arrecadei dinheiro o suficiente para me manter até conseguir encontrar um marido rico ou me dar bem no mundo fashion. Fiz Hannah me dar sua conta para que depositasse o dinheiro, terei que ir ao banco criar uma nova sem que meus pais tenham conhecimento, não poderei colocar tudo isso na minha conta sem levantar suspeitas e não posso deixar que a polícia confisque todo meu dinheiro. 

    O despertador começa a fazer barulho, desligo o notebook e vou para  o chuveiro, tomo uma ducha e visto o uniforme, faço um rabo de cavalo e calço meus scarpins pretos coloco uma maquiagem leve para disfarçar as olheiras de uma noite mal dormida. Dou uma checada no espelho e tenho nojo do que vejo, presidiárias usam rabos de cavalo, desmancho o penteado e deixo o cabelo solto, me recuso a me olhar no espelho mais uma vez  pego minha mochila e desço para tomar café. 

   Levo um choque quando entro na sala de jantar, vejo minha mãe colocando o café na xícara do meu pai.

- Estamos tão pobres que nem dinheiro para empregadas nós temos ? - Digo indo em direção a meu acento. 

- Joana se demitiu, Susi está se recuperando do parto e Natalie está de férias, hoje ligarei para uma agência não se preocupe - Diz minha mãe, pego uma torrada e me sirvo com um copo de suco, meu pai pigarreia tentando chamar a atenção e continuo olhando para meu prato.

- Querida, já tem dezoito anos, é grande o bastante para entender algumas coisas - Ele começa. 

 - Claro, eu entendo perfeitamente que meus pais são assassinos vamos todos para a cadeia e eu nunca serei modelo, além de passar vergonha na frente de todo o país. 

 - Ninguém nesta casa e assassino Lauren. 

- Mandar matar alguém não se chama assassinato mãe ? 

- Escute seu pai e fique quieta. 

- Nós não mandamos matar Aurora. 

- E claro que mandaram! Eu ouvi vocês ontem! 

- Lauren nós não somos os únicos metidos nessa história, os pais dela desbancaram um esquema milionário, pessoas perigosas estavam atrás de nós e dela, eles me procuraram no escritória, nos deixariam em paz e ficaríamos com o dinheiro dela se a entregássemos, foi o que fiz. 

- Está tentando dizer que tudo isso é...

- Vingança - Minha mãe me corta. - Se nós não a entregássemos eles iriam pegá-la de uma forma ou outra, pedi para que seu pai se certificasse de que eles iriam matá-la, porque se ela sobrevivesse  todos nós estaríamos comprometidos. 

- Mas não foram vocês que mataram, foram eles.

- Exato, mas conversei com um advogado, somos inocentes de qualquer participação que venham a nos envolver. Ele diz encarando sua xícara de café.

- Que século vocês vivem ? Vão considerar vocês como cúmplices e a última coisa que eu quero na minha vida e ser associada a dois bandidos de segunda, estou me lixando para o que aconteceu com ela, afinal ela  roubou tudo que deveria ser meu, mas eu me importo com vocês, eu não quero ser filha de presidiários, não vai pegar bem pra mim, não conseguem entender?! 

- Ninguém aqui vai pra cadeia Lauren, eu sei o que direi ao juiz e é isso que você deve saber, vieram até meu escritório, perguntaram onde poderiam encontrar a maldita garota e eu disse, somos tão vítimas nessa história quanto ela então é melhor você parar de pensar em cadeia e em presídios, ninguém nesta casa vai ser preso, fui claro ? -  Depois dessa explosão dele decido ficar quieta, continuarei com meu plano, tomo meu café e dispenso a carona dela, pego um táxi e vou pro colégio, tenho um encontro  no banco na saída, eu não vou fazer parte de uma família de bandidos, nunca. 













sábado, 5 de setembro de 2015

Capítulo 19. Níveis de Tormenta.

    
 Não, não, não, não! Por que agora ? Por que hoje ? Por que essa maldita não  está apodrecendo embaixo da terra ? Olho pela janela, o palco, a decoração, os jornalistas... Por que ela achou de arruinar o meu momento ? Sinto as lágrimas queimando em meu rosto, jogo meu celular na parede e grito. 

- Amiga calma! Pode ser apenas mais uma coitada faminta querendo aparecer. 

- Como você pode me pedir pra ficar calma Hannah?! Era ela! O cabelo, o uniforme  a droga da voz! Quem mais saberia o número da Sara ? Quem mais chamaria a droga da polícia em um diabo de mercearia de beira de estrada ?!  Aquela vaca deveria estar morta e não fazendo vídeos ! 

