quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Capítulo 57 - Coração do Mar.





- Por que me trouxe para a praia ?

- Se eu dissesse não seria surpresa querida.

- Acho que Jocelyn esqueceu de colocar uma blusa ai dentro.

- Não faz mal não vai precisar de blusas. - Diz sorrindo encarando a mala em cima da cama. 

- Eu não quero vestir isso Otto. - Ele encara o maiô, o pega e passa o dedo dentro da fenda.

- Eu não deixaria você sair daqui com isso - Ele  joga a peça atrás de nós, em algum lugar na varanda  - Mas deixo você sair com esse - Diz erguendo a calcinha do biquíni e sorrindo. - Entretanto, vai ficar maravilhosa com qualquer um que escolher. - Tento segurar o nó em minha garganta, não posso ter a cara de pau de pedir uma das camisetas dele, eles devem ter gasto uma fortuna com isso - Ta tudo bem ?

- Não posso usar isso Otto.

 - Não precisa ter vergonha querida, lá embaixo está cheio de gente usando biquíni.

- Não posso usar biquíni Otto - Limpo a lágrima escorrendo, ela estava certa quando disse que eu lembraria daquela noite por toda minha vida, percebo isso agora.

- E por que não ?

- Porque eu sou uma aberração Otto.

- Você não é uma aberração, você é linda, consegue entender isso ?

- Não.

- Deveria, deveria parar de se subestimar e começar a se olhar no espelho como a jovem maravilhosa que é.

- Eu não sou.

- Você é, é isso que vejo.

- Você precisa de óculos.

- E você de auto estima.  - Não respondo apenas me encolho, mordo o lábio e inspiro fundo, não vou chorar - Olhe para mim - Ele segura meu queixo, fazendo-me olhar em seus olhos -  Você é linda.

- E por que eu não acho ? 

- O que poderia ter errado com você ? Aurora, pode parar de fazer birra se não gostou do biquene eu vou entender.

- Não é birra Otto.

- E então o que é ?

- Vergonha.

- De todas as coisas que você já me disse - Diz se afastando -  Essa foi a mais estupida - O celular volta a tocar, ele olha a telinha e em seguida vai até porta, e sai, me deixando sozinha no quarto, passo por cima das roupas no chão e encontro o pedaço de pano preto jogado no canto da varanda, deixo meus olhos correrem para a visão diante de mim, mesmo sem estar aqui, ser ter visto-na, ela estragou meu aniversário, pela décima oitava vez.

       Limpo o rosto e recolho as roupas, pego minha mochila e tento encontrar meu celular, vou até a varanda e retiro uma foto, depois o guardo e percebo que Ashe colocou os livros de amanhã no horário de hoje, e vejo uma mensagem de feliz aniversário de Tia Sara.


  Encaro meus joelhos cobertos pelas meias, sento-me na cama e abaixo a meia do joelho esquerdo e encaro as marcas das queimaduras. Parece que minha pele foi comida por baratas enormes, volto a envolvê-lo pela meia e não me movo.



 Meia hora depois a porta volta a ser aberta.


- Desculpe a demora estava resolvendo alguns detalhes.


- Você disse que eu estava de birra por que não quis o biquíni.

- Não queria magoá-la, e só que você não tem ideia do quão perfeito quero seja o dia que perder tempo por algo tão efêmero me deixa....  Faz tem noção de como é bonita ?

- Otto estou com medo.

- De quê ? De eu achar você gorda ? Feia ?  Acha mesmo que sou fútil a esse ponto ?

- Não, eu só... Só... Estou com vergonha do que está na minha pele.

- Não tem nada na sua pele.

- Você nunca viu nada.

- Tem alguma coisa para ver ?

- Talvez.

- E por isso que está relutante ?  Acha que vou ter nojo de você caso veja alguma marca no seu corpo ?

- Não é só  uma marca, são vinte quatro.

- Como ? 

- Lembra do dia na sua sala, quando disse que minha tia me machucava ?

- Ela marcou você ?

- Algumas vezes.

- Isso não importa.

- Importa sim, Importa pra mim, diga-me, quando foi a primeira vez que me viu de shorts ou vestidos acima dos joelhos ?

- Você está de saias agora.

- E de meias. Quando me viu sem meias depois da festa de Jocelyn ?

- Ela machucou suas pernas ? - Levo minha mão até meu joelho, e desço a meia, faço o mesmo com o o joelho direito, ele encara meus machucados chocado, com pena, ele se agacha a minha frente vejo-o esticar sua mão em direção ao meu joelho mas para no meio do caminho e a coloca na própria perna. 