- Lauren para! Não vai adiantar nada você ficar nesse estado. 

- Será que sua mãe já viu isso ? - Hannah tem razão, pego meu celular e corro para o primeiro andar, vou em direção a cozinha e a ouço gritando.

- Sua velha imprestável isso era porcelana japonesa - Entro na cozinha, vejo Joana pegando alguns cacos do chão, a TV está ligada e minha mãe exaltada - Eu deveria demiti-la, sua inútil! - Joana se ergue, e tira o avental, ela o amaça e joga sobre o rosto de minha mãe.

- Estou farta de você e do monstro que você criou e chama de filha, quer sua porcelana japonesa ? Então apanhe você mesma - Ela chuta os cacos em direção a minha mãe e sai pela porta dos fundos em direção ao jardim. 

- Meu advogado irá atrás de você.

- Perfeito! - Ela grita do lado de fora - Estou louca para mostrar uma gravação onde você aparece torturando uma pobre adolescente de dezessete anos.  - Vejo a cor do rosto da minha desaparecer, e vejo o momento que um câmera segue Joana.

- Lauren feche a porta, agora! - Ela grita e  voo até a porta que aquela ingrata deixou aberta, e tranco. Mamãe está calada, e não se move, os únicos sons no recinto são os da TV.

 Depois do que parece uma eternidade, decido quebrar o silêncio. 

- Você também viu o jornal ?  - Mamãe se abaixa e pega os cacos do que um dia foram belos pratos de porcelana. Ela os joga dentro do lixeiro e depois me encara. 

- Não era ela. - Diz finalmente. 

- Como não ? O uniforme, o cabelo, a voz, o modo com ela chamava Sara, quem mais poderia saber o número e o       e-mail da Sara ?

- Não era ela Lauren. É isso que você e eu diremos hoje, um vídeo de segunda com qualidade duvidosa não irá tirar de você o que demos tão duro para conquistar, desminta o boato através de redes sociais  e aja como se não tivesse acontecido nada.

- Mas como vou fingir que não aconteceu nada quando... 

- NÃO ACONTECEU NADA, FUI CLARA ? - Ela grita me interrompendo, seguro minhas lágrimas, assinto com a cabeça e corro para as escadas em direção ao meu quarto,  quando entro vejo Hannah e Vanessa  assistindo ao maldito vídeo.  Elas desligam o celular quando me veem. 

- Ouvimos gritos - Diz Vanessa - Está tudo bem ? 

- Não! Nada está bem! Está tudo um caos e aquela vaca é a culpada, preciso que me ajudem a desmentir tudo isso - Passamos quase quinze minutos respondendo pessoas intrometidas e deixando claro que a garota suja da internet não é ela. 

    Deixo-as acalmando o povo pela internet e me sento na poltrona rosa que ganhei de aniversário, toda essa situação parece com meu aniversário de oito anos. Ela tinha seis anos e acabara de se mudar para cá. 

 " Era um dia ensolarado, tinha que ser, papai iria demitir o sol se não fosse, ele me disse isso na noite da festa, convidei todas as meninas da minha sala e algumas meninas filhas de amigos de trabalho do meu pai também vieram. 

   Desde que ela veio morar com a gente, sempre tivera atenção, quando saíamos na rua ou no shopping, homens com câmeras nos seguiam e mamãe colocava lindos óculos de sol para proteger os olhos dela,  eu não gostava dela ter que ser escondida e eu ter que ficar exposta, então mamãe também me escondia, mas mamãe dizia que estava farta de ser bombardeada por fotógrafos e gente querendo autógrafos.

    "É ridículo Roberth! Ela só tem seis anos, mal sabe escrever o nome e está dando autógrafos na rua "  "Deixe-a em casa querida, já que não quer tantos problemas quando sair".  Nós estávamos na sala da TV,  eu estava deitada no sofá com Pandora, mamãe andava de um lado para o outro e estava gritando, papai estava  na poltrona preta enquanto lia alguma coisa no jornal, Aurora estava dormindo. "É pelo bem da nossa filha, como Lauren terá uma infância saudável no meio de tudo isso ?" Papai dobrou o jornal e foi até ela, ele passou os braços sobre sua cintura " Deixe a em casa, e fim de história". Desde aquele dia, mamãe passou a deixá-la em casa sempre que saíamos ou íamos a algum lugar, ela só deveria ir pra escola e de vez em quando a festas de aniversario para que não desconfiassem. Mas Sara sempre a levava pra passear, e quando isso acontecia, elas passavam na TV, era tão injusto, eu não passava na TV quando ia passear e ela sim, queria que ela nunca tivesse existido. 