 - Como ela fez isso ?

-Não quero a sua pena.

- Como ela fez isso ?

- Brasas da lareira.

- Dói ?

- Parou com o tempo. Mas tem mais. - Ergo-me, desbotoo um a um dos botões do uniforme e o deixo cair em meus pés enquanto tento respirar sem me afogar em lágrimas, e viro-me de costas para ele - E por isso que não quero sair Otto, as pessoas vão ter nojo de mim. Ou pena, pode me chamar do que quiser eu sei, sou orgulhosa de mais pra precisa pena de alguém mas...  - Calo-me sem saber o que dizer, não ouço a voz dele, o quarto fica silencioso e evito o pensamento dele indo embora. Viro-me a  encará-lo, percebo seus olhos levemente arregalados, envergonhada de mais para me abaixar e pegar meu uniforme abaixo a cabeça e encaro meus pés, foi idiotice fazer esse showzinho idiota, ouço o zíper da mala sendo aberto e em seguida sendo fechado, sinto seus dedos em minha cintura, sinto seus lábios em meu ombro, e em minha clavícula, sinto-o beijando minha omoplata, em cima da cicatriz que o chocote dela me deixou e quase perco o ar.

  Ele faz o mesmo movimento leve e doce em cada uma delas, e eu sei onde estão, passei horas no espelho decorando a localização de cada uma. Ele sobe com os beijos até meu pescoço e me vira, olho dentro daqueles lindos olhos castanhos e sinto meu estômago se contorcer.

- Você é linda, independente de uma, duas ou vinte e quatro marcas Aurora.


- Eu não sou perfeita Otto. - Não sou como Thalia. 


- Você é tudo que eu quero, e eu quero cada uma dessas cicatrizes também, porque estou apaixonado por elas.


- E eu por você.


- O quê ?


- Estou me sentindo exposta aqui - Digo cobrindo meus seios com os braços.


- Claro, está, escolhi este achando que você gostaria - Diz jogando o biquíni em cima da cama - Mas mesmo que eu não goste, você vai se sentir mais confortável com este. - Diz me entregando o maiô com a fenda.


-Otto...


- Entenderei se não quiser usar isso, para mim tudo bem, la embaixo tem uma loja de roupas, posso ir procurar uma calça se quiser  ou uma blusa, mas não gostaria que o pano da calça que eu trouxer se se prenda num coral, não é uma questão de vaidade querida, mas de segurança.


- Onde vamos ?


 - Já disse que é surpresa.


- Não precisa da calça - Jogo o maiô na cama, ele é tudo que que quero, se ele me acha linda o resto do mundo pode explodir, eu não ligo. Pego o biquíni e o encaro. - Acho que vou com esse.


- Não precisa usar isso só pra me agradar, hoje é seu dia de...


- Eu gostei desse senhor Brown - Digo cortando-o e indo  para o banheiro.


- Eu também - Ouço-o dizer quando fecho a porta.


- Você está provocante.


- Obrigada, eu acho. - O Encaro, ele está de bermudas e camiseta branca, ele me entrega um óculos de sol e me força a sentar na cama, ele passa protetor solar em mim e acaricia cada uma das minhas marcas, visto o shorts branco e calço uma sandália que estava escondida dentro da mala. 

   Quinze minutos depois descemos para o saguão, damos a volta na piscina, ele está me levando para a praia. Dois homens grandes guardam o portão que dá acesso ao mar e nos deixam passar. Olho ao meu redor e não encontro ninguém, está deserto.

- Onde estão as pessoas ?


- Hoje não vão estar aqui.


- E como tem tanta certeza ?


- Porque eu aluguei a praia  só pra você  e eu


- Você fez o que ?


- Vamos - Diz me puxando para a esquerda, até um pequeno pier onde uma lancha branca nos espera com um homem vestindo  bermudas pretas dentro. Ele me ajuda a entrar e Otto vem em seguida, o homem sai do barco e Otto vai para o volante a lancha ganha vida e ele acelera.


     O azul da água cristalina e a brisa leve em meu rosto me fazem pensar por um breve instante que estou voando, Otto dirige até uma rocha enorme que parece um aro, ela se torna gigante a medida que nos aproximamos, passamos pelo centro aro e ele avança por um corredor de pedras até chegarmos numa área ampla cercada por roxas formando um muro alto, dando passagem apenas para alguns raios solares entrarem. 

    O meio a  água cristalina cercada pelo paredão parece uma piscina dentro do mar, de onde estamos, no centro,  da pra ver os corais próximos as roxas/paredes  e os pequenos peixes que os cercam o lugar, a vista é de tirar o fôlego.

- Estamos no meio do nada.


- Quase isso, diz sorrindo.


- E se morrermos, como faremos pra avisar para saírem das nossas contas no twitter ?


- Não vamos morrer hoje.


- Estou vendo peixes daqui.


- Está. - Ele se aproxima e me coloca em seus braços - Agora vai nadar com eles  -  Tento gritar, dizer que não sei nadar ou fazer com que ele entenda que não é  muito aconselhável mas quando percebo o impacto da a água nas minhas costas é mais forte, seguro com força seu pescoço enquanto a água salgada entra nos meus olhos e ouvidos e nos engole.

   
     Ele emerge e não solto seu pescoço, tento controlar minha respiração e coçar os olhos feridos com a água salgada.

- Vamos querida, veja os peixes.


- Eu não sei nadar, quero voltar pra lancha


- Como ? - Pergunta sorrindo.


- Não é engraçado Otto, estou com medo!


- Venha, eu ajudo você,  apenas relaxe - Faço o que ele pede, sinto seus braços embaixo da minha cintura me erguendo - Está tensa e com medo de engolir muita água e afundar, isso faz seu corpo pesar, relaxe e só olhe para cima. - Faço o que ele manda e tento relaxar, e ignorar o fato que  estamos em mar aberto e que um tubarão pode entrar aqui. Otto faz meu corpo virar e e fico de barriga pra cima, estou boiando! E ele me manda abrir os braços - Da mesma forma que você estava deitada na minha cama no pólo - Faço, estico as pernas e abro os braços, sinto suas mãos no meio das minhas omoplatas e em minha cintura, ele me guia e me faz dar uma volta de trezentos e sessenta graus, lembro de Ashe no dia que fomos para Lori, quando perguntou se caíssemos numa nuvem com chuva morreríamos afogadas, me sinto numa nuvem com chuva e eu não estou me afogando. 


      O sol batendo no meu rosto e esquentando a água em minhas costas, é maravilhoso.  
    
    Otto para de rodar e segura minha mão, ele me coloca em suas costas, e nada comigo até os corais  perto das roxas, pede para que eu segure e fôlego e em seguida mergulhamos, tento me manter com os olhos abertos, ele se aproxima de uma das roxas e segura minha mão a levando em direção a um dos corais e me força a pegar uma roxa, ele força minha mão contra o buraco do coral e solto todo o ar dos meus pulmões, tento me afastar, subir a superfície e buscar oxigênio mas ele me impede, leva meu braço para perto da pedra e faz um sugestão com a cabeça, tento não pensar na idiotice que estou cometendo e coloco a mão dentro da fenda, sinto uma pequena pedra presa por um fio de metal, uma corrente, seguro com força no fio e ela sai de dentro do coral trazendo uma caixinha presta consigo, sinto meus pulmões arderem e ele me puxa para  a superfície e me abraça. Ergo a corrente para fora da água e uma esmeralda azul da cor do mar com formato de coração me encara de volta.

 - O coração do mar - Ele diz.

- É é lindo Otto.

- Abra a caixa.

- Mas como vou segurar o coração do mar ? Se cair perderei para sempre.

- Não, vamos descer e resgatar.

- Você é louco senhor Brown.

- O amor nos enlouquece querida, abra o presente.  - Coloco a corrente na boca, para ter certeza de que não cairá e abro a pequena caixa de camurça preta molhada,  um anel de rubi com formato de coração se mostra.

- Agora sim, você está com meu coração nas sua mão. - Paraliso com a joia, a retiro de dentro da caixa e a coloco em meu dedo do meio, porque ele está no centro da minha vida, dos meus pesamentos. - Gostou querida ? - Retiro o colar da boca e tento prendê-lo no pescoço e ele me ajuda, quando o sinto preso viro-me para ele. 

- Eu amei, assim como amo você.

    Ele sorri e me beija, passamos algumas horas na gruta, Otto me ensinara a flutuar e nadar, acho que aprender a nadar foi um dos meus presentes, quando retornamos a lancha ele saca o celular e tira alguma fotos, não reclamo, também quero lembrar de cada detalhe deste dia. 