   Mas naquele dia, ela não seria a favorita, eu seria, a festa era minha e eles iriam vir por mim, minha mãe me arrumou e me deixou linda com um vestido cor de rosa e uma fita rosa sobre meu cabelo solto, Joana  arrumou Aurora, era trabalho dela vestir a anã  porque eu não iria compartilhar a minha mãe com aquela invejosa. 

- Mamãe, não quero que ela apareça ou não vão me dar atenção, não pode trancá-la no quarto ?

- Não dessa vez querida, ela tem que aparecer ou vão nos denunciar para o conselho tutelar. 

- Mas não quero que ela apareça. 

- Irei deixá-la sentadinha na sala de TV e você poderá brincar com suas amiguinhas por toda a casa, o que acha ? 

- Tudo bem - Dito e feito, mamãe fez com que ela ficasse vendo TV enquanto eu brincava com as minhas convidadas por toda a casa. Estávamos no salão de festas, ele foi decorado com várias bolas cores candy, um lindo bolo rosa candy e muitos cupcakes no mesmo padrão, a decoração tinha algumas flores e alguns tecidos rosa, azul e verde pendiam no teto. 

- É verdade que a Heloise é sua tia ? - Alícia me perguntou, uma loira de cabelos escorridos que tinha um laço grudado no cabelo. 

- É claro que ela é - Disse Vanessa, seu cabelo era cortado em chanel e ela usava um vestido verde. As meninas a minha volta arregalaram os olhos e começaram a fazer perguntas, que Hannah e Vannessa respondiam, ficamos amigas naquele dia. 

-  E verdade que você tem super poderes igual a ela ?

- Verdade que você tem um unicórnio? 

- Você também tem medo ? 

- Você consegue ver no escuro ? - Eu adorava aquilo, elas faziam o que eu queria e me tratavam como uma princesa, mas Emília Lancaster estragou tudo com suas perguntas idiotas. 

- E verdade que a filha da Heloise mora com você ? 

- Não é da sua conta. 

- E claro que é, você disse que tinha um unicórnio, que conseguia enxergar no escuro e que não tinha medo de nada, como vamos acreditar se você é mesmo da família da Heloise quando nem a Aurora apareceu na sua festa ?  -Aquilo me encheu de fúria não deixaria que elas duvidassem de mim então pedi para que elas me seguissem e fomos para a sala de TV.

- Ela fica trancada aqui dentro porque é doida - Disse enquanto abria a porta, Emília me empurrou e entrou na sala seguida por todas as meninas, elas pararam de frente ao sofá grande, Aurora estava vestindo um vestido azul celeste meu que mamãe deu a ela, e usava uma fita de mesma cor na cabeça, o cabelo  negro estava solto e ela parecia uma boneca pequenina naquele sofá enorme, ela estava com os olhos arregalados, era de se esperar, nunca viu tantas garotas reunidas em toda sua vidinha medíocre. 

  Aurora pulou do sofá e as pequenas sapatilhas brancas que usava a deixava fofa de mais, o vestido pendia até abaixo dos joelhos e era sem mangas, ela ficou de pé e segurou as pontas da roupa. 

 - É um prazer conhecer - Disse sustentando um sorriso.

- Lauren é mesmo a filha da Heloise! - Disse Caitlyn. - Você não é uma mentirosa! 

- É claro que eu não sou! Eu sou Lauren Barniel e nunca digo mentiras - Cruzei os braços e dei um sorriso, Aurora começou a aplaudir e elas a seguiram, mas os aplausos deram lugar a perguntas direcionadas a ela. 

- Quantos anos você tem ?  

- Seis.

- Você conheceu a sua mãe ? 

- Sim.

-Você sente falta dela ?

- Muita.

- Por que você é tão pequena ?

-Eu não sei.

-Você sabe que dia é hoje ?

- Aniversário da Lauren. 

- E você gosta dela ?

- Sim. - Enquanto Aurora as respondia percebi que no sofá tinha uma bandeja com os cupcakes da minha festa, me aproximei de onde eles estavam e vi que em cada um tinha uma mordida, ela estava comendo dos meus doces e ninguém me avisou, e agora está roubando as minhas convidadas! Peguei os cupcakes e os joguei no chão sem que percebessem, e em seguida  a senti me abraçando.