     O sol está se pondo quando retornamos para o hotel, visto daqui, é o por do sol mais lindo do mundo, Otto parou a lancha no meio do mar e fez um vídeo de nós dois no por do sol, está completamente escuro quando chegamos a praia, enquanto passamos pela piscina, algumas lanternas foram acesas, me fazendo lembrar das luzes do aniversário de Jocelyn, ele segura minha mão, seus dedos longos e frios por causa da água me trazem para o presente, quando chegamos no quarto ele me pede para tomar banho primeiro, e eu permito, envio algumas fotos para tia Sara e para Margo, Otto está parado apenas de toalha na porta do banheiro e tento não reparar em seu corpo, pego o shorts preto e o maiô e vou para o banheiro, entro no boxer e retiro o biquíni, observo as minhas pernas, lembro que deixei o shorts na lancha enquanto nadávamos, tento não pensar nele e entro embaixo do chuveiro.   

      Tento ao máximo retirar todo o sal do meu cabelo e do corpo, estou me secando para entrar no maiô quando ele bate na porta.

- Não demore.


- Vamos jantar no restaurante do hotel Otto vai ter comida quando chegarmos.

- Pretende ir com roupa de banho ? 

- E minha única opção - Digo olhando para o maiô e o shorts pretos pendurados na porta. 

- Está de toalha ? 

- Por quê ? Pretende entrar ? 

- Não, você precisa sair desta vez. - Retiro a toalha da cabeça e envolvo uma em meu corpo, destravo a porta e encontro o quarto completamente escuro, algumas velas foram acesas nos cantos das paredes, e colocadas sobre os móveis do lugar. Otto está encostado na porta da varanda usando um smoking  preto e uma gravata borboleta preta, parece um modelo e não um agente de segurança capaz de matar. 

- Então pretende me levar ao Oscar ? Porque eu nunca fui. 

- Não costumo frequentar esse tipo de festa, mas o evento que estamos prestigiando hoje é mais importante que uma distribuição de estatuetas; 

- E que evento seria ? 

- O aniversário da minha estrela - Ele pega minha mão e a leva até sua boca.

- Você está lindo Otto.  

-Trouxe algo para você, venha. - Otto coloca suas mãos em meus olhos e me leva até o outro lado do quarto e paramos.  Ele me permite enxergar, e vejo a cama que está repleta de velas e pétalas de rosa, em cima das pétalas sobre a luz das velas um vestido longo vinho com um decote em concha e algumas fendas nas laterais. - È seu. 

- Mas, achei que... 

- Quero que use este junto com o colar e o anel.

-Mas.. 

- Deixarei que se troque, estarei na varanda. - Ele sai e o vejo se trancar no escuro da varanda, me aproximo do vestido, o tecido é parecido com o que usei na festa de Jocelyn, entretanto este é mais leve. - Pego o vestido e o ergo, uma fenda se abre e deixa de fora a maior parte das costas, é decorada com cristais brancos. 

     Ao lado do vestido encontro um par de lingeries pretas, coro pensando na possibilidade dele as ter colocado aqui propositalmente, pego a lingeries e as vesto, abro o zíper do vestido e o ergo, ele se prende em meu corpo.  

     E apertado umbigo para cima e deixa meus seios avantajados, vou até o espelho do banheiro viro-me de costas, percebo os cristais ao redor da fenda que chega perto do meu bumbum deixa minhas marcas a mostra, coloco meus cabelos sobre a fenda e viro-me de frente, o tecido longo dá ao vestido um pouco de volume e no chão ele se acumula. 

   Retorno ao quarto e perto da cama um par de sandálias altas cor de prata está quase escondida, as trago para fora e as calço, olho no espelho da penteadeira e me sinto triste por não ter um batom, dou uma última olhada na mala de Jocelyn como milagre encontro um brilho labial nude. 

     Escovo meu cabelo e o deixo solto, pego meus presentes e os coloco, o colar se destaca no vestido e o anel, em meus dedos agora bronzeados, vou para a varanda o encontro encarando o mar, bato de leve no vidro e ele se vira para mim, Otto me encara e sorri, ele se aproxima e coloca uma mecha do meu cabelo atrás de minha orelha e em seguida toca meu queixo, o erguendo e fazendo-me olhar dentro de seus olhos. 

- Minha princesa - Coro, lembrando do dia em seu quarto - Espero que esteja com fome.

- Estou faminta.

- Está maravilhosa minha Aurora.

- Não tanto quanto você.

- Está mais, mas por mais que eu adore minha visão, precisamos nos apressar ou irão pegar as reservas - Coloco meu braço enlaçado no dele e vamos para o elevador, alguns turistas nos encaram como estivéssemos vestidos para um baile a fantasia, penso se não estamos extravagantes de mais mas Otto apenas sorri para mim, passamos pelo saguão e um exercito de fotógrafos está  a postos do outro lado das portas de vidro do hotel. Ouço Otto praguejar baixinho e tento me conter. 

- Como eles nos acharam ? - Pergunto, a última coisa que preciso agora é de uma primeira página repleta de boatos sobre minha noite com Otto. 

- Alguém daqui deve ter avisado a imprensa.

- Como chegaremos até o carro ? 

- Como todos fazem querida - Otto me puxa para a porta e os flashes das câmeras nos cegam, ele abre a porta para mim enquanto os fotógrafos começam a gritar nossos nomes, pedindo que olhássemos  para as câmeras, Otto entra no carro e acelera deixando o hotel e os fotógrafos para trás.

    Ele dirige até um restaurante em frente para mar, algumas palmeiras estão iluminadas por refletores posicionados para cima. O manobrista leva o carro e fazemos o caminho para o restaurante pela floresta de palmeiras iluminadas, quando chegamos algumas mesas de madeira com abajures pequenos no centro dão ao local uma imagem de contos de fadas, o garçom nos leva até uma mesa do canto, escura com um abajur pequeno no centro, em cima de um espaçoso tablado de madeira que vai até próximo ao mar, é como um pier/restaurante, quase posso sentir a água em meus pés quando sentamos. 

- O que achou ?

- Estonteante.

- Estive nervoso, com medo de que não gostasse.

-È maravilhoso Otto, desde que chegamos essa palavra está sendo usada o tempo o tempo todo, o quarto, a gruta, o pôr do sol, meus presentes - Digo tocando no pequeno coração em meu dedo. 

- Queria que tivesse um aniversário incrível. 

-Ele está sendo, eu nunca poderia sonhar com algo tão incrível.

- Sentirei saudade desse sorriso.

- Quando vai partir ? 

- Amanhã.



sábado, 20 de fevereiro de 2016

Capitulo 56 - Marcas no Meu Corpo.




- E por que um baile do ensino médio o interessa tanto senhor Brown ? 


- Porque gostaria de tentar a sorte com a garota mais bonita da Laurents Franz senhorita.


- Tenho certeza que Lauren já tem um par.


- Lauren ? Por que eu iria com Lauren a algum lugar se você é a minha namorada ?.


- Você disse a garota mais bonita da Laurents Franz, tirando sua irmã e Margo, Lauren se encaixa nos seus requisitos.


- Estava falando de você meu bem. -Respiro fundo e tento controlar a vermelhidão em meu rosto - 
E então, você já tem um par ? 

- Eu... Bem, eu não estava pensando em ir. 


- Mas sua amiga está concorrendo.


- Sim está, mas acho que ela me perdoaria no futuro. 


- Alguém já convidou você ? 


- Eu estava morta Otto, ninguém quer levar um zumbi ao baile.


- Então você não vai ? 


- Não.


- Eu nunca fui a um baile senhorita.


- Sinto muito senhor Brown, mas talvez em algum outro momento. 


- Claro. - Otto fecha o sorriso e entra a direita, no parque.


- Esse não é o caminho.


- Precisamos passar num lugar antes.


- Que lugar ? 


- Um possível trabalho escravo.


- Num parque ?


- Não necessariamente - Ele dirige por um corredor de árvores com as folhas verdes simbolizando a primavera,  no final uma casa de madeira com várias margaridas e rosas brancas cuidadosamente plantadas na entrada. 


- Trabalho escravo numa floricultura ? -  Pergunto encarando o chalé com aparência aconchegante, galhos de madeira escura se emolduram nos vidros da porta e das janelas como se fossem raízes. 


- Deixe a mochila e as flores, vamos checar o local - Faço o que ele pede e com cuidado, abro a porta do carro,  coloco meu buquê no banco que estava e o sigo. 


   Ao longe é possível ver um lago escondido por trás das árvores mas completamente visível daqui. Nos aproximamos nos degraus de madeira e ele puxa minha mão.

- Não esqueça de sorrir  - Assinto com a cabeça e Otto abre a porta, um pequeno sininho ganha vida anunciando nossa entrada no estabelecimento e uma luz forte é acesa sobre nós, um "Feliz Aniversário" é dito em uníssono.