- Feliz aniversário priminha - Quis empurrá-la e dizer para que ela não me tocasse, queria ela longe de mim porque ela estava sujando meu vestido lindo com aqueles dedinhos nojentos e sujos de doce, mas meu nome começou a ser gritado por todas e elas começaram a cantar parabéns, então passei os braços sobre o pescoço dela e beijei sua cabeça, logo todas começaram a me abraçar. 

- Estou sem ar - Gritei  e elas se afastaram - Ótimo, agora, volta a ver TV e não sai daqui, fui clara ?

- Não posso ficar com você Lauren ? 

-Não, aqui é uma festa para meninas a partir de sete, você tem sete Aurora ? -  

- Não - Disse fazendo biquinho.

- Fica  sentada no sofá do jeito que você tava e não sai dai. 

- Mas eu queria ir. 

- Mas você não vai, tem que ver TV pra poder ficar grande. - Ela voltou a subir no sofá e encarou os dedos sujos que estavam em cima do vestido, ela acha que fazendo cara de triste vai conseguir alguma coisa, criança iludida. Voltei-me par o restante das meninas - Vocês já a viram e eu provei que sou sobrinha da Heloise, agora vamos voltar para o salão - Elas não se moveram Emília tomou a frente e sentou-se ao lado de Aurora. 

- Eu não vou voltar pro salão, eu quero ver TV com a Aurora. 

- Eu também - Disse Alícia, logo todas estava sentadas para ver TV.

- Por que vocês querem ficar com ela ? Ela não sabe brincar e é burra. 

- Pode até ser - Disse Emília com o braço sobre o pescoço de Aurora - Mas ela é famosa, e passa na TV, você é famosa Lauren ? 

- Não.

- Então nós não vamos brincar com você.  - Um "É" em coro surgiu, todas elas me trocaram por essa pirralha idiota, fui em direção  a porta, e ouvi Emília fazendo perguntas. 

-  Verdade que você só tem seis anos ? 

- Sim, mas Joana disse que vou fazer aniversário logo, e que que também poderei ter uma festa, vocês querem vir a minha festa ? - E um "sim" foi gritado e uníssono, corri até a cozinha atrás da minha mãe, e assim que a vi a empurrei.

- Querida o que houve ? Por que está chorando ? 

- A culpa é toda sua! Você não a trancou no quarto e agora ela está roubando todas as minhas amigas! - Corri em direção ao meu quarto e minha mãe veio atrás, expliquei em meio a soluços o que acontecera, ela me vestiu em uma fantasia de princesa e depois descemos novamente, ela levou Aurora nos braços e disse para as meninas que ela tinha que dormir, desde aquele dia, Aurora fora proibida de sair do quarto quando eu fizesse um aniversário ou quando meus amigos estivessem na casa. 

- Lauren!  -  Hannah me trás de volta ao agora, e agora ela está estragando tudo, de novo. 

 - O que foi ?

- Sua mãe está te chamando a horas - Diz Vanessa, levanto-me e saio do quarto, a encontro no fim do corredor.

- Por que ficou gritando ao invés de vir até o meu quarto?

- Venha - Disse entrando em seu quarto, a segui e ela trancou a porta assim que passei por ela.

- Jocelyn Brown e a mulher do presidente cancelaram o convite. 

- O QUE ? Mas que vacas! 

- Amanda Jonnes também. 

- Mas que droga mãe! Quantos níveis de tormenta ainda vou ter que aguentar hoje ? 

- Cancele todos os convites. 

- O que ? Você ta doida ? 

- Três das nossas maiores convidadas cancelaram o convite em cima da hora devido a um vídeo, cancele o evento e use o melhor vestido que tiver, entraremos no ar as 15:00. 

- Não estou entendendo, pode me dizer o que está acontecendo ? 

- Nosso jardim está infestado de jornalistas, só deveria ter apenas uma revista adolescente mas os jornais de toda a Lori estão lá fora, vamos fazer alguns litros de limonada com esses limões. Você vai estar linda e maravilhosa naquele palco, vai dizer a todos que aquela não é nem nunca será Aurora, porque uma vez viva, ela viria para casa para a segurança do lar e não faria vídeos em mercearias de quinta. 


Leia o Primeiro Capítulo.

Capítulo 1. Uma Face Conhecida.

        Há alguns anos o país de Lori conheceu a história de uma amizade verdadeira. Graças a coragem de uma garota de dezesseis anos, outr...