     A nossa frente Jocelyn, Margo, tia Sara, Ashe, Joana, Noan, Miranda com a perna enfaixada e a agente Meson sorriem. Encaro Otto que exibe um sorriso escancarado. 


- Feliz aniversário querida - Ele diz me abraçando, Otto me da um beijo na testa e depois se afasta, Ashe corre até nós e agarra minha cintura. 


- Roora! Parabéns! - A abraço e agradeço, assim com abraço cada uma das pessoas no local, até Miranda, que parece de bom humor.


    O que deveria ser uma floricultura, na verdade, é um pequeno restaurante, rosas estão nos lustres, dando a falsa impressão de serem feitos apenas de flores, pétalas de lírios roxos estão no chão e no teto um céu com estrelas pintado de roxo e suas tonalidades me arrancam o fôlego, demoro alguns instantes para perceber que é a aurora boreal.


     Ashe agarra minha mão e me leva até o meio do local, uma mesa foi separada apenas para o bolo, de dois andares com uma cobertura preta e cheio de pontinhos brilhantes, fizeram um céu estrelado no meu bolo. 


   Em toda a minha vida nunca sonhei com algo assim, tão simples e tão perfeito, os meus tão aguardados dezoito anos e eu esqueci deles. 


  Parece que estou em transe, parada no tempo enquanto que tudo está avançando por meus olhos, as pessoas estão rindo e cantando parabéns para mim, Ashe é a mais animada de todos. 


- Faz um pedido Aurora! - Ela pede, encaro as duas velas enormes com o um e o oito a minha frente, é a primeira festa que ela vai se lembrar, e a minha também. Mas qual desejo me apegar se tudo que poderia desejar está bem diante de mim ? Não tenho nada a pedir, então a pego nos braços. 


- Faça um pedido Ashe.


- Mas é seu.


- São duas velas, você fica com o um e eu com o oito.


- Eu posso ? 


- É, você pode. - Ashe inspira fundo e eu também, nos aproximamos do bolo, vejo Otto sorrindo para mim, e penso num pedido, sopro a vela faço meu desejo de aniversário. 


  É a primeira vez que Noan e Joana se sentam conosco como convidados na mesa, ano passado comemoramos meu aniversário as escondidas na casa de Noan e agora, eles me fazem companhia numa comemoração lícita.


- Então não vou pra escola  hoje ? - Pergunto fazendo o sorriso de tia Sara aparecer.


- Disse a eles que você estava doente.


 - Miranda você morar com a gente ? 


- Não Ashe, vou voltar para as fronteiras com a agente Meson. 

- Aurora você não me disse que tinha amigas tão novas trabalhando no GOECTI. - Fala Jocelyn animada. 

- Mas eu ainda não trabalho no GECTI. - Diz Miranda escondendo a animação, ela está vestindo a farda azul da companhia e se comporta como uma verdadeira agente, talvez esteja querendo causar uma boa impressão diante da comandante. 


- E o que você faz ? - Pergunta Margo levemente interessada. 

- Machuca as criança! 


- ASHE! - Repreendo Miranda tentando disfarçar o vermelho que toma conta de seu rosto. 


- Mas é verdade! 


- Você vai deixar ela falar informações falsas a meu respeito na frente da comandante do GOECTI ?


- Hoje não sou a comandante do GOECTI senhorita, sou humildemente a tia de uma jovem de dezoito anos.


- Estamos num país livre Miranda, ela tem direito de expor sua opinião. - Digo tentando esconder o riso.


- Você ta criando um monstro. 


- Eu não sou monstro!


- Está se comportando como um, olha pra você, toda suja de bolo, que nojo. - Diz Miranda colocando a língua pra fora e fazendo uma careta. 


- Deixe-me ajuda senhorita. - Joana se levanta e retira Ashe da mesa.


- Eu não sou monstro Joana.


- Você não é meu bem - Consola Joana a levando até o banheiro. 


- Adotou mesmo ela ? -  Pergunta Miranda olhando para a taça. 


- Não, só até Charlie voltar.


- Você sabe que ela tá inventando um irmão né ?


- Que de fato se mostrou real, senhorita. - Diz Otto antes de mim. 


- Vimos fotos Miranda, Charlie existe. - Digo. 


 - Então não era delírio. 


- Nunca foi. - Digo tentando evitar lembranças maldosas do que fizeram com Ashe. 


- E onde ele está agora ? Por que não veio atrás da irmã ? - Pergunta Margo me encarando. 


- Vamos resgatá-lo...


- E confidencial. - Me corta tia Sara me lançando uma careta. Ninguém toca no assunto de Charlie ou Ashe, nem nada que indique alguma ligação com o GOECTI mas sei que ela quer saber mais, por isso me chamou para perto da janela quando tia Sara Otto e a agente Meson se retiraram da mesa. 


- Então, vocês vão buscar o irmão dela ?


- É. 


- Quando ? 


-Eu não...


- Olá, você não me conhece, sou a Jocelyn, prazer. - Diz se apresentando antes que eu termine minha resposta, agradeço aos céus pela entrada repentina de Jocelyn, mentir para ela não seria muito sábio levando em consideração o mal estar por causa da minha identidade, mas contar para Mirada  sobre uma missão confidencial do GOECTI também não seria nada inteligente levando em consideração o fato de que apenas o membros do conselho sabem dela, se bem que Miranda estava no dia da reunião e ouviu tudo sobre a operação Aurora ao Norte, talvez não seja tão confidencial assim. 


- É um prazer. - Diz Miranda tentando ser amigável, o que é uma surpresa já que ela se esforçava para ser detestável na presença de Érica e das outras. 


- O que houve com a sua perna ? - Pergunta Jocelyn encarando o ferimento. 



- Isso... Foi um tiro. - Responde Miranda com certo orgulho. Talvez o fato de ter levado um tiro em uma missão de GOECTI seja motivo de orgulho para ela, talvez para pessoas como Miranda, morrer em combate seja uma honra, assim como é para Otto e outros agentes. 


- Nossa, você foi assaltada ? 


- Não, estava em combate


- Que legal! Não a parte do tiro, mas você estar em ação, ajudando os inocentes.  


- É uma honra. 


- Como você não morreu ? 


- Sua amiga me ajudou, ela pra praticamente salvou minha vida.


- Eu não fiz isso.


- Entrou num tiroteio por mim, é claro que poderia dispensar a parte que você caiu sobre o meu machucado, mas eu estou viva, é o que importa, não é?


 - Infelizmente - Digo fazendo elas rirem, Jocelyn tenta arrancar de Miranda informações sobre como nos conhecemos e como é trabalhar no GOECTI enquanto Otto e tia Sara conversam num canto junto com a agente Meson, tento me aproximar e ouvir algum trecho da conversa quando sou puxada.


- Ei - Me puxa Margo antes que eu chegue perto.

- Oi.


- E então, deu certo, aquela coisa ? 

- Cheguei ontem a tarde, voltamos naquele lugar e resgatamos algumas meninas.


- Você ta brincando. - Ela diz sorrindo. 


- Não.


- Então aquela menina... - Ela aponta para Miranda conversando com Jocelyn, ambas animas, perto da janela onde eu estava a alguns instantes. 


- Miranda. - Digo. 


- Que seja, ela estava junto, ela foi foi com você ?

 - Sim.


- E você matou alguém ? 


- O que ? Miranda! Não! 


- Você é tão sem graça Aurora -  Diz sorrindo. 


- E você estranha. - Uma garçonete passa com algumas taças de champanhe em direção aos agentes e Margo tira duas taças, me entregando uma.  


- É seu aniversário, você merece. - Aceito a taça  - Um brinde a nós estranhas.


- A nós, estranhas - Digo batendo com o vidro da dela. 


- Ei, não esperaram por nós! - Jocelyn puxa duas taças de champanhe e dá uma para Miranda, puxando-a para junto de mim e Margo. - A aniversariante! - Grita Jocelyn fazendo todos levantaram as taças em minha direção, vejo Ashe ao longe com um copo de suco e Otto com uma taça d'água. 


- Essa é a parte que você diz alguma coisa querida - Diz tia Sara fazendo todos rirem, ergo a minha taça e repito a frase de Margo.


- Aos estranhos - Digo, fazendo todos demorarem seus olhares sobre mim e repetirem minhas palavras. 


- Eu lembro de você, estava no dia da mesa redonda de depoimentos, e então, ta doendo muito ? - Pergunta Margo encarando Miranda que cora de leve.


- Só um pouco mas estou bem. 


- Hora de ir - Diz Otto em minha orelha, sinto sua mão em minha cintura me puxando para trás, sinto seus lábios beijarem minha orelha, o gesto faz elas me encararem e se retirarem com sorrisos. 


- Mas não dá mais tempo de ir a escola. - Digo sorrindo. 


- Não vamos pra Laurentz Franz e você sabe, está na hora do meu presente. 


- Mas as flores não são... ?

 - Não. - Ele diz me cortando. - Esperarei no carro. - Otto se afasta e vai para a porta,  percebo  tia Sara nos olhando de longe e ela não me diz nada, apenas insinua com a cabeça para que eu o siga e me joga um " Divirta-se" . Aviso a Ashe que voltarei mais tarde, para evitar futuros desacertos e saio atrás dele. 


   O encontro encostado no capô do carro, como antes ele abre a porta do passageiro e em seguida volta para o lado do motorista.


- Onde vamos ? 


-  Pro litoral.


- Mas fica a três horas daqui.


- Está autorizada a tirar um cochilo - Diz dando a partida. Otto não diz muita coisa, manhentem-se calado enquanto Bach ainda toca no rádio, tento ficar acordada mas acabo me rendendo, e fecho os olhos. 

- Acorde querida - Ele chama, sinto seus dedos gelados em minha bochecha e abro os olhos, um rapaz de lindos olhos castanhos e cabelo preto bagunçado com um sorriso largo no rosto me encara -  Chegamos, mas não pega bem pra mim chegar com você dormindo, vão achar que estou sequestrando você.


- Mas estou cordada - Digo tentando sufocar o bocejo.


- Claro - Diz sorrindo, ele dá partida e o carro volta a andar, seguindo por uma trilha de tijolos vermelhos. Otto dirige até um resort com coqueiros na frente e uma fonte que mais parece uma piscina de pedras brancas com três pratos gigantes fazendo uma intersecção no meio. A visão é de tirar o fôlego.


- Achei que estávamos indo pro litoral. - Digo baixinho.


- Estamos no litoral querida - Ele estaciona e um funcionário abre a porta para mim, pego minhas flores e minha mochila e pulo do carro, o manobrista entra logo em seguida sinto seus dedos segurando minha mão, como se já estivesse a nossa espera, a recepcionista nos entrega um cartão e ele me leva pro elevador.



- Já esteve aqui antes ?  - Ele pergunta, quando vejo nossos reflexos nas portas do elevador, ele retira a alça da minha mochila e a coloca no ombro.


- Não, e você ? 


- Costumo vir aqui quando quero fugir.


- Se esse é o seu lugar de fuga, por que me trouxe ?


- Porque você é a única pessoa no mundo inteiro, que não quero fugir - As portas do
 último andar se abrem e vamos para a suite no final do corredor, Otto joga minha mochila na cama e me leva para a varanda, ele abre as enormes portas de vidro e tento não pirar, em baixo, uma piscina de um quilômetro toma de conta dos fundos do hotel, no centro do reservatório um pequeno aglomerado de terra com dois coqueiros se mostra, uma réplica de uma pequena ilha em alto mar, várias espreguiçadeiras estendem-se ao longo da piscina, ao redor palmeiras tomam de conta deixando o ambiente parecido com uma floresta tropical, logo atrás o mar se estende, uma praia particular. 

- Isso é... 


- Quase tão maravilhoso quanto você. 


- Eu não sou...


- Sim, você é. 


- O que viu em mim ? 


-  Uma garota especial, que me fez acreditar em milagres, agora troque-se, vamos dar um mergulho. 


- Eu não trouxe biquíni, nem mesmo uma roupa - Me pego olhando para o uniforme da Laurentz Franz, seguro a saia com a ponta dos dedos e encaro minhas meias. 


- Jocelyn cuidou disso  - Otto toca minhas costas e aponta para a mochila preta em cima da cama ao lado da minha. O celular dele faz barulho dentro da calça e ele checa o monitor do aparelho em seguida olha para mim. - Um minuto 
- Ele pede indo para a outra varanda e se tranca.

   Ignoro esse pequeno gesto questionável e vou até a mala, encontro um biquíni azul escuro, cintura alta com tiras nas laterais ligando a frente a trás do biquíni, a parte de cima um top torcido com bojo interno e alguns cordõezinhos.


   Coloco-o cima da cama e tiro um maiô com um fenda extravagante, coberto na parte de trás mas deixando o meio dos seios até o umbigo de fora, encontro também um shorts branco e um shorts preto, nenhuma blusa, me afasto da mala e tento respirar. 


   Não posso vestir isso, não posso deixar que ele veja as marcas no meu corpo.

- Aurora, tudo bem ?


Leia o Primeiro Capítulo.

Capítulo 1. Uma Face Conhecida.

        Há alguns anos o país de Lori conheceu a história de uma amizade verdadeira. Graças a coragem de uma garota de dezesseis anos, outr...